Creio que poucos sabiam, mas o escritor e abolicionista era farmacêutico. Neste dia 29 de janeiro de 2013 faz 108 anos que este ativista político faleceu. Essa é uma pequena homenagem deste humilde Blog.
"José Carlos do Patrocínio (Campos dos Goytacazes, 9
de outubro de 1853 — Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 1905) foi um
farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político brasileiro.
Mulato, constitui-se em uma das mais destacadas figuras do movimento
abolicionista e republicano no Rio de Janeiro. Filho de João Carlos Monteiro,
vigário da paróquia de Campos dos Goytacazes e orador sacro de reputação na
Capela Imperial, com Justina do Espírito Santo, uma jovem escrava Mina de
quinze anos, cedida ao serviço do cônego por D. Emerenciana Ribeiro do Espírito
Santo, proprietária da região. Embora sem reconhecer a paternidade, o religioso
encaminhou o menino para a sua fazenda na Lagoa de Cima, onde José do
Patrocínio passou a infância como liberto, porém convivendo com os escravos e
com os rígidos castigos que lhes eram impostos.
Aos catorze anos de idade, tendo completado a sua
educação primária, pediu, e obteve ao pai, autorização para vir para o Rio de
Janeiro. Encontrou trabalho como servente de pedreiro na Santa Casa de
Misericórdia (1868), empregando-se posteriormente na Casa de Saúde do Dr.
Batista Santos. Aqui, atraído pelo combate à doença, retomou, às próprias
expensas, os estudos no Externato de João Pedro de Aquino, prestando os exames
preparatórios para o curso de Farmácia.
Aprovado, ingressou na Faculdade de Medicina como
aluno de Farmácia, concluindo o curso em 1874. Neste momento, desfazendo-se a
"república" de estudantes com que convivia, Patrocínio viu-se na
iminência de precisar alugar moradia, sem dispor de recursos para tal. Um
amigo, antigo colega do externato de Aquino, João Rodrigues Pacheco Vilanova,
convidou-o a morar no tradicional bairro de São Cristóvão, na casa da mãe,
então casada em segundas núpcias com o capitão Emiliano Rosa Sena, abastado
proprietário de terras e imóveis. Para que Patrocínio pudesse aceitar sem
constrangimento a hospedagem que lhe era oferecida, o capitão Sena propôs-lhe
que, como pagamento, lecionaria aos seus filhos. Patrocínio aceitou a proposta
e, desde então, passou também a freqüentar o "Clube Republicano" que
funcionava na residência, do qual faziam parte Quintino Bocaiúva, Lopes Trovão,
Pardal Mallet e outros. Não tardou que Patrocínio se apaixonasse por Maria Henriqueta,
uma das filhas do militar, sendo também por ela correspondido. Quando informado
do romance de ambos, o capitão Sena sentiu-se ofendido a princípio, porém
vindo, após o matrimônio (1879), a auxiliar Patrocínio em diversas ocasiões.
Nessa época, Patrocínio iniciou a carreira de
jornalista em parceria com Dermeval da Fonseca, publicando o quinzenário
satírico Os Ferrões, que circulou de 1 de junho a 15 de outubro de 1875, no
total de dez números. Os dois colaboradores se assinavam com os pseudônimos
Notus Ferrão (Patrocínio) e Eurus Ferrão (Fonseca).
Dois anos depois (1877), admitido na Gazeta de
Notícias como redator, foi encarregado da coluna Semana Parlamentar, que
assinava com o pseudônimo de Prudhome. Foi neste espaço que, em 1879, iniciou a
campanha pela Abolição da escravatura no Brasil. Em torno de si formou-se um
grupo de jornalistas e de oradores, entre os quais Ferreira de Meneses
(proprietário da Gazeta da Tarde), Joaquim Nabuco, Lopes Trovão, Ubaldino do
Amaral, Teodoro Fernandes Sampaio, Paula Nei, todos da Associação Central
Emancipadora. Por sua vez, Patrocínio começou a tomar parte nos trabalhos da
associação.
Fundou, em 1880, juntamente com Joaquim Nabuco, a
Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Com o falecimento de Ferreira de
Meneses (1881), com recursos obtidos junto ao sogro, adquiriu a Gazeta da
Tarde, assumindo-lhe a direção. Em Maio de 1883 articula a Confederação
Abolicionista, congregando todos os clubes abolicionistas do país, cujo
manifesto redige e assina, juntamente com André Rebouças e Aristides Lobo.
Nesta fase, Patrocínio não se limita a escrever: também prepara e auxilia a
fuga de escravos e coordena campanhas de angariação de fundos para adquirir
alforrias, com a promoção de espetáculo ao vivo, comícios em teatros,
manifestações em praça pública etc.
Em 1882, a convite de Paula Nei, Patrocínio visitou
a província do Ceará, onde foi recebido em triunfo. Essa província seria
pioneira no Brasil ao decretar a abolição já em 1884.
Em 1885, visitou sua cidade natal, Campos dos
Goytacazes, sendo também recebido em triunfo. De volta ao Rio de Janeiro,
trouxe a velha mãe doente, que virá a falecer no final desse mesmo ano. O
sepultamento transformou-se em um ato político em favor da Abolição, tendo
comparecido personalidades como as do Ministro Rodolfo Dantas, o jurista Rui
Barbosa e os futuros presidentes Campos Sales e Prudente de Morais.
No ano seguinte (1886), iniciou-se na política,
sendo eleito vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, com votação
maciça.
Em Setembro de 1887, tendo abandonado a Gazeta da
Tarde para fundar e dirigir um novo periódico: o A Cidade do Rio. À frente
deste periódico intensifica a sua atuação política. Aqui fizeram escola alguns
dos melhores nomes do jornalismo brasileiro da época, reunidos e incentivados
pelo próprio Patrocínio. Foi nele que Patrocínio saudou, após uma década de
intensa militância, a 13 de Maio de 1888, o advento da Abolição.
Obtida a vitória na campanha abolicionista, as
atenções da opinião pública se voltaram para a campanha republicana. Por ironia
do destino, o "A Cidade do Rio" e a própria figura de Patrocínio
passam a ser identificados pela opinião pública como defensores da monarquia em
crise. Nesta fase, Patrocínio rotulado como um "isabelista", foi
apontado como um dos mentores da chamada "Guarda Negra", um grupo de
ex-escravos que agia com violência contra os comícios republicanos.
Após a proclamação da República (1889), entrou em
conflito em 1892 com o governo do Marechal Floriano Peixoto, pelo que foi
detido e deportado para Cucuí, no alto rio Negro (Amazonas).
Retornou discretamente ao Rio de Janeiro em 1893,
mas com o Estado de Sítio ainda em vigor, a publicação do "A Cidade do
Rio" continuou suspensa. Sem sua fonte de renda, Patrocínio foi residir no
subúrbio de Inhaúma.
Nos anos seguintes, a sua participação política foi
inexpressiva, concentrando-se a sua atenção no moderno invento da aviação.
Iniciou a construção de um dirigível de quarenta e cinco metros, o "Santa
Cruz", com o sonho de voar, jamais concluído. Numa homenagem a Santos
Dumont, realizada no Teatro Lírico, quando discursava saudando o inventor, foi
acometido de uma hemoptise, sintoma da tuberculose que o vitimou. Faleceu pouco
depois, aos cinqüenta e um anos de idade, aquele que é considerado por seus
biógrafos o maior de todos os jornalistas da Abolição.
Cronologia
- 1853: Em 9 de outubro José Carlos do Patrocínio nasceu em Campos (na então província do Rio de Janeiro), filho natural do padre João Carlos Monteiro e de Justina, escrava africana, vendedora de frutas.
- 1868: Patrocínio começou a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro.
- 1871: Por iniciativa do visconde do Rio Branco foi promulgada a Lei do Ventre Livre, reconhecendo como livres as crianças nascidas de mães escravas.
- 1874: Na Faculdade de Medicina, Patrocínio concluiu o curso de Farmácia.
- 1875: Com Demerval Ferreira publicou o primeiro número do quinzenário satírico Os Ferrões.
- 1877: Entrou na Gazeta de Notícias, respondendo pela coluna A Semana Parlamentar.
- 1879: Casou-se com Maria Henriqueta Sena, a “Bibi”. Iniciou a campanha pela Abolição da escravatura.
- 1881: Ingressou na Gazeta da Tarde, vindo a se tornar proprietário do periódico.
- 1882: A convite de Paula Nei viajou ao Ceará em campanha pró-Abolição; como fruto, dois anos mais tarde o Ceará foi a primeira Província brasileira a dar a emancipação aos escravos.
- 1883: Patrocínio redigiu o Manifesto da Confederação Abolicionista.
- 1884: Publicou o romance Pedro Espanhol.
- 1885: Promulgada a Lei dos Sexagenários, que concedeu a liberdade aos escravos com idade igual ou superior a 65 anos. José do Patrocínio visitou Campos, onde foi saudado como um triunfador. No Rio de Janeiro o funeral de “tia” Justina, mãe de José do Patrocínio, transformou-se num grandioso comício de repúdio à escravidão.
- 1886: Foi eleito vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
- 1887: Deixou a Gazeta da Tarde, fundou e passou a dirigir o A Cidade do Rio. Publicou o romance Mota Coqueiro ou A pena de morte.
- 1888: A 13 de Maio a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no Brasil; José do Patrocínio beijou as mãos da Princesa.
- 1889: Patrocínio publicou o romance Os Retirantes, inspirado na inclemência da seca sobre os habitantes do nordeste do Brasil. Foi acusado de fomentar a violenta ação da Guarda Negra em defesa do isabelismo. A 15 de Novembro a República foi proclamada no Brasil.
- 1892: José do Patrocínio importou da França o primeiro automóvel que circulou no Brasil. Movido a vapor, o seu barulho espantava os transeuntes. Por ter publicado, no seu jornal, um manifesto de um dos chefes da Revolta da Armada, o marechal Floriano Peixoto, desterrou Patrocínio para Cucuí, no alto rio Negro (Amazonas).
- 1893: Proibida a publicação do periódico A Cidade do Rio, Patrocínio estava reduzido à miséria.
- 1905: Numa homenagem a Santos Dumont, ao discursar, José do Patrocínio sofreu uma hemoptise; faleceu a 30 de Janeiro."
Texto extraído de: http://www.oarquivo.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1925:jose-do-patrocinio&catid=77:nacionais&Itemid=59
Imagem extraída de: http://cantinhodanono.blogspot.com.br/2010/11/dia-09-de-outubro.html
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