No dia 09 de março de 2006 entrou em vigor a expansão do Programa Farmácia Popular para os estabelecimentos privados, denominado "Aqui Tem Farmácia Popular". 10 anos depois os números apontam o quão foi acertada a decisão, considerando ser ele uma alternativa de acesso aos medicamentos essenciais, eixo estratégico da Política Nacional de Assistência Farmacêutica.
Abaixo o discurso do Presidente Lula, na cerimônia de lançamento do Programa. Diga-se de passagem, um discurso visionário!
Discurso do Presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de lançamento da expansão do
Programa Farmácia Popular do Brasil
Palácio do Planalto-DF, 23 de
março de 2006.
"Bem, eu estou lançando a
consagração de um trabalho feito pelos nossos companheiros do Ministério da
Saúde, da Anvisa e da Casa Civil, e é um projeto que não é em benefício
próprio, porque eu não sou hipertenso e não sou diabético. Eu vim com o paletó
aberto, aqui, para vocês perceberem que é fácil a gente deixar de ser
hipertenso e diabético, com um pouco de esforço físico.
E também não vou falar de outro
assunto aqui, porque eu quero marcar os meus agradecimentos aos donos das
cadeias de farmácias, que resolveram assumir esta boa tarefa para o povo
brasileiro. Nós começamos a construir as farmácias populares e vamos terminar,
de tantas que falta a gente construir, mas isso era um pouco incompreendido
pela sociedade: por que eu tenho que sair para ir numa Farmácia Popular, se
perto da minha casa eu passo em duas farmácias antes de chegar à Farmácia
Popular? Porque essa farmácia aqui não pode ter o remédio que eu preciso
comprar, a preços compatíveis com as minhas necessidades?
Eu fiquei muito agradecido quando o
meu companheiro, ministro Saraiva Felipe, comunicou-me que estava tendo a
possibilidade de um acordo com as redes de farmácias. Então, é um avanço
extraordinário, porque as farmácias estarão mais à disposição do cidadão, não
apenas para comprar esses remédios, mas eu sempre fico torcendo para as pessoas
irem à farmácia comprar perfume, comprar outra coisa e menos remédios.
Mas independentemente da minha
vontade, as pessoas precisam de remédio. E eu penso que é uma marca que vai
ficar para a história da saúde no Brasil. Nós, hoje, estamos atingindo, como
disse ali na televisão, 1.213 farmácias. O importante é o que o nosso
companheiro disse, do Ministério da Saúde, que qualquer farmácia pode ser
conveniada: a farmácia da periferia mais longínqua, do lugar mais longínquo do
Brasil, se tiver energia elétrica e um computador, se estiver cumprido as
exigências do Ministério da Saúde ou da Anvisa para funcionar, essa farmácia
poderá estar conectada ao sistema e poderá fazer o mesmo que faz uma farmácia
que está encostada ao Ministério da Saúde, aqui em Brasília.
Então, prestem atenção no que pode
acontecer. Em poucos meses... vejam, nós estamos saindo de 121 para 1.213, e em
pouco tempo a gente pode sair de 1.213 para 15 mil, para 20 mil, para 30 mil
farmácias, chegando à totalidade das farmácias brasileiras e, portanto,
atendendo à totalidade das pessoas que precisam desse remédio.
E por que durante muito tempo eu pensei
nisso? É porque nas minhas andanças pelo Brasil, ao longo de muitos e muitos
anos, a coisa que mais me preocupava – e aqui eu estou vendo companheiros
médicos – era uma pessoa sair do médico com uma receita na mão, passar numa
farmácia, olhar o preço do remédio e dizer para o farmacêutico: “depois eu
venho buscar.” Levava a receita para casa, colocava a receita dentro do armário
ou no criado e muitas vezes não ia buscar, ou porque não tinha o dinheiro para
buscar ou porque, muitas vezes, morria antes de ter o dinheiro. Essa é uma
realidade visível nos dias de hoje.
E nós temos farmacêuticos
espalhados por este país afora que, muitas vezes, dão até remédio de graça para
um coitado que não pode pagar. Muitas vezes, quando você vê uma mãe ir atrás de
um remédio ou um senhor de idade, ou uma senhora, aí você sabe que ele não vai
voltar, porque quando a gente pergunta o preço e não compra é porque a gente
não tem dinheiro. Isso vale para remédio, para sapato, para roupa, ou seja, se
a gente perguntou o preço e não mandou embrulhar, é porque a gente não vai
levar. E, sobretudo, remédio, porque quando você sai do médico e não conseguiu
receber aquele remédio, o médico te deu aquela receita para você começar a
tomar ontem, não para você começar a tomar daqui a um mês. E, lamentavelmente,
não há possibilidade ainda, os médicos e a tecnologia não avançaram tanto, a
ponto de a gente falar para a doença: olhe, espere um pouco, quando eu tiver
dinheiro você volta a me atacar que eu vou tomar o remédio para lhe combater.
