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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Relatos de farmacêuticos(as) vacinados(as) contra a COVID-19.

 

E continuam chegando  novos depoimentos de farmacêuticos (as) que receberam a vacina contra a COVID-19. Abaixo, amigos(as) que aceitaram falar de suas experiências. Uma ex-aluna, que muito me orgulha pelo seu trabalho e dois colegas que conheci nas lutas em defesa do SUS e da Assistência Farmacêutica. Para ver os outros depoimentos já publicados, CLIQUE AQUI

Mais uma vez, minha gratidão aos que aceitaram nosso convite. Continuamos à disposição para divulgar outros depoimentos! Envie seu email para oblogdomarcoaurelio@gmail.com.




"Sou Daniela Lopes, farmacêutica formada pela UNISANTA, pós graduada em Acupuntura  
UNILUS e pós graduada em Prescrição Farmacêutica e Farmácia Clínica pela UNISANTOS. 

Atuei em drogaria por 5 anos e em 2017 ingressei na área hospitalar, a qual sou apaixonada. Em março de 2020 assumi a coordenação e responsabilidade técnica da farmácia do Hospital São Lucas de Santos, iniciando o maior desafio da minha carreira: o cargo de gestão, exatamente no momento em que a pandemia de covid-19 chegava ao Brasil. Materiais hospitalares e medicamentos fundamentais para garantir a sedação e a ventilação mecânica adequada aos pacientes, EPI’s, bem como outros itens se tornaram escassos no mercado do mundo inteiro. A cada dia, enfrentava uma batalha na busca por suprimentos. O apoio da equipe médica e diretoria foi fundamental nesse processo. Foram muitas estratégias, muitos planos de ação  para que tudo desse certo e eu evolui muito como profissional e também como ser humano diante disso tudo. 

Há um ano nessa “guerra”, já vi muitas vidas escapando pelas mãos dos médicos, vi famílias chorando e sofrendo. Chorei após muitos plantões, pedindo a Deus muita luz para os profissionais da saúde. 

Mas, infelizmente, a verdade é que NÃO existe cura para a COVID-19. Não há tratamento específico. Exatamente por isso que as vacinas contra covid-19 representam a grande esperança para o fim da pandemia. 

A esperança de poder “respirar em paz”, de sentir o vento bater no rosto sempre que quiser. De poder abraçar sem medo. 

A esperança de poder trabalhar, estudar, passear...sem o risco de perder a vida para


um “vilão” invisível. 

No hospital onde trabalho, a vacina chegou no “dia do farmacêutico” e eu me emocionei muito!

As vacinas são seguras, são frutos de muitos estudos e dedicação de colegas farmacêuticos e outros cientistas. 

Eu tenho muito orgulho em poder colaborar com a ciência, já que faço parte do primeiro grupo a ser vacinado.

#vacinasim para todos é o que eu espero. 

#vacinasim para evitar tantas mortes.

#vacinasim para a volta do abraço.

#vacinasim para salvar o mundo. 

Estou vacinada, por mim e por você. Faça a sua parte, quando chegar a sua vez: vacine-se! Por você e por todos. 

#vacinasim #vacinaparatodos #abraceavacina #vacinasalvavidas



"Sou Jaqueline Ferreira Bento, farmacêutica especialista, Enga Sanitarista e Ambiental. Trabalho  na área hospitalar em Niterói  e na Coordenação da Vigilância em Saúde em Eng° Paulo de Frontin - RJ .

Estou muito feliz por ter a oportunidade de participar como profissional de saúde, Farmacêutica, voluntária na linha de frente contra o COVID19, contribuir para um mundo melhor e a qualidade de vida das pessoas do Brasil e do mundo. 

Fui voluntária da vacina Coranavac #Butantan.  No dia 29/01, na Policlinica Sérgio Arouca em Niterói/RJ,  houve a quebra do cegamento e eu estava no grupo placebo. Agora, VACINADA

 Muito feliz por poder ter ajudado. Essa vacina é uma dose esperança para o mundo. Sensação de dever cumprido!

#SUS #Ciência"



"Sou 
Masurquede Coimbra e atuo na área de saúde pública. Começamos 2020 com a notícia de um vírus causador de pneumonia respiratória na China, deixando as autoridades sanitárias apreensivas, ainda não era possível identificar o agente etiológico. Acompanhando os canais de informações diariamente, lembrei-me do filme ‘Contágio’, a epidemia de H1N1 de 2009 e a de SARS de 2012, comentei com minha esposa farmacêutica, que talvez o que estava acontecendo na China naquele momento pudesse ser o que pesquisadores, há alguns anos já haviam alertado, sobre a propagação de um agente etiológico de grande impacto para a saúde pública mundial.

O número de pessoas adoecendo e óbitos na China só aumentava, o Governo Chinês construiu um enorme hospital em poucos dias, vendo as notícias vinculadas internacionalmente, tive a certeza do que tinha comentado, logo teríamos uma endemia ou pandemia mundial, então em março veio a decretação de Pandemia Internacional de SARS-COV pela OMS. A vida diária mundial iria mudar muito.

