Em maio de 2005, escrevi um artigo para a revista "Debate Sindical", tratando do tema "a oratória como arma para a ação sindical". Fui convidado pela revista por falar demais? Não sei! Talvez tenha ajudado o fato de ministrar cursos sobre o tema. Sempre tive paixão por este assunto e penso que há um menosprezo generalizado sobre o tema. Para trazer o debate a tona, apoiado por metade dos meus 2 ou 3 leitores, resolvi reproduzir o artigo, mas sempre lembrando: O bom orador também sabe se calar!!!!! Boa leitura...
"Inicialmente, para abordar o tema oratória e sua importância para os dirigentes sindicais, devemos entender o que esse termo significa. Aqui, vamos trabalhar com a oratória como a melhor forma de comunicação entre pessoas, podendo variar a quantidade dos receptores, mas focando em um orador. Vamos trabalhar com o conceito de oratória enquanto a “arte de falar”, como um instrumento importante no exercício da liderança e da propagação de um pensamento.
Considerando que muitos subestimam o poder exercido pela oratória, responda: Quantas vezes você pediu à alguém uma opinião sobre seu comportamento durante uma exposição? Em que momento perguntou a si mesmo sobre o seu poder de argumentação? Quantas vezes avaliou a sua postura enquanto discursava? Quantas vezes consegui reverter opiniões devido ao seu posicionamento defendido numa exposição? Caso nunca tenha pensado nessas perguntas, provavelmente você tem utilizado a “fala” como um simples complemento de sua atividade ou como algo dispensável de uma avaliação mais aprimorada. Provavelmente não tenha medido até então o impacto que poderia causar, com algumas pequenas mudanças em seu comportamento durante um discurso.
Alguns dirigentes sindicais, minimizando o papel de uma boa oratória, exercem o “falar” como algo natural, fruto de um dom “genético” ou como resultado de uma prática tão utilizada e a tanto tempo exercida, que passa a ser desnecessário um aprimoramento técnico deste ato. Grande engano. A prática da oratória, ou do “falar”, pode trazer bons resultados em alguns aspectos. A perda do medo de falar em público acontece quando há a habitualidade desta prática. O exercício da fala melhora o vocabulário, ajuda a desinibição, reduz os temidos tremores das mãos. Mas uma prática sempre deve vir acompanhada de bons fundamentos teóricos para que esta não se torne uma arma negativa. Comparemos a oratória com um medicamento, baseado em uma máxima farmacêutica: se bem usado, traz bons resultados, sem mal utilizado, pode ser um veneno.
A oratória deve ser entendida como uma ciência que não se pauta no empirismo, nem na mera repetição dos resultados positivos. É importante avaliarmos uma série de fatores para que a fala seja feita de uma maneira correta, levando em conta quem vai receber a mensagem e em que situação isso vai ocorrer. Para começar, devemos avaliar sempre como estamos nos comportando quando exercemos a fala. Essa avaliação constante inibe alguns vícios comuns como o tom de voz inapropriado para a situação, a falta de informação quanto ao resultado obtido com a exposição, o descumprimento do tempo determinado, entre outros. Não podemos ter o mesmo comportamento num debate como teríamos em um caminhão de som na porta de uma fábrica. A empolgação usada para defender uma tese em um congresso sindical não deve ser a mesma do que quando estamos em uma mesa de negociação. O movimento excessivo das mãos pode prender mais a atenção de quem nos observa, do que o conteúdo de nossa exposição. Ler um documento previamente preparado pode dar um ar sacerdotal pouco conveniente dependendo da situação em que este for usado. Falar de improviso, algo muito habitual para lideranças sindicais, deve ser antecedido de uma avaliação do nosso conhecimento do tema e a condição dada para que seja feita a exposição. Observando o papel da oratória para o exercício da liderança e da representatividade, passamos a entender também que não necessariamente precisamos “falar”. Todos nós conhecemos pessoas que possuem a necessidade de falar o tempo todo. Devemos lembrar que o bom orador não precisa falar a todo o momento. O silêncio pode ser uma grande virtude e pode trazer melhores resultados. A preocupação com a inconveniência deve permear nossos atos a todo instante.