Não chegamos a esse ponto ainda, espero um dia chegar.
Então, o que está sendo lançado
hoje aqui, eu sei que foi muito duro, sei de muitas horas de reuniões, de
conversas, foi um trabalho que, eu tenho certeza, as pessoas que têm
hipertensão e diabetes, nesse primeiro momento, serão eternamente agradecidas
ao esforço que cada um de vocês fez. E, obviamente, que nós temos muito para
avançar.
Eu vi, ali, na exposição, um
remédio que custa na farmácia 111 reais, e que o seu pai, Marinho, vai poder
comprar por 11 reais. Uma coisa grave é que muitas vezes as pessoas gastam uma
parte do seu salário nesse remédio, sobretudo nas cidades em que as pessoas
vivem com o salário da Aposentadoria Rural. Quando a pessoa recebe os seus 300
reais, uma parte... Veja, se ela tiver que gastar 111 reais num remédio, foi um
terço do seu salário. Ela agora vai poder, com 11 reais, comprar um remédio que
comprava por 111, ou vai poder comprar com três reais o remédio que comprava
com 37.
Possivelmente, no meio de nós, quem
nunca teve esse problema não tem sequer a menor dimensão da alegria e de quanto
as pessoas vão abençoar vocês, quanto entrarem na farmácia, pedirem aquele
remédio e perceberem que estão pagando 90%, 80% mais barato do que pagavam
antes, é um ganho extraordinário. Nós, seguindo a orientação dos nossos
especialistas, pegamos alguns tipos de remédio que são mais utilizados por um
tipo de doença, que envolve um contingente muito grande de pessoas. E, hoje, no
caso da hipertensão, não são apenas as pessoas da terceira idade, como
habitualmente 20 anos atrás a gente imaginava que era. Eu estou vendo um monte
de pessoas, novas ainda, já tomando a pastilhinha, colocando debaixo da boca
para abaixar a pressão.
Eu sonho – já tinha falado com o
Humberto, falei com o Saraiva – que um dia a gente vai conseguir, além de tudo
isso, fazer com que cada um de nós assuma o compromisso de andar uma hora por
dia. Não tem horário, não tem que ser cedo, não tem que ser à tarde, não tem
que ser à noite, é na hora que pode. Da mesma forma que você atende outras
necessidades do corpo humano, você tem que atender essa necessidade. Eu,
inclusive, acho que esse é um processo de educação. Ontem, eu até brinquei com
os nossos companheiros da Saúde, que a gente deveria fazer uma cartilha para a
escola e dar para as crianças cobrarem dos avós e dos pais. A gente pode ter
divergência entre ministros, entre deputados, entre irmãos, mas quando um filho
pede para um pai fazer uma coisa, ou pede para um avô ou avó fazer uma coisa,
eu duvido que a gente recuse, sobretudo se for neto. Se tem uma coisa que avô
sabe fazer é ser dengoso, com os netos, como ele não foi com os filhos dele. E
será ainda mais ainda com os tataranetos, com os bisnetos.
Então, o lançamento deste
Programa... tem estado que ainda não tem, não é, Saraiva? Nós temos estados que
não têm farmácias ligadas à cadeia que está conveniada agora, hoje. Mas os
estados que ainda não têm poderão ter, a partir de amanhã. Na hora em que for
publicado no Diário Oficial, se o cidadão tiver um computador, tiver cumprido
as regras para criar a farmácia e tiver um telefone, ele faz a ligação, entra
direto aqui e já está pronto, aí ele já pode vender em qualquer estado, em
qualquer cidade do Brasil.
Neste momento, para não dizer que é
só Minas Gerais, Dr. Rosinha, eu vou dizer o seguinte: o estado do Paraná vai
começar com 102 farmácias populares, das quais 70 serão em Curitiba. Na capital
serão 70 e, depois, mais 12 municípios fora da capital, terão Farmácia Popular,
porque estão nessa rede de farmácias conveniadas. Mas se você fizer um trabalho
lá de incentivo, a gente pode ter, em dois meses, todas as farmácias de todas
as cidades do estado do Paraná conveniadas e participando disso aqui.