Em agosto vejo a busca para voluntários no ECR da vacina em produção no Instituto Butantã e de uma farmacêutica Chinesa, que iria produzir a Coronavac no Brasil, me inscrevi e não fui selecionado. Novo anúncio em setembro solicitava voluntários da área da saúde para as vacinas, me inscrevi e novamente não fui chamado, a partir de uma colega que participava do teste consigo a oportunidade de participar. Porém, no dia dos testes clínicos e administração da vacina, após testes de RT PCR e sorológicos, tenho um teste positivo, sensação de pavor e preocupação com a família. Imediatamente todos foram realizar os testes de RT PCR que tiveram resultados negativos, mas fui retirado do estudo. Alguns dias depois, recebi uma chamada da pesquisa do Hospital São Lucas da PUCRS, pois poderia ser um falso positivo. Assim, fui novamente incluído na pesquisa e tive a administração da “primeira dose de Coronavac”, poucos episódios de efeitos colaterais, voltei após 15 dias para a aplicação da “segunda dose” e dezembro chegou.

A vacinação em diversos países começa, mas infelizmente o Brasil não é um desses, se delonga até o fim de janeiro quando as primeiras doses começam a ser administradas aos profissionais de saúde, uma enfermeira de São Paulo, voluntária no desenvolvimento da vacina foi a primeira.

Na consulta de rotina antes do natal, como havia iniciado à vacinação em alguns países, acreditávasse que o ECR seria aberto e então iria descobrir se estava no Braço Controle “na verdade placebo” ou se havia sido contemplado com a vacina, mas isso não ocorreu nesse momento.

Inicia-se 2021 com a esperança do Brasil iniciar a vacinação de sua população e no dia 25 de janeiro recebo uma mensagem da equipe do ECR perguntando se tinha sentido algum sintoma diferente e solicitando meu comparecimento no hospital no dia seguinte para abertura do resultado do ECR.

Então, dia 26 de janeiro compareci ao Serviço de Pesquisa Clínica do Hospital São Lucas da PUCRS para saber o resultado, e mesmo tendo sentido alguns sintomas, eu estava incluído no Braço do ECR Controle, dito Placebo, logo após a informação do resultado, fui informado que naquela mesma hora receberia a primeira dose da vacina Coronavac e que no dia 12 de Fevereiro deveria fazer a segunda. Foi uma grande sensação de alegria saber que já iria ser realmente vacinado.

Assim, fui levado à sala de enfermagem para aplicação da primeira dose da Coronavac


“verdadeira” muito feliz. A enfermeira fez aplicação sem nenhuma dor, foto para registro, aguardei 30 minutos protocolares para observação de reações adversas à aplicação. Como não apresentei nenhuma reação, fui embora com a sensação de metade da tarefa cumprida e tendo certeza que mais uma vez a ciência tinha prevalecido, mesmo após muitas tentativas de descréditos com tratamentos terapêuticos sem evidências científicas concretas para a Covid-19 de forma preventiva ou não, pois já na 6ª série do antigo 1º Grau se estuda que doença viral, preventivamente, só com vacina, como é para a Poliomielite e o Sarampo até hoje.

Então, 12 de fevereiro, pouco mais de 15 dias após a primeira, foi aplicada a segunda dose. Sempre muito bem atendido no Serviço de Pesquisa Clínica do São Lucas. Após, realizou-se uma consulta sobre como foram os dias após a aplicação da primeira dose, algum sintoma diferente? Reação à aplicação da vacina? Pude dizer com euforia: não senti nada.

Portanto, estar agora vacinado, mesmo ainda sem saber o tempo da imunidade é prazeroso. Visualizar tantos profissionais de saúde envolvidos na pesquisa da vacina foi revigorante, permitiu ter certeza que a ciência, conhecimento e tecnologia são importantes para vencer a Pandemia, e ainda, colaborar enormemente para o desenvolvimento da sociedade.

Muito obrigado a todos os profissionais de saúde, pesquisadores e cientistas que atuaram nessa assustadora Pandemia, e que com muito merecimento foram lembrados por mais de 3000 joalheiros no Hand Medal Project com a medalha da mão, que simboliza a ajuda, apoio e acolhimento". 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Manifesto pela vacinação de farmacêuticos(as) e colaboradores das farmácias.

Extraído do site: SBFFC

Título original: "CFF e SBFFC unem forças pela vacinação de farmacêuticos e colaboradores das farmácias"


"Em manifesto, as entidades reivindicam dos gestores estaduais e municipais que o plano de operacionalização da vacinação seja cumprido.

O Conselho Federal de Farmácia e a Sociedade Brasileira de Farmacêuticos e Farmácias Comunitárias (SBFFC) publicaram, nesta terça-feira, 26/01, um manifesto às autoridades de saúde e gestores públicos. No texto, as entidades reivindicam que seja assegurada pelos gestores estaduais e municipais a prioridade para farmacêuticos e outros colaboradores das farmácias públicas e privadas, conforme o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 . O documento foi encaminhado aos conselhos nacionais de Secretários de Saúde (Conass) e de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), aos gestores estaduais e municipais e à Frente Nacional de Prefeitos. “As farmácias prestam serviços essenciais, e por isso permanecem de portas abertas desde o início da pandemia. Farmacêuticos e demais colaboradores estão expostos a um alto risco de contaminação, pois atendem toda a população, sem exclusão. E da mesma forma que outros ambientes de saúde, as farmácias sofrem com a baixa de funcionários provocada pela Covid-19”, argumentam.Durante a pandemia de COVID-19, o conceito de farmácia como estabelecimento de saúde, introduzido no país com a aprovação da Lei nº 13.021/14, tem sido bastante evidenciado. “Farmacêuticos e demais colaboradores da farmácia, assumiram o risco e enfrentaram desafios para manter as farmácias abertas, garantindo, não somente a dispensação e o fornecimento de medicamentos, mas também a educação em saúde e a prevenção ao novo coronavírus, a dispensação de medicamentos para síndromes respiratórias e a realização de testes rápidos para a Covid-19 de forma complementar à rede do cuidado e de atenção à saúde, entre outros serviços”, comenta o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João.A SBFFC e o CFF se solidarizam com os gestores públicos que reconhecem as farmácias e drogarias como estabelecimentos de saúde, sem precisar de legislação ou fiscalização para isso. E destacam o trabalho desempenhado pelos profissionais que nelas atuam, sempre dispostos a, dentro das suas possibilidades, cumprir as missões de relevância para a saúde dos cidadãos.  “A vacinação prioritária em farmácias (públicas e privadas) protege não só os farmacêuticos e demais funcionários destes estabelecimentos, mas os pacientes/clientes, incluindo cuidadores e idosos”, conclui Sueza Oliveira, presidente da SBFFC, ressaltando que as entidades reiteram o seu empenho em defender o acesso à vacina para todos os brasileiros".

