Acabo de chegar de uma confraternização de despedida de 2010 com servidores de uma secretaria de assistência social. Como toda boa festa de fim de ano, ocorreu o tal do amigo-ladrão (versão sacana e mais econômica do amigo secreto), conversas, cervejas e alguma interação entre os presentes. Para não ficar de fora, emiti algumas opiniões e acabei ouvindo relatos que me fizeram refletir.
Estavam presentes psicólogos, assistentes sociais, servidores municipais de nível médio e beneficiários dos diversos programas coordenados pelos presentes, entre outros. Acabei por conhecer realidades que foram geradoras desta postagem. Uma mola propulsora que me trouxe a pensar sobre a importância de um pequeno gesto que poderia mudar algo maior.
Uma das histórias foi narrada por uma advogada que participa de um dos programas de geração de renda. Os principais beneficiários são pessoas de baixa renda que moram em cortiços de uma grande cidade. Disse ela...
“Nosso projeto busca a inclusão produtiva, através de projetos sociais de geração de renda, dando a oportunidade de participarem de uma cooperativa que não se basta em garantir simplesmente uma remuneração. Certo dia, após uma reunião exaustiva acerca do gerenciamento do recurso obtido pelos cooperados, começamos a conversar com as pessoas beneficiadas sobre quais seriam as principais alterações a serem realizadas no programa. Ouvimos de tudo um pouco: desde a mudança da cor das paredes até outra postura das participantes. As sugestões ousadas quase que buscavam uma grande revolução. Propostas quase que inexeqüíveis foram expostas. Praticamente todas falavam, menos uma. Ela nos observava com os olhos atentos, tal qual uma criança ansiosa por demonstrar seus sonhos e desejos. Entendendo que o assunto já havia se esgotado já que quimeras foram apresentadas, perguntei se havia mais alguma reclamação ou sugestão. Aquela que até então estava calada, questionou:
- Eu queria saber quando vão consertar a geladeira?
Disse que não estava unicamente sob nossa capacidade de solução e sim do poder Executivo, já que dependia de toda a burocracia necessária para o simples conserto de uma geladeira. Já que o questionamento havia me gerado curiosidade extrema, acabei por perguntar:
- Mas qual a angústia com a geladeira? Se quiseres guardar algo e mantê-lo gelado, tem o bar do lado que pode nos emprestar seu freezer.
Ela respondeu:
- É que hoje acordei com uma “baita” vontade de tomar uma água gelada! E só aqui eu consigo isso."
Aquela pobre mulher, que dependia de um programa social para obter algum valor financeiro para sua sobrevivência, almejava apenas que a geladeira estivesse funcionando, para que pudesse tomar “água gelada”, artigo de luxo em sua casa.
A única lógica que consegui extrair disso foi de que grandes revoluções são necessárias. Entender os anseios e desejos dos outros devem ser buscados por nós sempre. Mas não podemos nos perder na macro solução. Às vezes, um pequeno gesto, que para nós pode ser visto como mínimo, é grande demais para quem recebe. Querer mudar o mundo é o desejo de todos, mas mudar a vontade de um pode ser um bom começo. Não estão errados os técnicos que coordenam os programas aqui comentados....só é preciso entender qual o desejo imediato dos que poderão usufruir de tudo isso. Com certeza não são desumanos nem frios, muito pelo contrário. Ocorre que o desejo de mudança é tão grande que acabam por deixarem de ver o "pequeno".
A história acima me emocionou muito. Os que me conhecem sabem que choro com propaganda de margarina. Por isso quero perguntar aos meus 2 ou 3 leitores: quer um copo de água gelada?
Foto extraída de: http://newstylepinup.blogspot.com/
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