Artigo publicado no GAZETA DO POVO em 14/07/2016
O artigo abaixo me foi sugerido por um amigo...gostaria de compartilhar.
De Alexandre Nigri
Verdadeiras
transformações vão ocorrer, fazendo desaparecer indústrias e segmentos inteiros
para dar lugar a novos projetos que por vezes não passam de um software
São 19h20 em Palo Alto. O sol continua
efervescente no local em que o homem e, ao que vemos, a natureza se encontraram
para desafiar seus limites. No coração do Vale do Silício, gigantes do mundo
moderno como Facebook, Apple e Google; promissoras startups; e universidades,
como Stanford, trabalham na definição de projetos que serão provavelmente novos
paradigmas da matriz tecnológica que impactará a todos nós mundialmente.
No auditório
de uma dessas importantes universidades já se encontra presente um seletíssimo
e bem-sucedido grupo de jovens empresários, de mais de 27 países, composto por self-made men (milionários que se fizeram do nada),
ou herdeiros da poderosa casta mundial de tomadores de decisão, em busca das
maiores fontes de riqueza da nova era. A tecnologia da informação e da
eficiência.
Um jovem
engenheiro indiano que se acerca é o primeiro palestrante. Ouvidos e sinapses a
postos para o muito do que ali se ouvirá e do quão disruptivas (palavra que
ouviremos muito daqui por diante e que significa mudança de hábito e quebra de
barreiras) serão tais propostas que somam claras evidências de estarmos vivendo
a quarta revolução econômica industrial da história. Depois da revolução do
carvão e do aço, da eletricidade e dos processos, a revolução do saber, a
revolução da eficiência.
As
apresentações se seguem com diferentes especialistas vindos de centros de
excelência tecnológica como Cingapura, Tel-Aviv, Santiago – e do Brasil.
Apresentam suas projeções que se contrapõem a todo o establishment industrial que conhecemos. Como já
mencionado largamente, sabemos que o Airbnb, a maior empesa de hotéis do mundo,
não tem nenhum hotel. A Uber, maior empresa de táxis, não possui nem sequer um
táxi e abre asas para o mercado aéreo. O Facebook, maior empresa de conteúdo,
não gera conteúdo, mas tem relevância até em âmbito jornalístico. A maior
empresa de varejo do mundo, a Amazon, não tem estoque.
O filósofo Confúcio, séculos antes de
Cristo, disse que para entender o presente precisamos conhecer o passado. Pois,
conforme exemplifica o cientista e professor Robert Goldman, em um passado não
tão longínquo, em 1998, as Indústrias Kodak tinham 170 mil empregados e vendiam
85% de todo o papel de foto mundial. Em poucos anos, o modelo de negócio dessa
importante empresa foi defenestrado e a companhia foi à bancarrota. Alguém
imaginava, em 1998, que três anos mais tarde quase ninguém mais usaria câmeras
fotográficas com papel de foto?
Verdadeiras
transformações vão ocorrer, fazendo desaparecer indústrias e segmentos inteiros
para dar lugar a novos projetos que por vezes não passam de um software. Em
2018 o primeiro carro sem motorista será apresentado ao público, e estima-se
que em 2020 toda a indústria automotiva deverá sofrer o início da
disruptividade do segmento; afinal, para que possuir um automóvel, manter uma
garagem, pagar impostos e manutenção se você poderá apenas ligar e pedir um
carro todinho seu e ainda dispor de todo o tempo do mundo para trabalhar até
seu destino?
Mas, se
vamos ter menos garagens, o padrão construtivo das residências e da vizinhança
deve mudar; afinal, com menos área construída nos edifícios, observaremos uma
diminuição substancial na frota de automóveis das metrópoles, o que também
impactará em um menor adensamento das vias e no modelo atual das cidades. Com
menos trânsito, poderemos morar mais longe, porém melhor e mais barato;
chegaremos mais rápido a nosso destino, gastaremos menos também com custo de
transporte, substituindo o automóvel a combustão pelo elétrico, e poderemos
manter (finalmente!) com segurança os olhos no celular sem perigo de vida – e
de multa!
A segurança é um tema fundamental
na evolução da nova era. Índices de colisão são estimados em prováveis 100
vezes menos com os automóveis sem motoristas, o que causará impacto disruptivo
na indústria de seguro, já tão afetada atualmente pelo segmento de seguridade
na saúde, resultado da longevidade maior que ganhamos todos os anos com o
avanço da medicina e a engenharia genética. Falando em longevidade, nos
próximos 20 anos especialistas estão afirmando que poderemos viver mais de 110
anos, o que causaria colapso no sistema de previdência social de todos os
países, o que tornaria este sistema inviável.