Clique aqui e leia o manifesto na íntegra.




Fonte: SBFFC

FCFAS - Vacina é ciência que salva vidas!





 

sábado, 23 de janeiro de 2021

Farmacêutica...e voluntária para os testes da vacina contra a COVID-19.

Depois da aprovação pela ANVISA, dos dois primeiros pedidos de uso emergencial das vacinas contra a COVID-19 (CORONAVAC e ASTRAZENECA), muito se falou sobre o fundamental trabalho desenvolvido por profissionais farmacêuticos. Em toda a etapa para a disponibilização  das vacinas para a sociedade, que envolve desde a pesquisa até o relatório técnico apresentado pela Agência, farmacêuticas e farmacêuticos cumpriram seu papel, com forte relevância social. 

Existe um grupo no entanto, que particularmente acho que foi pouco citado nesse processo, formado pelos voluntários e voluntárias que se disponibilizaram para os testes clínicos sobre as vacinas. Homens e mulheres que acreditaram na ciência e se dispuseram a cumprir esse importante papel, dentre eles, farmacêuticos e farmacêuticas.

A partir desta postagem, vamos divulgar os depoimentos de outros(as) colegas que participaram como voluntários(as). Se é o seu caso, envie seu depoimento para oblogdomarcoaurelio@gmail.com. 

Abaixo, o depoimento de Marta Pereira, uma amiga farmacêutica de muito tempo, contemporânea de faculdade, que foi uma das voluntárias. Parabéns Marta. Muito orgulho de você.





"Eu estava tranquila, dando aula de farmacologia, quando iniciou a pandemia.

E começou a me incomodar estar assistindo as notícias, e não participar ativamente deste acontecimento histórico. Então após dez anos longe dos hospitais, resolvi trabalhar no hospital de Campanha do Guarujá. Acompanhei 86 óbitos pessoalmente, a falta de alguns materiais, a exaustão física e a emoção das altas (como se fosse uma batalha vencida, cada paciente que saia).

No refeitório e no dormitório, todos tiravam as máscaras, pois era um momento de respirar; e eu pensava, nós aqui devemos ser portadores, pois estamos sem proteção. 

Quando li sobre a vacina, observei a quantidade de chineses que já tinham tomado sem ter efeito colateral. Naquele momento precisavam de duas mil pessoas que tivessem contato direto com pacientes comprovadamente com covid19.

Confesso que achei pequeno o número de voluntários , e no primeiro momento mandei meus dados achando que já tinham completado a pesquisa, mas para minha surpresa, eram poucos os candidatos.

Fui até o hospital das clínicas, fiz o teste rápido; colheram todos os exames e eu estava apta a participar. No mesmo dia, tomei a primeira dose; saí com um diário e um disco para observar o local da aplicação. Não senti absolutamente nada, no local não conseguia localizar a picada. E todos os dias tinha que marcar: se tive febre, se vômitei, se tive dor de cabeça, se tive diarreia, ou qualquer outro sintoma.

Fiquei frustrada, falei eu tomei placebo. No retorno, após quinze dias, novamente coleta de sangue, suab, urina. Na consulta médica, ao devolver o diário, falei para médica pesquisadora, acredito que tomei placebo, ela disse que na primeira etapa da pesquisa, as pessoas que mais relataram sintomas, tinham tomado placebo.

Outro diário de 15 dias, e nenhuma reação. E na consulta após um mês, eu pedi


meu
IgG e IgM. Ela explicou, nem eu tenho acesso aos seus exames; por isso chama duplo-cego. Emitimos 5 cópias do relatório: para USP, Butantã, ANVISA, Ministério da saúde e uma para o Comitê Independente. Quem vai autorizar a abertura do duplo-cego é o Comitê, e vamos ter acesso ao resultado no mesmo momento que for divulgado para o público.

Todos os meses seguintes, continuei com consultas médicas, coletas de sangue e relatos semanais pelo whatsap, como eu estava me sentindo.

No dia 22/01 fui convocada para abertura do duplo-cego. Fiquei sabendo que estava imunizada, e somente agora pude solicitar os exames, que chegarão para próxima consulta.

Eu particularmente acredito que cada um tem o direito de escolher se toma ou não a vacina. Mas assistindo os óbitos, pessoas que estavam bem aparentemente e em 6 horas evoluíram para o óbito, sem sintomas clínicos ou laboratoriais, simplesmente a saturação de oxigênio foi baixando e os medicamentos não fizeram efeito. Eu aconselho a tomarem, baseados na ciência.

