EXTRAÍDO DO SITE VERMELHO
Nesta segunda-feira (07),
Michel Temer disse que estuda a possibilidade de liberar a venda de
medicamentos sem prescrição em supermercados. Problemas como o incentivo da
automedicação e transformação de medicamentos em um produto como qualquer outro
são apontados como impasses para essa mudança na comercialização. Para o
presidente do Conselho Nacional de Saúde, Ronald Ferreira dos Santos, esse
anúncio reafirma que Temer trata a questão da saúde como um negócio.
A pedido do presidente da Associação Brasileira de Supermercados
(Abras), João Sanzovo Neto, o presidente Michel Temer afirmou que vai avaliar
uma proposta para autorizar supermercados a venderem medicamentos isentos de
prescrição médica. O anúncio aconteceu nesta segunda durante evento da
Associação Paulista de Supermercados, o Apas Show.
“Levarei em conta essa proposta de tentar vender aqueles
medicamentos que não exigem prescrição médica, vou examinar esse assunto",
disse Temer a uma plateia de empresários do setor.
Consultado pelo Portal Vermelho, Ronald Ferreira dos Santos, presidente do Conselho Nacional
de Saúde (CNS), foi enfático ao dizer que vê essa proposta como “um verdadeiro
absurdo”. Para ele, a questão central, independente do remédio ter ou não
prescrição, e de que ele não é isento de efeitos colaterais e para sua
utilização é necessário respeitar minimamente alguns critérios de segurança, os
quais cabe ao estabelecimento vinculado à saúde, ou seja, a farmácia nesse
caso.
“Essa medida vai justamente na direção contrária a tudo que
estava se construindo ao longo dos últimos anos na sociedade brasileira, ou
seja, de desconstruir a lógica de que o medicamento é um insumo garantidor da
saúde da pessoa e mostrar que ele é apenas um componente do direito e acesso à
saúde. O principal ataque dessa proposta é ir colocando medicamentos como um
produto qualquer e, ao cabo, pode ter como consequência um conjunto de outras
políticas de restrição e diminuição no acesso porque substitui a lógica do
direito pela lógica do mercado pela lógica do produto, do mercado. “Temer não
está com a saúde, está com o negócio”, explicou em entrevista.
Segundo o presidente do CNS, a aumento da automedicação e o
não acompanhamento de um profissional adequado para a venda são as
consequências de um maior desdobramento dessa medida, que é banalização desse
produto que deveria ser diferenciado.
Já o professor de saúde pública da Unesp de Araraquara,
Rodolpho Telarolli Junior, acredita que não haverá grandes mudanças se a essa
venda for limitada apenas aos medicamentos estão dentro da categoria OTCs
(over-the-counter que significa sobre o balcão em inglês), como medicamentos
para dor de cabeça, sais de fruta e alguns antialérgicos, ou seja, que já são
vendidos sem prescrição nas farmácias.
Pelo lado econômico, Rodolpho Telarolli avaliou que isso
impactaria mais na competição entre dois ramos do comércio, as redes de
farmácia e as redes de supermercados. De toda forma, ele apontou que a
possibilidade de automedicação deve ser um fator de preocupação na área da
saúde. “É evidente que se você deixar o medicamento para o cliente se servir
sem a intervenção do farmacêutico você estimula a automedicação, mas são
produtos de baixa periculosidade”, afirmou o professor.
Já Ronald Ferreira dos Santos discorda. Para ele, “é
importante destacar que o fato de não ser um medicamento prescrito não é isento
de efeitos colaterais, de danos à saúde, porque é a clássica frase: ‘A
diferença entre o remédio e o veneno está na dose’, tendo ou não prescrição”.
Nova tentativa
Essa não é a primeira vez que essa proposta tenta ser
emplacada. Em 2012, a então presidente Dilma Rousseff havia vetado a venda de
medicamentos em supermercados pelo grande risco de estimular a automedicação e
uso indiscriminado. Além da dificuldade do controle sobre a comercialização dos
produtos. "Ademais, a proposta poderia estimular a automedicação e o uso
indiscriminado, o que seria prejudicial à saúde pública", informou.
Por Verônica Lugarini
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia/310862-1
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