domingo, 2 de janeiro de 2011

Um farmacêutico na posse de Dilma Rousseff.

Ontem, dia 01/01/2011 (cabalístico não?), tive a oportunidade de, pela primeira vez, assistir a posse de um Presidente da República. Confesso que desde 2002 tinha esse sonho, mas só consegui concretizá-lo no primeiro dia de 2011. Só não imaginava que seria uma posse tão simbólica, pois é a primeira vez que uma mulher assume o cargo mais alto do poder executivo do Brasil, sucedendo o primeiro operário a exercer a presidência da república. Mais simbólico ainda é o fato dele “ter dado certo”.
A posse ocorrer no primeiro dia do ano traz consigo toda a responsabilidade de conseguir atender aos mais variados anseios, que provavelmente, foram temas das orações e pedidos a Iemanjá feitos após a meia-noite. Olhava nos olhos dos presentes e via de tudo: militantes, turistas, filhos de alguns dos citados anteriormente e os que foram desejar boa sorte e dar boas vindas à nova moradora do Palácio da Alvorada. Debaixo de chuva e sol (não necessariamente nesta mesma ordem), fiquei por mais de 6 horas no evento, indo de um lado para o outro. Consegui ficar a pouquíssimos metros do Rolls-Royce que trouxe Dilma Rousseff ao Congresso Nacional. Depois corri até o parlatório com o intuito de poder ver seu primeiro discurso. Foram horas excitantes!
Como farmacêutico, defensor e lutador do SUS, estava presente por poder perceber as mudanças recentes em meu País. No que diz respeito aos avanços na Assistência Farmacêutica comentei em outra postagem. Esse Governo que se encerra conseguiu avançar em áreas as quais considero nobres.
Enquanto acompanhava o evento, passei a observar os que haviam se disposto a estar presente num momento especial da nossa democracia. O que os levava a estar ali? Com toda a certeza não estavam pela simples falta do que fazer. Algo maior os movia. As mulheres penso terem um motivo a mais, afinal de contas, pela primeira vez o gênero se sente representado efetivamente pelo chefe do poder executivo. Neste instante, uma mulher me chamou a atenção. Parada em frente ao posto de primeiros-socorros montado logo abaixo do Pavilhão Nacional, com um jeito humilde, não desgrudava os olhos do telão montado ao lado do Palácio do Planalto. Não me lembro de tê-la visto piscar por alguns instantes. Falsamente protegida pela chuva e agarrada a sua bandeira, aquela mulher de baixa estatura se sentia enorme por poder acompanhar aquilo tudo. Até obter o registro fotográfico que disponibilizo nesta postagem, levei um tempo olhando para ela. O que será que passava por sua mente? Uma prece? Uma esperança sem fim? Seria um simples agradecimento? Bom, algo maior do que o clima a moveu até a Praça dos Três Poderes.
Nos olhos e na posição da distinta mulher milhões de brasileiros estavam representados. Homens e mulheres, ricos e pobres, diferentes raças e credos, todos sem exceção. Mesmo aqueles que só de dirigiam a Dilma, durante e após o processo eleitoral,  como “terrorista”, “divorciada”, “antipática”, também estavam lá representados.
É um novo Governo e um novo ano. Espero que todos possam estar presentes na próxima posse presidencial, satisfeitos como eu e a mulher da foto estavam. E que sigamos os ensinamentos que ela nos passou: empunhemos nossa bandeira sempre, observemos a tudo atentamente e saibamos agradecer.
Feliz 2011!

A foto foi tirada pela pessoa que vos fala.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Estudante de farmácia na África do Sul.

Como última postagem do ano, além de desejar um ótimo 2011 aos meus 2 ou 3 leitores, resolvi homenagear o movimento estudantil de farmácia com um texto feito pelo amigo (amizade iniciada no ano que se encerra) Antonio Bonfim. Mais do que divulgar um texto de um amigo, penso ser isso simbólico pra mim, já que a juventude me encanta, ainda mais a parcela dos jovens que se dispõem a lutar. Lembro-me, ao vê-los, de minha juventude, encerrada não faz muito tempo. Com os erros e acertos próprios dessa idade, o importante é acreditar que se pode fazer a diferença.
Segue o texto escrito por Antonio Bonfim...boa leitura:


Experiências de um estudante de Farmácia no Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes

Senti-me honrado em receber o convite para compor a delegação presente no Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes. Tendo inicio durante a 2ª guerra Mundial, sempre com o objetivo de manter a paz, esse evento completa a sua 17ª edição em 2010, com o tema: “Por um mundo de Paz, solidariedade e transformação social, derrotemos o imperialismo”. A cidade sede foi Pretória, na África do Sul, onde houve homenagens a Fidel Castro e o grande líder Nelson Mandela.
Participar de um evento, desse porte, foi uma experiência inigualável, o evento contou com delegações de mais de 140 países, somando mais de 17 mil pessoas, o que possibilitou uma interação entre os povos. Pude conhecer um pouco da cultura dos outros países, suas realidades políticas e socializar com eles a realidade brasileira no contexto, diante das transformações sociais aqui vividas.
Para mim, um dos dias mais proveitosos, o 3º dia, chamado de “Dia da América”, onde tivemos mais contato com nossos amigos latino-americanos, e pude conhecer a realidade de países, como Cuba, por exemplo. Questões como a defesa de uma educação publica e de muito mais qualidade foram pautadas e defendidas. Houve participação de entidades brasileiras como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), num debate proveitoso sobre todo o processo político vivido pelo Brasil, desde a época da ditadura, ate os dias atuais, com a eleição do Presidente Lula e da nossa primeira Presidenta, Dilma Rousseff, fato já conhecido pela maioria dos presentes.
Um dos principais atividades realizadas durante o Festival, foi o Tribunal Anti-imperialista, composta por toda uma corte, com juízes, advogados, testemunhas etc. onde o imperialismo foi condenado como culpado pelas agressões à humanidade como: as ocupações israelenses a territórios palestinos, os diversos danos causados ao meio ambiente, o fim de muitos recursos naturais, o impedimento de avanço em muitas mudanças sociais, foram algumas das atrocidades imperialistas ouvidas em testemunho. Este Tribunal, não representa caráter jurídico, mas é de suma importância para despertar conhecimento e conscientização a população, sobre esse sistema, presente na sociedade.
Procurei estreitar relações entre os lideres de entidades ligadas ao movimento estudantil e juvenil internacionais, entre estudantes da área da saúde, e como Coordenador de comunicação e intercâmbio da ENEFAR (Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia) deixei contatos que possibilitassem a procura pela entidade, e claro, tornando a conhecida por eles.
Outra experiência marcante, vivida por todos os brasileiros, foi o grande carinho que os estrangeiros têm pelo Brasil, todos queriam um autografo na camiseta, tirar foto com as brasileiras, ganhar presentes, onde viam um brasileiro com a camisa da seleção, gritavam de longe sobre a Copa de 2014, e o nome de álbuns jogadores, ninguém ficou parado quando as bandas brasileiras “Passarinhos do Cerrado” e “Adoraroda” se apresentaram no Festival Musical, ao som do nosso lindo Samba. O Brasil é celebridade! E voltei com muito mais orgulho de ser brasileiro, e com uma outra visão da África do Sul, que é um belo país, com inúmeras belezas naturais, cidades lindas e um povo muito acolhedor.

Antonio Bonfim
Coordenador de Comunicação e Intercâmbio – ENEFAR

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Por falar em humanização....