Até hoje os anticoncepcionais tem 99% de eficácia."

Farmacêutica...e vacinada!

E a vacinação contra a COVID-19 começou no Brasil. Depois de muita expectativa, no dia 17 de janeiro a ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, aprovou o pedido de uso emergencial das vacinas CORONAVAC - da parceria do Instituto Butantan com a farmacêutica chinesa SINOVAC, e da AstraZeneca, fruto da parceria da FIOCRUZ e da Universidade de Oxford. A partir da aprovação, os grupos prioritários passaram a receber a vacina, momento que foi registrado por muitos, com a publicação de fotos e depoimentos emocionados. Infelizmente, com a vitória da ciência, passamos também a receber as fakenews, envidas pelos que não acreditam na vacina e não querem se vacinar. 

Muitas entidades e organizações passaram, então, a divulgar informações corretas sobre a vacina e a importância da vacinação. Artistas, cientistas, profissionais de saúde se uniram e, pelas redes sociais, divulgaram card e vídeos de incentivo à população.

A partir desta postagem, passaremos a divulgar o depoimento de farmacêuticos (as) que foram vacinados (as) e que estão compartilhando essa experiência histórica. Nossa gratidão por dividirem  esse momento!

A partir desta postagem, vamos divulgar os depoimentos de outros(as) colegas vacinados (as). Se é o seu caso, envie seu depoimento para oblogdomarcoaurelio@gmail.com. 

O primeiro depoimento que recebi foi de uma ex-aluna. Parabéns Marina! Muito orgulho de você.


"Olá! Meu nome é Marina Arruda, Farmacêutica, formada pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul e, neste ano de 2021, completo 10 anos de profissão. Atualmente, sou Farmacêutica do Pronto Socorro Municipal de Itabira - MG, terra do grande poeta e também Farmacêutico, Carlos Drummond de Andrade.

Somos referência Hospitalar para um microrregião de 14 municípios mineiros e diversas comunidades rurais e, como Pronto Socorro, porta de entrada para atendimentos de urgência e emergência, recebendo, consequentemente, muitos pacientes com diagnóstico positivo de Covid-19 e diversos outros que dão entrada com um diagnóstico e, aqui, são diagnosticados com Coronavírus.

Foi muito difícil esse período de pandemia para todos mas, para mim, foi extremamente complicado pois, quando a Pandemia foi declarada, em março, eu estava no último mês de gestação. Voltei ao trabalho sem perspectiva de vacina, mas, mesmo com medo de me contaminar e contaminar os meus, segui fazendo aquilo que aprendi na graduação: cuidar e zelar pela saúde do próximo. Os pacientes e os meus familiares.

A vacina chega como um sopro de esperança. O Brasil, que sempre foi referência em


Vacinação e Saúde Pública, vê os movimentos anti-vacina crescendo e, com isso, colocando em risco a imunização coletiva. Vacina não é pelo indivíduo. É pela sociedade. É por você, por mim, pelos seus e pelos meus.

Farmacêuticos, lutem pelo seu lugar na fila de Vacinação. Vocês são profissionais de Saúde e a farmácia comunitária é dos primeiros locais de saúde onde a população recorre na necessidade. 

Vacinem! Quando chegar a sua vez da fila, Vacine! Só assim conseguiremos vencer esse vírus, só assim teremos um mundo parecido com o que tínhamos antes.

Dias melhores virão! Estaremos aqui para eles!"




domingo, 10 de janeiro de 2021

Quando chegar meu dia de tomar a vacina contra a COVID-19...

Vou acordar cedo e fazer uma oração. Agradecer à Deus e aos envolvidos(as). Agradecer ao SUS, pesquisadores(as), à ciência e cientistas, servidores(as)....todo mundo.
Possivelmente vou chorar!
Vou tomar banho, vestir minha melhor roupa, minha máscara mais nova, botar perfume e um sorriso no rosto. Vou sair de cabeça erguida e pensando num novo momento.
Vou chegar no posto de saúde antes do horário.
Vou me oferecer para ajudar a organizar a fila, com distanciamento. Vou dizer oi pra todo mundo...e vou chorar de novo.
Vou pensar em todas as vidas perdidas para a COVID-19, que não tiveram a oportunidade de se vacinar. Vou pensar em quem não pode se vacinar, e por eles(as) também, devemos nos vacinar.
Quando ouvir meu nome, vou olhar para o céu e orar de novo...agradecer por ter podido chegar neste momento. Pegar meu santinho de São Judas, apertar contra o peito e seguir. Lembrar de Oswaldo Cruz, Chagas, Sabin...tanta gente.
Vou esticar meu braço, sorrir como nunca sorri antes e, pela primeira vez, não vou fechar os olhos! Quero ver a aplicação da vacina em mim! Se puder, vou pedir pra alguém tirar uma foto...e vou pedir a seringa de lembrança, como fazia quando era pequeno.
Vou agradecer aos profissionais de saúde  que lá estiverem...e a quem me vacinou. Vou chorar de novo.
Voltarei pra rua...talvez eu grite de alegria, pule ou simplesmente feche os olhos e diga pra mim mesmo: Consegui! Estou vacinado!


