sábado, 19 de junho de 2010

Atualizando o vocabulário popular

A cada vez em que tento comentar notícias atuais, não consigo me desvencilhar do passado. No auge dos meus 38 anos (com corpinho de 37 e com formato de quibe), acompanhei boa parte das evoluções tecnológicas, o que levou a mudança de gírias, provérbios, ditados populares, enfim, da forma de comunicação. Além de tudo, a sensação que tenho é que nossa paciência diminuiu. Sou do tempo em que se telefonava para alguém, deixava recado e a pessoa retornava dois dias depois...e estava tudo bem! Ah, linha telefônica era declarada no imposto de renda! Hoje, ligamos para o celular do fulano, cai na caixa postal, não deixamos recado, ligamos novamente e caixa postal novamente. Irritados, pensamos: “Porque esse @s#&*€₳ não atende?”
Dia desses, ouvi um jovem comentar: “Agora caiu a ficha”. Será que ele sabia que essa frase surgiu em decorrência dos orelhões públicos, na época em que ainda não existia o cartão telefônico? Provavelmente não. Esse é o poder da linguagem: é atemporal e atualizado ao mesmo tempo. Passa por gerações. O mesmo efeito é causado quando alguém diz: “Vira o disco”, sugerindo que a pessoa não se repetisse, fazendo alusão aos LP´s ( Long plays), que para ser ouvido na íntegra, era necessário virá-lo após 8 músicas ouvidas, em média, de cada lado.
Alguns ditados se aperfeiçoaram. O “calor” sempre fez referência ao entusiasmo que se dava ao momento ou a construção da frase. Antes dizíamos: “É uma brasa, mora?”. O comunicador Silvio Santos atualizou, com componentes em inglês, para “é hot, hot, hot”. Hoje dizemos: “É chapa quente”. Todas querem dizer a mesma coisa. A quentura continua funcionando como adjetivo relacionado a emoção da situação.
Para não perder o princípio de alguns ditados, talvez fosse necessário atualizá-los. Eles eram tão claros e hoje se tornam quase incompreensíveis. Dizer: “Mais curto que coice de porco” pode gerar grande confusão na cabeça dos jovens, pois aqueles criados nas grandes cidades, nunca viram um suíno. A mesma referência à distância era feita ao se dizer: “mais curto que vôo de galinha”. É preciso mudar, pois alguns acham que galinha é aquele pedaço de carne que gira em máquinas, disponíveis normalmente em padarias, adquiridos aos domingos, acompanhada de farofa e batatas. Não conseguem visualizar o ditado. No meio esportivo, mais especificamente nas narrações de partidas de futebol, ainda é comum ouvir “telegrafou a jogada”, que diz respeito aos passes interrompidos pelo oponente, já que era clara a intenção da jogada. O que é um telégrafo para os nascidos na década de 90?
Considerando algumas dessas inovações e de mudanças de comportamento, faço aqui algumas contribuições para atualização dos ditos populares:
- Em terra de cego, quem tem um GPS é Rei! Nos dias de hoje, não basta ter um olho para ser monarca em terra de cegos. Mesmo o termo “cego” já sofreu suas mutações, pois é politicamente incorreta.
- Mais vale dois pássaros voando do que um na mão! Em tempos de discussão sobre o meio ambiente, soa melhor do que a versão passada, que dizia exatamente o contrário.
- Não me segue, pois não sou twitter! A primeira versão dizia para não ser seguido, pois não era novela. Utilizado para que nos deixassem em paz.
- O uso do cachimbo é prejudicial à saúde! Não sejamos hipócritas de achar que o único problema era deixar a boca torta.
E para não deixar o momento de copa do mundo de lado, adotamos uma nova palavra. A partir de junho de 2010, a pessoa não deixa de dar “bola” à alguma situação....talvez ela deixe de dar uma JABULANI!
E você tem mais alguma sugestão?

7 comentários:

Silvia A.Pereira disse...

Amei esse texto..muito criativo e divertido.
Como tb sou jovem rsss, quero contribuir com essas duas versões para o ditado "é muita areia para meu caminhão":
nos dias atuais fica assim:
"É muita porta para o meu USB ou É muita memória para o meu HD". rss

Impressões Amazônicas disse...

Pensei em alguma atualização e não foi fácil...
Talvez:
"quem tudo quer... tem que comprar com cartão de crédito!"
he! he! he!
E viva o Brasil@@@

Abração,
Sansalt

Adelir da Veiga disse...

Não tenho sugestões, masachei excelente a atualização do vocabulário..muito bom mesmo...abs

Adelir da Veiga disse...

Marco, excelente a atualização...abs

Anônimo disse...

Muito Bom! Excelente! Ou seria melhor eu dizer: Coisa Fina! Joinha, Joinha...risos

E o que dizer da "já" antiga "É nóis na fita", que já se atualizou sem perder o charme da derrapada linguística: É Nóis no Site!
Abraços!

Unknown disse...

Ola professor, adorei o texto é muito bom ler essas esse tipo de comentário, pois percebo que nao estou ficando tao doida assim ao parar para analisar o momento critico em que vivemos, gostaria de contar um caso, outro dia fui assistir um filme no cinema de época, e apos o filme eu e meu namorado discutimos o fato de hoje fazermo completamente o ao contrario do que nossos tataravos diziam ou achavam correto, o vilão da história é sempre aquele que quer o poder, ser o mais rico, nao importa o que se tem que fazer, o objetivo é conquitar o mundo... e ser o mais poderoso entre todos esse é o vilão dos filmes, mais na vida real essa é o nosso principal objetivo, tentar cresce, nao importa como... os governos mostram cada vez mais que temos que ser malz, petroleo acima de tudo, dinheiro nos torna poderosos, mais perigosos tambem, preservar a natureza? que nada, vamos ser a maior pontecial mundial. É ai que paro e penso, porque mudou-se tanto os conceitos de certo e errado na cultura do nosso planeta? será que nos vamos destruir a terra? ou será ela que colocará um fim, no que ela ja nao aguenta mais?

Um otimo fim de semana!! e um bom jogo do Brasil!!! BJAOOO!!

francamente disse...

De aula em aula o aluno enche o saco.
Família que reza unida é religiosa pacas.
Quando um não quer, o outro vira e dorme.
Águas passadas já passaram.
Depois da tempestade vem a gripe.
Quem espera sempre cansa.
O pior cego é aquele que não quer ver, não quer comer, não quer trabalhar, não quer porra nenhuma.