Acabo de chegar de uma confraternização de despedida de 2010 com servidores de uma secretaria de assistência social. Como toda boa festa de fim de ano, ocorreu o tal do amigo-ladrão (versão sacana e mais econômica do amigo secreto), conversas, cervejas e alguma interação entre os presentes. Para não ficar de fora, emiti algumas opiniões e acabei ouvindo relatos que me fizeram refletir.
Estavam presentes psicólogos, assistentes sociais, servidores municipais de nível médio e beneficiários dos diversos programas coordenados pelos presentes, entre outros. Acabei por conhecer realidades que foram geradoras desta postagem. Uma mola propulsora que me trouxe a pensar sobre a importância de um pequeno gesto que poderia mudar algo maior.
Uma das histórias foi narrada por uma advogada que participa de um dos programas de geração de renda. Os principais beneficiários são pessoas de baixa renda que moram em cortiços de uma grande cidade. Disse ela...
“Nosso projeto busca a inclusão produtiva, através de projetos sociais de geração de renda, dando a oportunidade de participarem de uma cooperativa que não se basta em garantir simplesmente uma remuneração. Certo dia, após uma reunião exaustiva acerca do gerenciamento do recurso obtido pelos cooperados, começamos a conversar com as pessoas beneficiadas sobre quais seriam as principais alterações a serem realizadas no programa. Ouvimos de tudo um pouco: desde a mudança da cor das paredes até outra postura das participantes. As sugestões ousadas quase que buscavam uma grande revolução. Propostas quase que inexeqüíveis foram expostas. Praticamente todas falavam, menos uma. Ela nos observava com os olhos atentos, tal qual uma criança ansiosa por demonstrar seus sonhos e desejos. Entendendo que o assunto já havia se esgotado já que quimeras foram apresentadas, perguntei se havia mais alguma reclamação ou sugestão. Aquela que até então estava calada, questionou:
- Eu queria saber quando vão consertar a geladeira?
Disse que não estava unicamente sob nossa capacidade de solução e sim do poder Executivo, já que dependia de toda a burocracia necessária para o simples conserto de uma geladeira. Já que o questionamento havia me gerado curiosidade extrema, acabei por perguntar:
- Mas qual a angústia com a geladeira? Se quiseres guardar algo e mantê-lo gelado, tem o bar do lado que pode nos emprestar seu freezer.
Ela respondeu:
- É que hoje acordei com uma “baita” vontade de tomar uma água gelada! E só aqui eu consigo isso."
Aquela pobre mulher, que dependia de um programa social para obter algum valor financeiro para sua sobrevivência, almejava apenas que a geladeira estivesse funcionando, para que pudesse tomar “água gelada”, artigo de luxo em sua casa.
A única lógica que consegui extrair disso foi de que grandes revoluções são necessárias. Entender os anseios e desejos dos outros devem ser buscados por nós sempre. Mas não podemos nos perder na macro solução. Às vezes, um pequeno gesto, que para nós pode ser visto como mínimo, é grande demais para quem recebe. Querer mudar o mundo é o desejo de todos, mas mudar a vontade de um pode ser um bom começo. Não estão errados os técnicos que coordenam os programas aqui comentados....só é preciso entender qual o desejo imediato dos que poderão usufruir de tudo isso. Com certeza não são desumanos nem frios, muito pelo contrário. Ocorre que o desejo de mudança é tão grande que acabam por deixarem de ver o "pequeno".
A história acima me emocionou muito. Os que me conhecem sabem que choro com propaganda de margarina. Por isso quero perguntar aos meus 2 ou 3 leitores: quer um copo de água gelada?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Cartinha de um farmacêutico para o Papai Noel

Amigo meu pediu para postar o texto abaixo:
Confesso que não gosto muito desse período de festas. Desde que me lembro por gente, todo o Natal me causa tristeza. Só me vem a cabeça as famílias que não conseguem participar do impulso consumista que assola boa parte da população. Claro que me lembro do aniversário de Cristo e era bom estar em família....mas sempre fico triste, não tem jeito!
Este ano, tentei superar isso e fazer um pouco mais para mudar a situação de alguém. Busco fazer isso durante o ano inteiro, mas não custava nada participar de outra forma. Vi no jornal local que o correio disponibilizava cartas enviadas ao Papai-Noel (que aliás, existe...foi a coca-cola que nos apresentou). Pensei: “É isso!”. Munido de boas intenções me desloquei até a agência dos correios. Na porta, encontrei um rapaz, aparentando ter uns 25 anos. Em suas mãos, uma carta endereçada ao velho Noel. Depois de uma rápida explicação de minha disposição consegui levar a carta comigo. Chegando em cassa abri o envelope e passei a ler aquelas mal traçadas linhas...
“Querido Papai Noel,
Tudo bem? Bom, não sou de escrever muito, mas resolvi tentar mais uma vez esse ano me comunicar com o senhor. Não sei se o senhor se lembra, mas escrevi cartinhas endereçadas a você dos meus 6 anos até os 13, mais ou menos. Não posso reclamar, afinal de contas, o senhor se esforçou. Uma vez pedi um cachorro e ganhei um lindo quadro com um Dalmata pintado. Outra vez pedi um uma bicicleta...ganhei uma joelheira com um bilhete escrito pelo senhor: “Aos poucos ela chega”. Numa última tentativa, pedi um vídeo game e ganhei um saquinho com 10 fichas de fliperama.
Sabe, hoje sou farmacêutico. Fiz a faculdade com alguma dificuldade, mas consegui me formar. É uma profissão linda, sempre admirei, mas acho que precisa melhorar algumas coisas. Estou quase me frustrando. Por isso, gostaria por meio desta, de pedir algumas coisas para o senhor:
- Faça com que o piso salarial melhore. Paguei muito caro para me formar e o salário não ajuda muito. Poderia fazer ser aprovado o Projeto de Lei que cria um piso salarial para a minha categoria.
- Faça com que o Projeto de Lei que transforma a Farmácia em Estabelecimento de Saúde seja aprovado.
- Faça com que haja maior reconhecimento social de minha profissão. Muitos não sabem exatamente o que faz um farmacêutico.
- Peço que o Projeto de Lei que dá a profissão farmacêutica a jornada máxima de 30 horas semanais também seja aprovado.
- Peço que haja condições dignas de trabalho para o profissional. Que nós tenhamos, de fato, condições de exercer a nossa profissão.
Bom, era isso. Agradeço desde já e fico no aguardo.”