sexta-feira, 20 de setembro de 2019

A nova Revolta da Vacina



Publicado na Revista Época

Como a ideia de que a imunização faz mal ou é desnecessária está provocando a volta de doenças como o sarampo
É fim de tarde em Ubatuba, no Litoral Norte de São Paulo, e a família de Maximiliano Giacone, de 31 anos, joga futebol na praia. Os três filhos, de 8 anos, 6 anos e 2 anos e meio correm descalços na areia. A família é de origem argentina, mas mora no Brasil. As crianças comem comida saudável, se exercitam, dormem cedo, raramente usam medicação alopática. E não tomam vacinas. Giacone diz que não acredita na necessidade dessas imunizações. O filho mais velho e o mais novo não foram vacinados, e o do meio, seu enteado, tomou apenas a BCG, dada a recém-nascidos para prevenir a tuberculose. "A não vacinação vem com uma filosofia de vida. Meus filhos são saudáveis. Utilizamos remédios alternativos, homeopatia, medicina por meio das plantas, raramente algo de farmácia", contou Giacone, ex-proprietário de uma escola em Buenos Aires.
Recentemente, ele soube de casos de famílias que foram obrigadas pela Justiça a vacinar seus filhos. Uma vez, contou, ele e a mulher foram repreendidos por um médico que criticou a recusa de dar vacinas. "Já conversei com algumas pessoas e li a respeito da falta de necessidade de ir ao médico com frequência. Não lembro exatamente as fontes. Outras pessoas falam em epidemias. Pode ser. Mas me baseio no que vou encontrando na vida. Não falo para as pessoas vacinarem ou não vacinarem. Seguimos nossa verdade", afirmou. Giacone disse ter consciência de que muitas de suas ações despertam reações e assombram outras pessoas. "As pessoas vão ao médico e esperam ouvir tudo que devem fazer. Somos educados assim. Mas gosto de ver como minhas crianças sabem que elas têm o poder de ficar doentes ou não. Que elas têm o poder de se curar. Não somos só o corpo físico", disse. Giacone afirmou que não vai se opor se os filhos decidirem se vacinar quando crescerem. Ele foi vacinado quando criança. "Não vou dizer que está certo, mas acredito em levar a vida como cada um quiser", completou.
Maximiliano Giacone com a mulher e os filhos no litoral paulista. "A não vacinação vem com uma filosofia de vida. Meus filhos são saudáveis. Utilizamos remédios alternativos, homeopatia, medicina por meio das plantas, raramente algo de farmácia", disse. 
Os membros do que se convencionou chamar de movimento antivacina têm motivações variadas e não conhecem fronteiras. A cerca de 2.300 quilômetros de Ubatuba, Gisleangela dos Santos, de Girau do Ponciano, município a quase três horas de Maceió, Alagoas, também faz restrições às campanhas de imunização. A cidade de cerca de 40 mil habitantes, que vive de agricultura e funcionalismo público, é descrita pela servidora de 37 anos como "quase o fim do mundo". Mas a desinformação chegou até lá pela internet. Santos passou a duvidar das vacinas depois de assistir a um vídeo em que um suposto enfermeiro dizia que o vírus da zika não existia, e que a microcefalia era causada por uma vacina vencida dada pelo governo. Ela teve zika no início da segunda gestação, mas, quando a filha nasceu com microcefalia, não culpou o mosquito. Com base no vídeo, seu reflexo foi achar que a microcefalia tinha sido causada por uma vacina que tomou antes de engravidar. "Sempre via no YouTube, Facebook e também recebi no WhatsApp vídeos sobre vacinas. Quando começaram os casos de zika e microcefalia, teve um vídeo em que um homem que se dizia enfermeiro contava que tinha descoberto que o governo estava enganando o povo. Que a microcefalia não tinha nada a ver com a zika, mas com uma vacina vencida que tínhamos tomado. Fiquei com medo", contou. Santos, a filha mais velha, de 14 anos, e a caçula, hoje com 3 anos, pararam de tomar vacina. Os pais de Santos também rejeitaram a campanha da vacina contra a gripe no ano passado. "Antes eu tomava vacina, gostava de deixar as vacinas de minhas filhas em dia. Quando vi isso, parei. E parei de dar para elas também", disse. A família só retomou a vacinação por causa de um tratamento da caçula. "Levei minha filha menor para fazer um tratamento em uma cidade vizinha. Quando chegamos, a médica exigiu que todo mundo tomasse vacina. A pressão foi grande. Mas ainda fico com receio", contou. Santos disse que um exame comprovou a zika durante a gravidez e que a doença afetou o bebê. Contou ainda que na cidade falta saneamento básico e sobram mosquitos e que muitas pessoas ali adoecem também com a dengue. Mas às vezes titubeia. "O vídeo falava na vacina vencida. Vivemos em um país tão corrupto que acabamos acreditando. Vejo mães que tiveram zika durante a gravidez e os filhos nasceram saudáveis. Por quê? Talvez meu caso tenha sido de imunidade. Muitas vezes nem os médicos sabem responder com certeza. E ainda tenho dúvidas."
A vacina é uma suspensão que contém o vírus inativado ou morto de determinada doença que, introduzido no organismo, induz a formação de anticorpos. Não há evidência científica de que vacinas causem doenças ou contaminem o organismo. Pelo contrário. Graças às vacinas, especialistas em saúde dizem que foi possível erradicar no Brasil enfermidades sérias como coqueluche, rubéola, poliomielite e tétano. Ironicamente, ao tirar essas e outras doenças graves de vista, as campanhas de vacinação bem-sucedidas do passado criaram nas gerações seguintes a sensação de que as doenças desapareceram ou de que ao menos não são mais uma ameaça como eram outrora. "Historicamente, a cultura da vacinação se impôs no Brasil pelo medo de doenças. Hoje, o medo é da vacina", disse a antropóloga Marcia Couto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). E o fenômeno é global.