O Rio Grande do Sul vai começar com
142 farmácias, das quais 68 estão na capital e 49 em outras cidades do
interior. Minas Gerais vai começar com 103 farmácias, das quais 57 na capital e
30 em outras cidades. Rio de Janeiro vai começar com 176 farmácias, das quais
138 serão na capital, e 21 em outras cidades. E São Paulo vai começar com 490
farmácias, porque parece que as redes estão mais fortes em São Paulo. São Paulo
vai começar com 490 farmácias, a capital vai ter 287 farmácias, e o interior
vai ter 60.
Isso significa o quê? Isso
significa que vai ficar muito mais fácil a pessoa que mora numa cidade grande,
que tem uma periferia grande, encontrar, próxima da sua vila, da sua casa, uma
farmácia que está conveniada, porque outras poderão entrar. Ao invés de a
pessoa sair, pegar um ônibus para localizar uma farmácia que vende remédio mais
barato, a farmácia vai procurar a pessoa na sua vila e dizer: “estou aqui, por
favor, compre de mim.” Aí o cidadão vai poder tomar o seu remédio mais barato.
Eu acho que tem determinadas coisas
num programa como esse, que é a realização de um sonho. Essa é a realização de
um sonho porque somente quem guardou uma receita no armário, no criado-mudo,
sabe o valor disso. Somente quem guardou é que sabe o valor disso aqui.
Quando eu viajava muito, as pessoas
entregavam para mim assim: as pessoas pegavam um papelzinho deste tamaninho,
entregavam assim, dobrado na mão, como se fosse um segredo de estado. Quando eu
pegava, abria, estava escrito lá: “por favor – eu não era Presidente, estava
longe ainda de ser – Lula, me ajuda a comprar esse remédio.” Às vezes a gente
ajudava, às vezes não ajudava, porque também não podia ajudar. Eu acho que
agora o governo, através das nossas políticas de saúde, encontrou um jeito de começar
a dizer: para a grande parte das doenças de uso contínuo, para as pessoas que
precisam comprar remédio todo mês, não vai precisar mais ficar com a receitinha
na mão, porque vai poder entrar em qualquer farmácia e comprar o remédio a
preço barato. Este é um fato importante.
Os nossos companheiros da Fiocruz
sabem da relevância dos investimentos que estamos fazendo para a gente produzir
mais remédios, porque a gente pode aumentar o número de remédios. A gente só
não vai produzir remédio para vender na Farmácia Popular se for remédio para
não cair cabelo, por exemplo, não vamos fazer. Mas a gente vai ter que avançar,
porque tem outras necessidades.
Então, eu estou feliz. O Ceará,
Secretário – Vossa Excelência que acaba de ser eleito hoje
Secretário-Presidente da entidade que representa os secretários de Saúde – o
seu estado, o Ceará, vai ter 49 farmácias populares, da quais 32 serão em
Fortaleza. Isso, um dia só que você ganhou, já ganhou tudo isso aqui de
farmácia.
A Bahia, Jaques Wagner, para você
saber, a Bahia vai ter 29, começa hoje com 29. Amanhã já tem, se quiser
comprar. Vai ter em 21 Salvador. Deixa eu ver quem mais está aqui? Rio de Janeiro,
já falei. Alagoas, deixa eu ver Alagoas aqui. Rio Grande do Norte? Alagoas vai
ter sete, as sete na capital, mas pode, daqui a um mês, se você trabalhar um
pouco, João Caldas, ter 80, ter 100, porque não é ficar esperando o Ministério.
Este Programa é importante, porque
se uma pessoa sair à noite para comprar o remédio, chegar na farmácia e não
tiver aquele selinho, ali, de Farmácia Popular, o cidadão vai falar: “escuta
aqui, por que você não se inscreveu? Por que você não entrou em contato com o governo
para vender esse remédio para a gente? Então, a própria sociedade... Eu quero
ver um farmacêutico, por mais esperto que seja, quando uma cidadã de 70 anos
entrar na farmácia com a receita e não tiver o selinho lá, e ela falar: “escuta
aqui, porque você não fez o convênio ainda?” E podem ficar certos que o
farmacêutico vai falar: “não, espere aí, que eu vou fazer, eu vou fazer porque
eu não quero três ou quatro desses aqui... deixando de fazer”. Rio Grande do
Norte, 11, das quais nove na capital e três... Mas, nossa prefeita de Mossoró,
nossos deputados do Rio Grande do Norte, é o seguinte: podem chegar amanhã,
procurar e reunir todos os farmacêuticos da cidade e falar: vocês cumprem as
exigências? Têm aquilo lá? Têm telefone? Têm computador? Podem entrar hoje e na
semana que vem já estarão inauguradas. E é uma coisa interessante, porque não
vai precisar nem de inauguração nem de político lá, fazendo discurso. É direto
entre a sociedade e o farmacêutico, não vai ter ninguém lá, palanque, não vai
ter nada disso.
Saraiva, o Humberto Costa, que
começou a Farmácia Popular, não está aqui, mas eu quero terminar dizendo o
seguinte – companheiros da Saúde, todos vocês, companheiros empresários do
setor de farmácia que pertencem a essa rede que fez o convênio com o governo,
ministros –, eu quero dizer para vocês: guardem esta data. Deputados, vocês que
fazem parte da bancada de médicos da Câmara, porque a Câmara tem um partido
próprio – o partido dos médicos, da saúde, é um partido próprio – a única coisa
que dá unanimidade lá é não mexer na saúde.
Eu quero dizer que vocês estão de
parabéns. Podem ficar certos de que, a partir de amanhã, depois de amanhã,
quando as pessoas entrarem numa farmácia e tiverem acesso àquilo que para elas
é mais sagrado, mesmo que elas não conheçam vocês, mesmo que elas nunca tenham
visto vocês, vocês vão dormir mais leves, porque vocês fizeram um bem
incomensurável para um ser humano, sem pedir cartão de visita, sem pedir nada.
Ela não conhece ninguém, ela fez, ela vai comprar. Então, é uma coisa realmente
importante. Eu tinha muita coisa para falar, mas não vou falar mais. Eu só vou
falar do Farmácia Popular, porque quando nós pensamos no dentista, a coisa que
também mais me incomodava no Brasil, Nilcéa, você que é médica, doutora,
reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a coisa que mais me
incomodava no Brasil é que a unha do dedão do pé era tratada como uma questão de
saúde pública e a boca não era. O que mais me incomodava, neste país, era isso.
Então, nós fizemos o Brasil
Sorridente, que eu acho que é uma revolução neste país. Eu fui diretor do
departamento médico do Sindicato. Lá, Greenhalg, às vezes, segunda-feira, isso
30 anos atrás, o trabalhador chegava ao Sindicato e falava: arranca um dente.
Não adiantava o dentista dizer: não, não vou arrancar, eu posso recuperar. Não,
arranca porque eu ganho o dia, eu não vou trabalhar na segunda se eu levar o
atestado de que arranquei, e ganho o dia. Tratamento de canal era uma coisa tão
chique que pobre não fazia. Eu ficava vendo um determinado tipo de brasileiro,
com aparelho na boca, todo bonitinho, consertando, com arame, elástico, e as
coitadas das meninas de 16... Meninas de 16, 17 anos, meninos no Brasil
inteiro, não podiam mais rir porque não tinham um dente na boca. Que é do
Nordeste, do Norte, da periferia de São Paulo, do Rio de Janeiro, sabe do que
eu estou falando. Então, não é justo que essa pessoa não possa tratar o seu
dente.
Agora, Saraiva, eu preciso fazer um
pouco de publicidade, porque esses dias eu me deparei com uma pessoa se
queixando que queria ajuda para tratar de dente, ela mora num lugar que tem e
ela não sabia, Se a gente não falar que existe, as pessoas não sabem. E hoje
nós estamos dando, através do Brasil Sorridente, Silas, para você e para
qualquer pessoa pobre deste país, o direito à ortodontia. Eu demorei muito para
aprender esse nome, porque ele é chique, é difícil de falar, isso era coisa
para rico, não era para pobre, não.
Então, o que nós estamos fazendo,
na verdade é o seguinte, é dizendo a todos os brasileiros e brasileiras: independentemente
da sua origem social, independentemente do berço em que você nasceu, na medida
em que você virou cidadão ou cidadão deste país, você tem que ter os direitos
elementares garantidos. E o direito de tomar o seu remédio e o direito de
sorrir são dois direitos sem os quais a Humanidade não seria essa coisa boa que
é.
Portanto, parabéns, que Deus
abençoe todos vocês por este dia de hoje".
Fonte: http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/luiz-inacio-lula-da-silva/discursos/1o-mandato/2006/1o-semestre/23-03-2006-discurso-do-presidente-da-republica-luiz-inacio-lula-da-silva-na-cerimonia-de-lancamento-da-expansao-do-programa-farmacia-popular-do-brasil/view
Nenhum comentário:
Postar um comentário