Laboratórios
de 14 países participam nesta semana, no Rio de Janeiro, da 20ª Reunião Geral
Anual da Rede de Produtores de Vacinas dos Países em Desenvolvimento (DCVMN, na
sigla em inglês), organizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Além de
inovações tecnológicas, gargalos para atender à crescente demanda global e
questões regulatórias estão entre os temas que serão discutidos.
O evento começou hoje (21)
e terá amanhã a sua sessão de abertura com representantes do Ministério da
Saúde, da Fiocruz, da Organização Mundial da Saúde e da Organização
Pan-americana da Saúde. Está prevista a presença de 59 especialistas da área ao
longo da reunião anual, que continua até quinta-feira.
O vice-presidente de
Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, destaca que a produção
dos países em desenvolvimento é importante para garantir o acesso da população
às imunizações, já que as vacinas oferecidas por esses laboratórios são opções
mais baratas que as das grandes farmacêuticas sediadas em países ricos.
"É importante que a
gente tenha a noção de que essa produção local acaba garantindo acesso de
populações a esses insumos de uma forma mais economicamente sustentável",
afirma Krieger. "É um dos poucos mercados do mundo em que a demanda é
maior que a produção. Principalmente para alguns tipos de vacinas".
Os gargalos ficam mais
evidentes em situações como a dos surtos de sarampo enfrentados por diversos
países do mundo, incluindo o Brasil. Por ter uma produção local forte, liderada
por Bio-Manguinhos e pelo Instituto Butantan, o país está menos vulnerável,
avalia o pesquisador.
"Chega a ser
estratégico do ponto de vista nacional garantir que a nossa população tenha
acesso a esses importantes insumos", afirma ele.
Bio-Manguinhos fornece ao
Ministério da Saúde as vacinas tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), a
tetravalente viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela), a rotavírus humano,
a febre amarela, a pneumocócica 10-valente conjugada, a poliomielite 1 e 3
oral, a poliomielite inativada, a Haemophilus influenzae b (Hib) conjugada e a
DTP (difteria, tétano e coqueluche) e Hib combinadas. Dentre essas vacinas, a
de febre amarela e a tríplice viral têm a produção completamente nacionalizada
em Bio-Manguinhos, enquanto as demais são produzidas na unidade em processo de
transferência de tecnologia de laboratórios parceiros.
Do Butantan saem seis
vacinas para o Ministério da Saúde. Hepatite A, hepatite B, DTPa, Human
Papiloma Virus (HPV) e Raiva inativada são produzidas no instituto por acordos
comerciais com farmacêuticas parceiras que incluem a transferência de
tecnologia para o instituto. A Influenza trivalente é produzida inteiramente no
Butantan.
Fundador do grupo de
países em desenvolvimento, o Brasil tem um Programa Nacional de Imunizações que
se assemelha mais ao de países desenvolvidos pela quantidade de vacinas
ofertadas gratuitamente, analisa o vice-presidente da Fiocruz. O país distribui
anualmente mais de 300 milhões de doses de vacinas, soros e imunoglobulinas.
"Em alguns países, a
industria está crescendo muito, como é o caso da China e da Índia, mas estão
muito longe de ter a cobertura que temos e o número de vacinas que são
ofertadas no nosso sistema público de saúde".
Mesmo assim, a troca de
experiências com outros países em desenvolvimento é importante para a inovação
e para alinhar estratégias frente a desafios como o movimento antivacina, que
ainda é mais representativo em países desenvolvidos. "Aqui, é mais
importante garantir o acesso a essas vacinas", acredita ele.