Em relatório anual sobre os dez maiores riscos à saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu em 2019 a "hesitação em se vacinar". Ela figura na lista ao lado de vírus como os de ebola, HIV, dengue e influenza, segundo a OMS, "porque ameaça reverter o progresso feito no combate às doenças evitáveis por meio de vacinação". Outro relatório recente da OMS indica que os casos de sarampo no mundo triplicaram neste ano. O número de casos globais notificados nos primeiros sete meses de 2019, mais de 360 mil, já é quase três vezes maior que o registrado no mesmo período de 2018. No Brasil, os dados mais recentes, divulgados em 13 de setembro e referentes aos 90 dias anteriores, somam 3.339 casos confirmados de sarampo em 16 estados. O surto maior é no estado de São Paulo, onde já foram registradas pelo menos três mortes em decorrência da doença. As vítimas foram um homem de 42 anos e dois bebês. Outra criança faleceu em Pernambuco. Em nenhum dos quatro casos, disse o Ministério da Saúde, foi comprovada a imunização contra o sarampo.
"Gisleangela dos Santos é uma das vítimas da desinformação. Ela acreditou que a microcefalia da filha tinha sido causada por uma vacina vencida. Sua fonte foi um vídeo de uma rede social"
Segundo a OMS, a vacinação evita de 2 milhões a 3 milhões de mortes por ano - e outros 1,5 milhões poderiam ser evitadas se a cobertura global de vacinação melhorasse. Em nota a ÉPOCA, o órgão afirmou ter estudado as razões pelas quais as pessoas escolhem não se vacinar. "A OMS identificou complacência, inconveniência no acesso a vacinas e falta de confiança entre as principais razões subjacentes à hesitação", disse o órgão, que completou: "A relutância ou a recusa em vacinar, apesar da disponibilidade de vacinas, ameaça reverter o progresso feito no combate a doenças evitáveis por vacinação". A OMS afirmou ainda que neste ano vai intensificar esforços para eliminar o câncer do colo de útero no mundo, aumentando a cobertura da vacina contra o HPV. Espera-se também que 2019 seja o ano em que a transmissão do vírus da poliomielite seja interrompida no Afeganistão e no Paquistão.
A queda nas taxas de vacinação já é visível. E a baixa cobertura contribui para a introdução de doenças já eliminadas no Brasil, como aconteceu com o sarampo, que voltou e virou surto. O Ministério da Saúde atribuiu o problema à queda da vacinação. A tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba, encerrou o ano passado com taxa de vacinação de 90,5% do público-alvo, menos do que os 95% recomendados pelas autoridades de saúde. Não é o único caso. Segundo o Ministério da Saúde, todas as vacinas destinadas a crianças menores de 2 anos têm registrado queda desde 2011, com maior redução a partir de 2016. Um balanço mostra que, de oito vacinas obrigatórias para crianças no calendário nacional de imunizações, sete delas encerraram o ano passado com a taxa de cobertura abaixo da meta. Apenas a vacina BCG alcançou o nível desejado.
A única vacina que a dona de casa Sueli Maximiliano, de São Paulo, tomou foi justamente a BCG, quando criança. Na vida adulta, ela continuou sem imunizações. Aos 48 anos, disse desconfiar da composição das doses e rejeita campanhas de vacinação em massa. "Fui criada por minha avó, que não me vacinava. Depois que cresci, senti que não me fazia falta. Aí decidi continuar sem vacinas nem remédios", disse. Ela contou que vacinou a filha, hoje com 23 anos, só por insistência do marido. Mas afirmou que tem "a saúde melhor" do que a filha e que não vê necessidade de vacinas, pois nunca precisou de medicação nem internação. "Não gosto da ideia de o governo ditar algo e a população seguir em peso. Para mim, é uma forma de manipulação. E ter algo injetado no corpo é muito invasivo. Só não falo nem ensino isso para ninguém. É uma decisão pessoal", completou.
A ideia da imunização como questão individual de opinião está no centro do debate sobre a queda na vacinação no país. Quem não se vacina pode se manter saudável, dependendo do rumo que a vida tomar. Mas especialistas alertam que, se essa pessoa entrar em contato com o vírus e adoecer, pela falta de imunização, existe, além do risco pessoal, o perigo de contágio de outras pessoas que não tomaram a vacina por contraindicação. "Existe uma função coletiva da vacina que é proteger diretamente aquela pessoa que não foi vacinada porque não pode. É o caso de grávidas, bebês que ainda não alcançaram a idade indicada, pessoas imunodeprimidas, em tratamento contra o câncer etc. Quando a cobertura contra o vírus começa a cair em uma população, a proteção cai junto. Vacinar é também um pacto social", explicou a médica pediatra Carolina Barbieri, docente da Universidade Católica de Santos. A antropóloga Marcia Couto completou: "Embora a cultura da vacinação persista no país, ao longo do tempo acostumou-se a responsabilizar as famílias pela vacinação, ou assim parecia ser. É como se a vacinação fosse um ato individual, quando na verdade é um projeto de saúde pública".
