O ano era 2004. No dia 05 de
maio, uma quarta-feira, o ex-Ministro da Saúde Humberto Costa abriu os trabalhos
da Centésima Quadragésima Segunda Reunião Ordinária do Conselho Nacional da
Saúde. Humberto Costa apresentou um conjunto de ações que começavam a ser
desenvolvidas no âmbito do Ministério da Saúde e destaca, dentre elas, o início
do Programa Farmácia Popular. Chega a dizer em sua manifestação que “Nós entendemos que o ano de 2004 será muito
importante para a saúde do nosso país”. O plenário começa a discussão sobre
os pontos de pauta. O 2º item de pauta era a apresentação da Política Nacional
de Assistência Farmacêutica - PNAF. A apresentação foi feita pelo então Diretor
do Departamento de Assistência Farmacêutica, Norberto Rech. Neste momento
começa uma ampla explanação, repleta de dados e fruto de um acúmulo de debates
realizados junto ao controle social. Norberto disse que “o objetivo fundamental da Política de Assistência Farmacêutica era
efetivar o acesso, a qualidade e a humanização da assistência farmacêutica com
Controle Social. Além disso, a Política de Assistência Farmacêutica deveria ser
parte integrante da Política Nacional de Saúde, envolvendo conjunto de ações
voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tendo o medicamento como
insumo essencial. Enfatizou que a assistência farmacêutica não poderia ser
concebida como simples atendimento da demanda de medicamentos gerada nos
serviços, mas sim como parte integrante da Política Nacional de Saúde,
envolvendo um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da
saúde, tendo o medicamento como insumo essencial. Acrescentou que a assistência
farmacêutica deveria fundamentar-se no conceito de acesso racional, sendo este
uma concepção fundamentada na caracterização do medicamento como instrumento
essencial às ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, desenvolvidas
tanto no âmbito do setor público como privado de atenção à saúde, nos seus
diferentes níveis de complexidade”. Ao final passou a palavra para Dirceu
Barbano, que na época exercia o cargo de Coordenador do Departamento de
Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. Barbano
apresentou o Programa Farmácia Popular do Brasil. Após sua exposição a palavra
foi aberta aos presentes. Inicia-se então um amplo debate sobre assistência
farmacêutica. E assim se dá início a uma das mais exitosas políticas da área da
saúde, a Política Nacional de Assistência Farmacêutica, publicada através da
Resolução 338 de 06 de maio de 2014, do Conselho Nacional de Saúde.
Passados 10 anos creio que seja unânime a opinião sobre a
importância da PNAF, seja pelo seu papel estratégico enquanto politica
norteadora de outras políticas setoriais, seja pelos avanços alcançados no
período. Este humilde Blog já destacou, em números, parte destes avanços. Veja
a postagem: “Assistência Farmacêutica: prioridade deste Governo” (http://marcoaureliofarma.blogspot.com.br/2010/10/assistencia-farmaceutica-prioridade.html)
.
Pretendo, ao longo das próximas postagens, tratar
detalhadamente sobre as conquistas alcançadas com esta política, mas gostaria de
iniciar destacando os princípios da PNAF. Resgato aqui o que diz a Resolução
338/04:
I - a
Política Nacional de Assistência Farmacêutica é parte integrante da Política
Nacional de Saúde, envolvendo um conjunto de ações voltadas à promoção,
proteção e recuperação da saúde e garantindo os princípios da universalidade,
integralidade e eqüidade;
II - a
Assistência Farmacêutica deve ser compreendida como política pública norteadora
para a formulação de políticas setoriais, entre as quais destacam-se as
políticas de medicamentos, de ciência e tecnologia, de desenvolvimento
industrial e de formação de recursos humanos, dentre outras, garantindo a
intersetorialidade inerente ao sistema de saúde do país (SUS) e cuja
implantação envolve tanto o setor público como privado de atenção à saúde;
III - a
Assistência Farmacêutica trata de um conjunto de ações voltadas à promoção,
proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletivo, tendo o
medicamento como insumo essencial e visando o acesso e ao seu uso racional.
Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de
medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição,
distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços,
acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de
resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população;
IV - as
ações de Assistência Farmacêutica envolvem aquelas referentes à Atenção
Farmacêutica, considerada como um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida
no contexto da Assistência Farmacêutica e compreendendo atitudes, valores
éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e co-responsabilidades na
prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à
equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando
uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis,
voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve
envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades
bio-psico-sociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde.
Um comentário:
Avanços inegáveis Marco Aurélio. Eu cheguei em Brasília e comecei a trabalhar no DAF exatamente uma semana antes dessa importante data para a AF. Quem diria que o Programa Farmácia Popular iria tomar a dimensão que tomou, e ser tão bem avaliado pela população o quanto é hoje? De fato avançamos muito no acesso a medicamentos nesses últimos 10 anos, tanto por meio das farmácias do SUS quanto pelo Farmácia Popular. E felizmente agora vemos a PNAF avançar também na qualificação dos serviços farmacêuticos por meio do Hórus e do QualifarSUS. Parabéns ao Dr. José Miguel e a toda equipe do DAF, da qual tenho orgulho de tê-la integrado por quase 10 anos consecutivos.
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