"Ministério quer menos estrangeiros no
Mais Médicos"
Essa declaração atribuída aos novo Ministro merece alguma análises e críticas que seguem neste texto que acabei de escrever:
Essa declaração atribuída aos novo Ministro merece alguma análises e críticas que seguem neste texto que acabei de escrever:
Retirar os estrangeiros
do Mais Médicos é uma medida pouco democrática e nada inteligente
A imprensa tem noticiado
que o atual Ministro da Saúde, do governo interino que consideramos ilegal e
ilegítimo (i³), tem anunciado que reduzirá o número de médicos estrangeiros no
Programa Mais Médicos (PMM) e dará prioridade e aumentará os estímulos para a
atuação dos brasileiros. Reduzir arbitrariamente os estrangeiros é uma medida
pouco democrática e nada inteligente, como demonstraremos a seguir. Dar mais
estímulos aos brasileiros pode ser bom e apontaremos algumas sugestões neste
texto.
1- A Lei do Programa já
estabelece prioridade para o Brasileiros
A Lei 12.871 de 2013 obriga que cada vaga primeiro deva ser oferecida aos
médicos com registro profissional no Brasil. Não ocupando todas as vagas, as
remanescentes são então oferecidas aos médicos brasileiros formados no exterior
e, só depois, restando ainda vagas é que as mesmas são oferecidas aos médicos
estrangeiros. Ou seja, a prioridade já está dada em Lei desde a criação do
Programa.
2- Só tem muito
estrangeiro no PMM porque os brasileiros não quiseram ir onde a população mais
precisava
Como em 2013 os médicos brasileiros só se interessaram em ocupar 22% das vagas
oferecidas pelo PMM, aquelas necessárias para atender à população mais
vulnerável e dos municípios com maior necessidade só foram ocupadas graças aos
médicos brasileiros formados no exterior e estrangeiros.
3- É crescente a adesão
dos médicos brasileiros no PMM, mas ainda insuficiente
Com o aumento dos estímulos aos médicos brasileiros, como pontuação adicional
de 10% no concurso para a formação como especialista (residência médica) além
da bolsa e dos auxílios moradia e alimentação, desde 2015 todas as novas vagas
foram ocupadas por médicos brasileiros. A maior adesão dos médicos brasileiros
foi e deve seguir sendo comemorada. Hoje, do total de 18,2 mil médicos, mais de
5,3 mil (29%) são médicos com registro no Brasil. Contudo, aproximadamente 2/3
dos municípios do PMM seguem ainda não atraindo os médicos brasileiros e isso
faz com que, das 63 milhões de pessoas atendidas pelo Programa, 45 milhões só
tenham atendimento devido à atuação dos médicos estrangeiros e brasileiros
formados no exterior.
4- O médico brasileiro
fica menos tempo e abandona mais a atividade
Outro dado importante é que o tempo de atuação no Programa para todos os
médicos é de 3 anos, com exceção dos brasileiros que podem escolher ficar 3
anos ou apenas 1 ano. Mesmo assim, 40% dos brasileiros abandonam a atividade no
Posto de Saúde antes de cumprir o prazo acordado. Este número no caso dos
estrangeiros é de 15%, e especificamente no caso dos médicos cubanos é de
apenas 8%.
5- Os médicos
estrangeiros são muito bem avaliados e estão nos locais com maior necessidade
Os médicos estrangeiros, como já foi dito, estão nos locais com maior
necessidade. Mas, além disso, as pesquisas de avaliação do PMM conduzidas pelas
Universidades têm mostrado uma excelente aprovação desses médicos por parte da
população e dos gestores municipais. Maior capacidade de atendimento e de
resolver problemas sem precisar encaminhar, maior proximidade com a população e
atendimento mais humanizado tem sido a marca mais forte da atuação desses
médicos. Isso não se explica pelo fato de serem cidadãos cubanos, italianos, uruguaios
ou das mais de 40 nacionalidades presentes no Programa. A grande questão é que
são médicos que gostam de atuar na atenção básica e a maioria são especialistas
em medicina de família e comunidade. Enquanto em diversos países há prioridade
para essa especialização, no Brasil o modelo voltado para o especialista do
setor privado e do hospital afasta e não prepara os médicos nem para a atenção
básica nem para o SUS.
6- Das 2.700 vagas em
Medicina de Família e Comunidade, apenas 760 foram ocupadas por médicos
brasileiros, as demais ficaram ociosas.
O PMM também oferece vagas para que os médicos se formem como especialistas
para a atuação na Atenção Básica. Mas do total de vagas oferecidas, que só
podem ser ocupadas por médicos brasileiros, só 28% foram preenchidas. Hoje a
residência, fundamental para mudar o perfil do médico no Brasil e para melhorar
em muito a qualidade do atendimento no SUS, embora tenham melhorado a ocupação,
ainda atrai pouco os médicos.
Com tudo isso fica claro
que retirar os médicos formados no exterior do PMM prejudica mais de 45 milhões
de brasileiros, justamente aquelas que mais precisam e que moram nos municípios
que têm menos condições de substituir esse médico por outro.
De fato, expulsar os
médicos estrangeiros é um desejo das entidades médicas mais conservadoras. Mas
é pouquíssimo democrático deixar que a xenofobia e preconceito de alguns
milhares prejudique a vida de dezenas de milhões. Além disso, é pouco
inteligente fazer o contrário que diversos países do mundo têm feito: aumentar
o estímulo para contar com médicos estrangeiros em seus sistemas de saúde. Nos
EUA mais de 1/4 dos médicos são formados no exterior e no Reino Unido quase
40%.
Também não é inteligente
querer agradar a um grupo pequeno e extremista e desagradar não só 45 milhões
de pessoas atendidas e mais de 3 mil prefeitas e prefeitos beneficiados. Fazer
isso depois da eleição, pode parecer esperto, mas não é e, além disso, é
desleal, oportunista e demagógico.
Contudo,
oferecer mais estímulo aos médicos brasileiros, sem prejuízo dos estrangeiros,
garantindo a sustentabilidade do Programa no médio prazo é uma medida não só
inteligente como necessária. Uma boa ideia seria garantir à Bolsa de Residência
em Medicina de Família e Comunidade o mesmo valor da Bolsa do Mais Médicos
quando aquela acontecesse nos serviços de atenção básica em localidades que o
SUS tem necessidade: seria garantido apenas aos brasileiros tudo o que eles já
tem no PMM e agregar ainda mais um título de especialista que é importante não
só para a qualidade do atendimento no SUS, mas até para que esse médico possa
formar outros médicos nas novas escolas de medicina abertas também pelo PMM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário