terça-feira, 26 de novembro de 2013

"Inovação brasileira, impacto global".

Publicado em 12/11/2013, no jornal A Folha de São Paulo, intitulado:  Inovação brasileira, impacto global. Assinado por Carlos Gadelha e Trevor Mundel.


A entrada da vacina brasileira contra sarampo e rubéola no mundo ampliará a oferta de um produto capaz de evitar cerca de 158 mil mortes por ano 


"Se quiser ir rápido, caminhe só. Mas se quiser ir longe, caminhe junto." O provérbio africano descreve bem a colaboração entre o Ministério da Saúde do Brasil e a Fundação Bill & Melinda Gates, que acabam de celebrar duas importantes parcerias científicas capazes de colocar o espírito brasileiro de inovação a serviço da saúde global. 

A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a Fundação Gates firmaram o primeiro acordo para desenvolver uma vacina de alta qualidade e de baixo custo para prevenir sarampo e rubéola em alguns dos países mais pobres do mundo. 

A iniciativa se baseia no sucesso do programa nacional de imunização e estabelece um marco. É a primeira vez que uma vacina brasileira é desenvolvida com foco específico nos mercados globais. 

As parcerias que vêm se consolidando entre a Fundação Gates e o Ministério da Saúde são fruto das inovações introduzidas ao longo da história pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Brasil foi um dos primeiros países a tornar o acesso à saúde um direito constitucional e a garantir ampla cobertura vacinal a toda a sua população infantil e tratamento de HIV/Aids a todos os cidadãos portadores do vírus. 

Como atende mais de 145 milhões de pessoas, o sistema de saúde brasileiro é uma sólida plataforma para a introdução de inovações em escala que sejam transformadoras para os brasileiros e que possam ser replicadas em outros países. 

O Brasil e a Fundação Gates compartilham o objetivo de buscar soluções inovadoras e economicamente acessíveis que tenham um impacto duradouro. A ideia é que elas possam ser introduzidas em larga escala tanto no Brasil quanto em outros países onde os altos custos das tecnologias representam um obstáculo à sustentabilidade dos serviços de saúde. 

A entrada da nova vacina brasileira contra sarampo e rubéola no mercado, por exemplo, ampliará a oferta de um produto capaz de evitar cerca de 158 mil mortes por ano, a maioria de crianças com menos de cinco anos de idade. 

Com o programa de financiamento de pesquisas "Grand Challenges" (Grandes Desafios), da Fundação Gates, os objetivos são mais ambiciosos e o potencial para salvar vidas, ainda maior. 

Os projetos atualmente financiados nas áreas de saúde, agricultura e desenvolvimento abordam uma grande variedade de temas --de soluções para transformar fossas sépticas em solo fértil a tecnologias naturais para controlar a dengue. 

Formada por tijolos que se decompõem naturalmente no ambiente, a fossa do futuro, desenvolvida por um cientista brasileiro, é capaz de transformar solo contaminado em terra fertilizada para agricultura. Uma solução engenhosa que ataca ao mesmo tempo dois urgentes desafios para o desenvolvimento: melhoria do saneamento e promoção da agricultura familiar. Se bem-sucedido, esse tipo de fossa poderá ser utilizado em áreas rurais do Brasil e em países em desenvolvimento. 

Outra empreitada, dessa vez para controlar a dengue, está sendo desenvolvida por cientistas brasileiros e de quatro outros países. A ideia é introduzir nos mosquitos "aedes aegypti" uma bactéria facilmente encontrada no ambiente capaz de bloquear a transmissão da doença, impedindo centenas de milhares de infecções no Brasil e em regiões do planeta onde ela representa um grave problema de saúde. 

O potencial de impacto desses projetos é o motor da nossa parceria. Somando nossas ideias e recursos, é possível acelerar novas pesquisas. A inovação pode ser uma alavanca importante para nos levar, juntos, mais longe. 


CARLOS AUGUSTO GRABOIS GADELHA, 52, é secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde 
TREVOR MUNDEL, 53, é presidente de saúde global da Fundação Bill & Melinda Gates

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