Teremos uma fundamental melhoria
na qualidade de vida com a diminuição da poluição sonora e do ar, haja vista as
novas tecnologias e a decadência da indústria do petróleo. Imagine, apenas em
São Paulo, 120 mil táxis que circulam sem itinerário sendo substituídos pelo
Uber e pelo Cabify; ou a economia de insumos com menos construções, menos estradas,
menos hotéis, que agora são substituídos também por tecnologias que conectam
hóspede e anfitrião. Um mundo novo de eficiência.
No comércio, o crescimento
exponencial do e-commerce provocará o fechamento, até 2030, de metade dos
shopping centers dos EUA, que desde a crise de 2008 apresentam elevados índices
de vacância. Não obstante, o comércio on-line segue crescendo e o dinheiro vai
trocando de mãos.
E, para que todo o mundo esteja
conectado, o projeto Google Loon está levando internet para todos, nos lugares
mais remotos do mundo, através de balões para o espaço com
super-retransmissores. Há softwares que aprendem sozinhos a fazer petições para
advogados e a buscar casos análogos com eficiência 82% maior que a mão humana.
No campo da inteligência artificial, um software israelense, em alguns segundos
de conversa, identifica o estado emocional através de linguagem corporal e voz
do interlocutor.
Na engenharia genética, algumas
empresas já têm a tecnologia para utilização de chips na corrente sanguínea
para o diagnóstico em tempo real de probabilidades de desenvolver doenças como
câncer, Alzheimer, osteoporose e diabetes. Também neste campo, sabe-se que
através de mutação genética, e com a retirada do gene CCR5, o embrião poderia
nascer imune ao vírus HIV. Empresas estão fabricando por meio de engenharia
genética leite sem a vaca, hambúrguer de carne produzido em laboratório.
Estas e tantas outras
transformações ocorrerão em curtíssimo e médio prazo, embora, apesar de tais
conquistas serem aparentemente importantes, cientistas políticos e estudiosos
demonstram, não sem razão, preocupação em especial com a capacidade de geração
de novos empregos. Pois vale lembrarmos uma vez mais do pensador chinês
Confúcio e observar que, em algum momento da história, quando Thomas Edison
acabara de inventar a lâmpada na Grande Nova York, os encarregados de acenderem
o fogo das lamparinas ao pôr do sol perdiam seus empregos pelo uso da nova
tecnologia, quase que simultaneamente ao momento em que trabalhadores eram contratados
pelas novas fábricas de lâmpadas elétricas. De maneira similar, os sindicatos
de cuidadores de cavalos e carroceiros protestavam em frente às inovadoras
fábricas de veículos contra demissões ao mesmo tempo em que desempregados eram
qualificados para as linhas de montagem das primeiras fábricas de automóveis da
Ford Motor Company.
Esta questão tão atual vem realmente gerando
inquietudes, muito embora notemos uma repetição de padrão histórico dos ciclos
econômicos. Estamos vendo o ápice de um ebuliente momentum no qual provavelmente o economista mais
importante de todos os tempos, Adam Smith, nos explicaria que as forças da mão
invisível dos mercados tratarão de acomodar oferta e demanda de trabalho.
Não sabemos ao certo. Apesar da
crença de que estamos vivendo de uma nova era de eficiência plena, em que
gastamos menos tempo e dinheiro pelo mesmo consumido, a eficiência de modernos
softwares junto ao big data mundial permitirá a redução sistêmica da corrupção
na sociedade, e as oportunidades surgirão para aqueles que possuem apenas um
notebook e uma conexão de internet – o que nos faz pensar em uma era magna de
redistribuição de riquezas sem precedentes. Ainda assim, não sabemos ao certo.
O que, sim, sabemos e temos
certeza é de que entre cada pôr do sol incandescente de Palo Alto e o nascer de
um novo dia em algum dos centros de excelência tecnológica do outro lado do
mundo (como Tel-Aviv), a qualquer momento, mais alguma novidade disruptiva
aparecerá em nossas vidas.
Alexandre Nigri é administrador de empresas com
especialização em real estate. É CEO da MCP Realty, vice-presidente do Grupo
Maxinvest, sócio da incubadora click28 e membro do conselho de administração e seed investor da startup
PagPouco.com.
Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/a-quarta-revolucao-industrial-5g17lx37dauiy699evgz0a9jg
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