Barbieri e Couto acompanharam famílias em São Paulo para entender como elas lidavam com as vacinas no contexto de cuidado dos filhos. A hesitação à vacina é visível principalmente nas famílias de centros urbanos e com renda e escolaridade médias e altas. "Se antes o problema das vacinas era a dificuldade de acesso, hoje é a falta de confiança. O primeiro fator citado entre as famílias que não vacinavam ou escolhiam as vacinas foi que não viam mais as doenças como na época dos pais ou avós. Mas destacavam os efeitos adversos da vacina. O caso de febre, de reação, aparecia mais", disse Barbieri. Os pais entrevistados na pesquisa também citaram desconfiança sobre a ação das vacinas no sistema imunológico das crianças. São frequentes as críticas a uma "medicalização" no cuidado infantil.
"Famílias com renda alta estão entre as que hesitam em vacinar os filhos, segundo uma pesquisa em São Paulo. Pode parecer contraditório, mas o sucesso de imunizações no passado diminuiu o medo de ficar doente"
A psicoterapeuta Mariah (ela prefere preservar a identidade), de 30 anos, mãe de um menino de 3 anos e meio, vacinou o filho apenas até os 2 meses, pois precisou fazer uma viagem internacional com ele recém-nascido. "Acredito que haja estudos científicos que, de fato, comprovem algumas vacinas como necessárias. Mas acredito que a grande maioria não tenha de ser aplicada. Algo que sempre me incomodou, ao perceber muitas crianças vacinadas a meu redor, era que elas estavam sempre gripadas ou desenvolvendo algum tipo de doença", contou. Mariah disse que assumiu essa postura "por feeling e observação". Explicou que criou uma rotina de cuidados para fortalecer o sistema imunológico do filho. "Não acredito na ausência de vacinação se a criança for criada de forma 'solta' e com a alimentação 'padrão'", afirmou. "Ele não se alimenta de laticínios com frequência, que provocam mucos e aumentam catarro e inflamações, nem carne, que exige energia demais do corpo para ser digerida, e invisto em orgânicos e produtos locais. Também me mudei para a praia, onde ele corre, toma sol todo dia, tem contato com a natureza, anda descalço e lida com diferentes ambientes e bactérias, que pouco a pouco fortalecem seu sistema." Ela contou ser bastante criticada por essa posição. "Até as vacinas que penso em dar eu evito falar, para não ter de lidar com as enfermeiras que fazem um escândalo se nego alguma vacina. Porém, olho para meu filho de 3 anos e meio e vejo uma criança saudável, inteligente e que nunca teve uma doença séria. O máximo que teve foi uma laringite em época de frio, mas que também acompanhou o câncer de laringe de meu pai e que entendi como psicossomática." Mariah admite que sua realidade é diferente da maioria das famílias. "Muitos não podem oferecer a alimentação e os cuidados que ofereço, então entendo que saúde é uma questão de consciência e informação, além de todas as medidas socioculturais e políticas que promovam o bem-estar integral da população", afirmou.
Não é simples explicar todos os motivos de resistências às vacinas. Se, há mais de 100 anos, na chamada Revolta da Vacina, centenas de pessoas protestaram nas ruas do Rio de Janeiro contra a lei que obrigava a imunização contra a varíola, em um projeto de saneamento liderado pelo então prefeito Pereira Passos e pelo sanitarista Oswaldo Cruz, hoje o movimento é puxado de maneira discreta. Veio por influência do exterior, de países como Estados Unidos e Itália, onde há grupos organizados contrários à vacinação. Em maio, em Sacramento, na Califórnia, várias mães protestaram contra uma lei que fecharia uma brecha que permitia a alguns pais evitar as exigências das vacinas, desde que tivessem um atestado de que suas crianças não poderiam ser vacinadas por questões médicas. O milionário Bernard Selz, gestor de um fundo de investimentos em Nova York, doou mais de US$ 3 milhões nos últimos anos para grupos que espalham a ideia de que as imunizações são perigosas. Nos EUA, não por coincidência, casos de sarampo voltaram a aumentar. Na Itália, o movimento ganhou aliados na política. Massimiliano Fedriga, político do partido Liga Norte, virou o maior porta-voz do movimento antivacina no país. Em março, porém, teve de se afastar de suas atividades. Pegou catapora.
Aqui, ocorre o novo e complexo "movimento de hesitação à vacina". Ele inclui pais que atrasam o início da vacinação acreditando que mais tarde o sistema imunológico dos filhos estará mais desenvolvido e preparado para receber as vacinas, pais que selecionam quais vacinas aplicar, aqueles que dão apenas uma das doses previstas no calendário nacional ou só uma vacina por vez e, finalmente, os pais que não dão vacina alguma. As justificativas são parecidas aqui e lá fora. Vão da ausência dos surtos do passado, que motivaram a vacinação, à desconfiança em relação à composição das doses e à rejeição às gigantes farmacêuticas, além de religiosidade, da divulgação de informações falsas no universo sem lei da internet e das redes sociais e da negação da ciência. Muitas das informações em que os pais se baseiam vêm do exterior, onde o movimento de resistência à vacina está mais consolidado. A expansão da internet facilitou a difusão. Por aqui, o debate acontece em grupos de redes sociais e também em canais como o YouTube, onde pessoas que se apresentam como médicos questionam a necessidade de algumas vacinas para crianças. A enxurrada de informações causa confusão entre as famílias, principalmente em um momento delicado como o da maternidade/paternidade.
Em julho, o deputado Diego Garcia (Podemos-PR), relator da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, foi contrário a um projeto de lei do deputado Luciano Ducci (PSB-PR) que propôs a obrigatoriedade de apresentação da carteirinha de vacinação de crianças de até 9 anos para a matrícula em escolas públicas e privadas. "Há pais que não imunizam seus filhos por convicções religiosas, outros por não acreditarem na eficácia da imunização, estes, inclusive, com respaldo de algumas correntes médicas, e outros ainda por causa das várias denúncias acerca de contaminação no processo de fabricação das vacinas e em sua má conservação, o que acarretaria sérios riscos para a saúde das crianças", afirmou Garcia na ocasião. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sancionado em 1990, estabelece que a vacinação das crianças é obrigatória nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. O descumprimento pode acarretar desde infração administrativa, com multa de três a 20 salários mínimos, até detenção de dois meses a mais de dez anos. "A falta de vacinação pode ser qualificada como crime de maus-tratos", explicou Paulo Roberto Fadigas César, juiz titular da Vara da Infância e da Juventude de Penha de França, na Zona Leste de São Paulo. Geralmente, são as escolas e unidades básicas de saúde que comunicam o Conselho Tutelar e daí uma denúncia é encaminhada à Justiça. "A família pode ser intimada a vacinar a criança. A obrigatoriedade está prevista em lei. E a recusa pode levar, em alguns casos, à perda de guarda ou perda do poder familiar. Não são casos frequentes, mas podem acontecer, de acordo com a avaliação de cada caso", disse o juiz, que afirmou perceber um aumento de denúncias envolvendo a falta de vacinação.
A hesitação às vacinas tem um marco internacional: fevereiro de 1998, quando o médico britânico Andrew Wakefield apresentou uma pesquisa na qual afirmava que 12 crianças tinham desenvolvido comportamento autista e inflamação intestinal grave depois de serem vacinadas. Elas teriam, segundo ele, vestígios do vírus do sarampo no corpo. Wakefield levantou uma possível associação dos problemas com a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba e que havia sido aplicada em 12 crianças acompanhadas por ele. Wakefield escreveu que as vacinas poderiam causar os problemas gastrointestinais, que, por sua vez, levariam a uma inflamação no cérebro e, daí, talvez ao autismo. O estudo foi publicado na conceituada revista Lancet com grande repercussão, e os índices de vacinação despencaram no Reino Unido. Anos depois, Wakefield foi desmascarado e seu diploma foi cassado. Um médico que o auxiliou na pesquisa revelou que não havia encontrado o vírus do sarampo em nenhuma das 12 crianças estudadas, mas que Wakefield teria ignorado o fato para não comprometer a divulgação do estudo. Além disso, veio à tona que, antes da publicação na Lancet , Wakefield tinha registrado um pedido de patente para uma vacina contra sarampo, que seria concorrente da criticada por ele. Mesmo assim, as correntes antivacina existentes se fortaleceram, e o pânico se estendeu a outros países.
O movimento antivacina nos Estados Unidos recebe doações de milionários do setor financeiro de Nova York. 
Nos EUA, o alvo de desconfiança foi o timerosal, uma substância derivada do mercúrio e usada como conservante antibacteriano em frascos multidoses de vacinas. Há alguns anos, surgiram teorias que vinculavam o timerosal ao autismo, o que foi descartado tempos depois. A substância chegou a ser tirada da composição de vacinas em países da Europa e nos EUA, mas casos de autismo não deixaram de surgir por causa disso. No Brasil, a substância é usada nas vacinas em quantidade regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, nos frascos que contêm mais de uma dose. Autoridades de saúde afirmam que a dosagem é mínima e segura.
Outro ponto de debate sobre as vacinas é se elas estariam relacionadas ao desenvolvimento de alergias e doenças autoimunes. Pesquisas sobre o tema não comprovam relação direta entre elas. A ressalva para a vacinação é em caso de alergias já conhecidas. Pessoas com alergia comprovada a ovo, por exemplo, não são aconselhadas a tomar vacinas em que o vírus é replicado em ovos, como é o caso da imunização contra a gripe. Mas casos de uma nova alergia a partir de uma vacina não foram evidenciados pela ciência. Algumas vacinas podem, sim, causar reações como febre e, em casos raríssimos, reações graves, mas especialistas consideram que o benefício em termos de saúde pública é muito maior. "Cada país tem seu sistema de farmacovigilância. Em nosso caso, é a Anvisa. Todas as vacinas passam por um monitoramento rígido de qualidade, potência e efeitos adversos. Se há qualquer problema, o produto é interrompido. Foi assim com a vacina pentavalente, que monitoramos", afirmou o médico Júlio Croda, diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde. Em julho, cinco lotes da vacina pentavalente produzidos por uma empresa indiana foram proibidos pela Anvisa de circular devido a "resultados insatisfatórios no ensaio de aspecto". A agência afirmou, na época, ter encontrado problemas na análise que verifica cor, odor e características da embalagem de um produto. A importação e o uso dos lotes dessa empresa foram suspensos. "É um equívoco dizer que o controle de qualidade é burlado pelo sistema. Teorias de conspiração não têm justificativa. A vacina é a medida mais custo-efetiva na medicina. Previne adoecimento e óbito e é a prova de um Estado que garante o acesso universal da população à saúde", afirmou Croda. Essa é a mensagem que o movimento antivacina se nega a ouvir.
Elisa Martins