terça-feira, 8 de junho de 2010

Noites bem e mal dormidas

Andei fazendo uma retrospectiva de minha vida (não necessariamente nesta mesma ordem) para buscar nos labirintos de minha mente, quais foram os estímulos que tive para que me tornasse um farmacêutico (além de professor, entre outros pulos que dou para levantar um “faz-me rir” todo mês). Mergulhei nas mais distantes e profundas lembranças para saber em que momento decidi por ser um profissional que tem no medicamento seu instrumento de trabalho, com vistas a garantir a saúde da população, obviamente sabendo que seria (ou deveria ser) parte de uma equipe multiprofissional.
Em uma das noites quentes e secas de Brasília, coloquei um daqueles antigos disquinhos coloridos, com histórias infantis, em minha vitrola, imaginando que isso poderia facilitar a busca do meu eu pequeno, ou do meu pequeno eu, enfim, de quando eu era pequeno. Abri uma lata de cerveja. Deitei-me e ....acabei dormindo. Na segunda noite, porém obtive um sucesso maior. Lembrei-me de um livro, dado por meu pai, intitulado “O maior vendedor do mundo”, de OG Mandino. Isso me fez recordar de quantas vezes tentei ser um vendedor, assim como meu pai sempre foi. Vendi de tudo: cotas de consórcio de vídeo cassete e de motocicletas, travesseiros aromatizados, colchões terapêuticos, enfim, de tudo o que é lícito. Puxando um pouco mais a cordinha do passado, me veio à mente (a crase foi sugestão do meu computador) uma drogaria que existia na esquina da Rua Otávio Carneiro com a Rua Moreira César, em Niterói, no bairro de Icaraí. Passava todo dia na frente dela rumo ao meu colégio e ficava impressionado com a perspicácia dos que lá trabalhavam. Extasiado, parava em frente ao estabelecimento, observando os balconistas e suas habilidades em decifrar receitas e lembrar a posição dos medicamentos nas prateleiras. Era uma pequena drogaria, com letreiro verde...o que não muda nada no que quero dizer. Não foi a cor do estabelecimento nem seu letreiro, mas algo neste período acabou despertando parte do interesse em minha profissão. Achei ter encontrado ali a resposta para o meu questionamento sobre porque decidi ser Farmacêutico. Obviamente que outros estímulos podem ter me guiado, mas não encontrei nada maior do que aquela drogaria em Niterói. Adormeci.
Formado desde 1993, vi um grande avanço na relação paciente – drogaria – medicamento. Eu vi o controle da propaganda de medicamentos se tornar mais “agressivo”, coibindo práticas abomináveis do passado. Eu vi aumentar o controle sobre a qualidade dos medicamentos. Participei de uma Conferência que tratou deste assunto, a I Conferência de medicamentos e assistência farmacêutica, aprovando inúmeras propostas com vistas a melhorar essa relação. Eu vi mudanças nas diretrizes curriculares do, buscando a formação de um profissional melhor antenado com os anseios da sociedade. Pensando nisso tudo, na terceira noite em que dava continuidade a esse balanço, suspirei aliviado, pois cheguei à conclusão (de novo a crase, por intervenção do computador) de que todas as lutas, passeatas, palestras, assembléias na qual participamos, ajudaram de alguma forma, na busca de uma drogaria como um estabelecimento de saúde. Lembrei mais uma vez da pequena drogaria. Sabia que ainda estávamos distantes do ideal e adormeci. Mais uma vez tranquilo com a certeza de que fizemos algo de bom.
Numa quarta noite, recebi um email estarrecedor, que me deixou com os cabelos em pé (quem me conhece sabe que isso é quase impossível de acontecer). Um amigo distante, abalroado por sentimentos enfurecidos, expôs, em bem traçadas linhas, que acabava de ser aprovado na Assembléia Legislativa do seu Estado, um Projeto de Lei polêmico. Segundo ele, a nova norma previa que, drogarias poderiam vender: biscoitos, CD´s, DVD´s, aparelhos celulares, isqueiros, sorvetes, doces, pães, bijuterias, relógios, entre outros. Vale ressaltar que medicamentos também poderão ser vendidos. Imaginando ser um trote, mesclei sentimentos de medo e ansiedade. Esbocei um sorriso de canto de boca e aguardei a confirmação sobre o email. Só poderia ser mentira. Adormeci, porém já não tão tranquilo assim.
Neste momento, estou em mais uma noite, a quinta se não perdi a conta, seca e não tão quente como antes, em Brasília. Abri meu email e lá estava a informação que mais temia. Não era a notícia de mais um jogador lesionado na seleção brasileira as vésperas de sua primeira partida na copa do mundo. Era pior. Lá estava a Lei, com número e data, como se preza toda Lei, confirmando a informação. Diga-se de passagem, um pouco pior do que o email informava. Não sei o que pensar sobre isso, como alguns de vocês. No momento, estou preocupado, muito preocupado. Porém, apenas uma dúvida me assola: como conseguirei dormir nessa noite?
Se quiserem maiores informações sobre isso, estou à disposição: marcoaurelio.farma@gmail.com
Bons sonhos (se conseguir).

7 comentários:

Unknown disse...

o mínimo que se pode dizer é que isso é um absurdo... drogaria agora vai ser "loja de conveniência"? vamos colocar medicamentos a venda em postos de gasolina também...

Fabio Angelini disse...

Oi Marco.
Pode me passar mais informações por e-mail?
juridico1@sinfar.org.br

Abraços !

Impressões Amazônicas disse...

Boa reflexão!!! E pensar que aquela farmácia fez isso... E eu que nesta época queria ser jornaleiro... risos...
abração,
Altamiro

Oswaldo Azevedo disse...

Meu velho, bom mesmo foram as noites mal dormidas dentro da REITORIA, ou as noites de reunião do JUBAS e dos jogos do SANTA. Isso sim nos levou a política. e como sempre te falei, não importa se estamos a esquerda ou a direita pois remamos para o mesmo lado. Abração meu velho. TAMO JUNTO!

Cris Vidal disse...

Oi Marco!! Estou pela primeira vez no seu Blog e achei uma ótima oportunidade para continuar acompanhando seu trabalho!! O Boni me passou o link!!
Fico muito triste em ficar sabendo desses jeitinhos que sempre acham de contornar as leis, é um absurdo mesmo uma farmácia vender tudo, como uma loja!! Vendem inclusive medicamento!! (Essa frase é sua!!)
Mas para nós que amamos essa linda profissão, estaremos sempre dispostos a lutar para que ela possa evoluir sempre!!Um grande abraço!!

Comunidade Farmácia Brasileira disse...

Essa é a seriedade de vários representantes do Povo para com a saúde de cada um de seus eleitores.
.
Na mesma linha postei um texto no meu blog com o titulo: Ceará, farmácias e drogarias vendem até medicamentos
.
Texto de João Gualberto é promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Ceará.
.
link: http://comunidadefarmciabrasileira.blogspot.com/2010/12/ceara-farmacias-e-drogarias-vendem-ate.html

Comunidade Farmácia Brasileira disse...

E um outro que trata do seguinte tema:
Está na hora de rever os meus conceitos
.
http://comunidadefarmciabrasileira.blogspot.com/2010/12/esta-na-hora-de-rever-os-meus-conceitos.html