A cartinha me comoveu. Depois de muito pensar, respondi a carta, como se Papai Noel fosse...
“Prezado farmacêutico,
Sua profissão é linda de fato. Sabe, se existem problemas hoje, eles já foram maiores no passado. Tem idéia de como se pode melhorar? Vou te ajudar...
- Filie-se ao sindicato dos farmacêuticos do seu estado e participe.
- Participe das atividades organizadas pelos Conselhos Profissionais e pelas Associações Farmacêuticas.
- Não esqueça de quem mereceu seu voto nas eleições, isso ajuda a cobrar deles. Ou seja, participe como cidadão efetivamente.
Ou seja, não aguarde...FAÇA!
Esse pode ser um bom começo....
Abraços.”

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Homenagem a quatro farmacêuticos

Apesar da pouca idade, 39 anos (com aparência de 38), pude acompanhar diversos avanços da sociedade. Saí do telefone público (vulgo orelhão) e cheguei ao celular. Saí do fliperama e hoje jogo Playstation. Tive Educação Moral e Cívica (EMC) e Organização Social e Política Brasileira (OSPB) na escola e hoje sabemos que tudo isso era oriundo da ditadura militar. Mas nada disso me dá mais orgulho de ver o quanto avançamos na assistência farmacêutica. Falo isso sem medo de errar. Sei que há muito por fazer: melhores condições de trabalho aos farmacêuticos que atuam no setor público e privado, melhor remuneração, uma graduação que atenda as demandas da sociedade são alguns dos desafios. Não são poucos os obstáculos, mas já provamos que é possível fazer o sonho se tornar realidade!
Sou de uma geração de farmacêuticos que faziam a faculdade de farmácia em 3 anos (a bioquímica era opcional). Num tempo em que farmacêuticos presentes em drogarias eram uma quimera, pois a constatação se apresentava como lenda. Mesmo assim lutamos. Remamos contra a maré e seguimos ao pé da letra um poema de Bertold Brecht intitulado “Nada é impossível de mudar”:
"Desconfiai do mais trivial ,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar."
Bertold Brecht

Com esse espírito, quatro farmacêuticos se dispuseram a dirigir o Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (DAF), da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégico do Ministério da Saúde. Instituído em 2003, no início do primeiro mandato do Governo Lula,  o DAF tinha e tem como princípio a defesa da assistência farmacêutica. Nesses 7 anos, Norberto Rech, Dirceu Barbano, Manoel Roberto e José Miguel cumpriram um papel fundamental na condução do Departamento, enquanto diretores. Tenho a honra de conhecer a todos e poder chamá-los de “amigos de luta”. Digo isso pois todos se formaram, principalmente, nas batalhas encaminhadas por algumas de nossas entidades farmacêuticas. Entre muitas atribuições destes lutadores, gostaria de citar algumas: Norberto Rech foi presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (FENAFAR), Dirceu Barbano foi presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo, Manoel Roberto foi diretor do Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo e Conselheiro Federal pelo mesmo Estado e José Miguel foi presidente do CRF-SC e Conselheiro Federal pelo mesmo Estado.
Tive o prazer de estar na comissão organizadora do V Fórum Nacional de Assistência Farmacêutica, que ocorreu nos dias 14 e 15 de dezembro de 2010, organizada pelo DAF. Neste evento, os 4 farmacêuticos estiveram presentes numa mesa, moderada pela Célia Chaves, atual presidente da FENAFAR, falando sobre a linha do tempo da assistência farmacêutica de 2003 a 2010. Foi uma das cenas mais marcantes de minha vida. Ver os meus companheiros falando a uma platéia respeitável, me fez pensar: “Nossa, como valeu a pena acreditar”.
Essa é uma pequena homenagem a essas ilustres representações da categoria farmacêutica. Obrigado pela oportunidade de constatar o quanto vale a pena lutar.