domingo, 12 de dezembro de 2010

Vaselina mata...é só isso?

     Não tenho a menor disposição de apontar verdades. A grande virtude de uma opinião é simplesmente emitir um pensamento sobre algo. Respeitar as opiniões contrárias, ouvir e ser ouvido, são partes fundamentais de uma simples troca de idéias. Por isso, gostaria de conversar sobre algo que aconteceu nesta semana, recheada com notícias boas e ruins (não necessariamente nesta mesma ordem). Entre as que causaram raiva, surpresa e indignação, estava a notícia de uma menina que faleceu em virtude de uma aplicação de vaselina em sua veia. Obviamente que o fato não foi intencional, mas a conseqüência foi fatal. O fato se deu no Hospital São Luiz Gonzaga, ligado à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. A menina Stephanie dos Santos Teixeira, de 12 anos, foi a vítima.
     O falecimento de qualquer pessoa deve ser averiguado, mesmo que por motivos naturais. Agora, a morte prematura de uma criança, cujo diagnóstico foi “virose”, no dia 3 de dezembro de 2010, tendo sido prescritos medicamentos e soro fisiológico, sendo que a pequena vítima recebeu vaselina no lugar do soro, merece debate maior. Ela só foi parar no hospital porque tinha vômito e diarréia.  O fato precisa despertar em todos nós a devida indignação, mas mais do que isso, a abertura de uma discussão que amplia a avaliação sobre a responsabilidade. Num caso como esse é muito comum buscarmos o culpado ou culpada. Perfeito, penalizemos a auxiliar de enfermagem que já responde por crime culposo. Achamos o “mordomo”? Tenho dúvidas...
     Em primeiro lugar, para propiciar o início da discussão, quero lembrar a Portaria 316/77, que previa não haver necessidade da presença de farmacêuticos em “pequenas unidades hospitalares”, definidas como aquelas com menos de 200 leitos. Tal Portaria trouxe graves consequências ao que defendemos por assistência farmacêutica. É fato que sem farmacêutico não existe assistência farmacêutica plena, já o inverso, talvez seja possível. Ter farmacêutico simplesmente não resolve a situação. Sem estrutura, sem vontade política tanto do profissional quanto do administrador do estabelecimento, sem empenho dos atores envolvidos, pouco se faz. Tarda a revogação desta Portaria, como tarda a discussão de que não basta estar presente...tem que participar!
     Em segundo lugar, chamo a discussão sobre quem é, de fato, o responsável pelo paciente. O médico que diagnostica? O porteiro que recebe o paciente? A família que deve estar atenta aos primeiros sintomas? O farmacêutico que dispensa? Os profissionais da enfermagem que têm relação direta na aplicação dos medicamentos? Bom, penso que todos. Como diz o ditado: “somos lados da mesma moeda”.
     Caso não tenhamos neste fato o motivador de uma grande discussão sobre a plenitude da assistência farmacêutica, tida como um “conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletivo tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e ao seu uso racional...” (Res. 338/04 do Conselho Nacional de Saúde), não sei o que mais possa despertar o debate. Não deixemos que o falecimento dessa pequena inocente seja mais um caso de “erro”. Vamos avaliar por todos os aspectos isso tudo: desde a semelhança dos frascos de medicamentos até a participação efetiva dos pais ou cuidadores durante uma internação.  Como a humanização interfere nisso tudo?
     Bom, indignados vamos dormir...mas só isso basta????

Em tempo, quase coloquei como foto da postagem, a imagem da pequena Stephanie. Não consegui, pois não achei nenhuma foto dela  na qual estivesse triste, além de achar apelativo. Foto dela sorrindo? Não é assim que ela vê o que aconteceu. Por isso, insiro a foto acima, encontrada no site:http://www.hotfrog.com.br/Empresas/Dra-Neuza-Alves-de-O-Dias/Erro-medico-Advogado-pr-x-ao-Metr-Rep-blica-S-o-Paulo-56039 

Um comentário:

susan karen aquino disse...

não vamos dormir!!!
a responsabilidade pela dispensação ou simplesmente pelo medicamento seria do Farmaceutico, mas sabemos bem que neste caso tal produto estava nas maos de um auxiliar de enfermagem.
É SÓ ISSO...
Não pode ser, a atençao farmaeutica entra como essencia neste quadro, cabe a nós famaceuticos enfatizar quao importante somos no meio hospitalar nao só trancados nas salinhas de dispensaçao mas sm presente em todos as visitaçoes e alguns procedimentos hospitalares!