Existem pessoas que encantam com a sua forma de falar. Seja um político, um outro dirigente, um formador de opinião. Porém, poucos são os que avaliam o que causou a boa impressão. Devemos começar daí o nosso entendimento acerca do que venha a ser um bom orador. A observação precisa ser uma prática rotineira. É preciso aprender com as virtudes e os erros daqueles que observamos. Se considerarmos a oratória como um conjunto de atitudes que levam ao bom entendimento da mensagem enviada, devemos começar por avaliar a postura no antes, durante e depois da exposição. Não podemos no esquecer que o orador passa a ser observado desde o momento em que chega ao local, até o momento em que vai embora. Sua exposição faz parte de uma das avaliações que o público fará sobre ele.
Objetivamente, vários fatores podem criar um bom orador. Neste sentido, não devemos considerar a oratória como um grande teatro onde cumprimos um papel de ator principal, onde incorporamos um personagem, que não conseguiremos levar adiante por estar desconectado de quem verdadeiramente somos. Isso não quer dizer que podemos subestimar o conjunto do ato. Pequenas questões devem ser respondidas de maneira prévia como: Com quem falar? Onde falar? Porque falar? Estas devem dar o início da nossa avaliação para que possamos cumprir bem o papel e obtermos os resultados esperados. Se passarmos a avaliar os diversos aspectos da oratória, podemos passar a utilizá-la em diversas situações do nosso cotidiano. Muitos livros abordam as mais variadas situações de oratória. Comece por buscar quais se adaptam as situações vividas no seu dia a dia. Passe a observar outras pessoas enquanto falam. O principal é que saibamos que fomos criados com duas orelhas e uma boca. Nascemos com dois aparelhos receptores e apenas um emissor...ouvir mais e falar o necessário ainda é o grande aprendizado!"
Imagem extraída de: http://www.fundacentro.gov.br/dominios/ctn/noticias.asp?Cod=1089
3 comentários:
fala meu velho amigo comunista!
ambos sabemos que a oratória, assim como a escrita de discursos, é um dom para poucos. A partir do momento que proferimos palavras ou escrevemos algo, temos de ter certeza de que a mensagem está chegando como deve chegar! sabemos que, assim como grandes homens e grandes líderes, grandes tiranos conquistaram a confiança do povo através da arte da oratória. Somos amigos, somos políticos por opção e oradores por dom divino. Posso dizer, com toda convicção, que o que sai da sua mente, é sempre para o bem do próximo buscando o acordo e a saúde.
Um abraço do seu brother.
Oswaldo Azevedo
Saudações meu amigo, ná época que foi publicado este artigo na revista, tive a oportunidade de assistir também sua palestra sobre o assunto num curso de formação sindical (pelo CES) que estava fazendo em Ribeirão Pires-SP. Mesmo sendo um velho conhecedor do seu dom da oratória fiquei também mais seu "fã" pelo seu poder do improviso, pois, num dado instante apagaram se as luzes do auditório e acabou-se o som do microfone e você não demorou nada para continuar sua palestra sem som e sem luz no auditório conseguindo brilhantemente manter a atenção de todos.
Após a palestra voce estava muito preocupado se havia agradado e se tinha conseguido se expressar bem. É isso que voce enfatiza tão bem no seu artigo, onde devemos ter uma resposta dos ouvintes para sabermos se o assunto abordado foi contemplado com precisão, se houve muitos vícios de linguagem, etc.
Meu velho amigo, Marcão, parabéns pelo Blog, e muito sucesso aí em Brasília.
Um Abraço,
Cleyton Eduardo Silva
(Cuiabá-MT)
Nunca fiz nenhum comentário aqui, vou começar por vocês dois: Oswaldo e Cleyton. Muito obrigado pelo carinho amigos! Obrigado pelas palavras e pela lembrança do curso Cleyton....
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