No passado tivemos a importante experiência da Ceme,
que nos permitiu aprender com os acertos e erros acumulados em sua implantação
Escrito por: José Gomes Temporão
Publicado em:O Globo - 30 de novembro de 2012
"Em um mercado global que
movimenta um trilhão de dólares ao ano, o Brasil está entre os dez mercados
farmacêuticos mais importantes. Vivemos um momento de franco processo de
envelhecimento da população, com a predominância das doenças crônico-degenerativas
cujo controle implica o uso por longos períodos de drogas cada vez mais caras e
dependendo do governo para seu uso e acesso. Como garantir o acesso da nossa
população aos medicamentos essenciais? No passado tivemos a importante
experiência da Ceme, que envolveu produção, aquisição, distribuição,
desenvolvimento e pesquisa de medicamentos, e que nos permitiu aprender com os
acertos e erros acumulados em sua implantação.
A partir de 2000, a política de
genéricos cria uma mudança estrutural no mercado e na política de acesso. Hoje,
cerca de 25% do mercado farmacêutico são de genéricos e em processo crescente
de expansão.
Já durante o segundo mandato do
presidente Lula, são introduzidas inovações que estão transformando
estruturalmente a dinâmica desse setor. O licenciamento compulsório do
Efavirenz em 2007, medicamento utilizado no tratamento da Aids, no qual pela
primeira vez o Brasil utilizou as prerrogativas do acordo Trips, teve grande
impacto não apenas no Brasil e foi um divisor de águas das questões referentes
a propriedade intelectual, medicamentos e saúde pública no país.
A partir daí, o Ministério da
Saúde dá início à implantação da política de fortalecimento do Complexo
Industrial da Saúde. Partindo de uma nova visão das relações entre saúde e
desenvolvimento desenvolve-se uma estratégia inovadora que busca reduzir a
dependência de tecnologia através de parcerias entre empresas públicas e
privadas, utilizando o poder de compra do Estado como fator indutor do
processo. Esta política envolve a parceria com o BNDES como agente de fomento,
a criação do Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde como espaço de
formulação e desenho de parcerias público- privadas para desenvolver e produzir
no país tecnologias de interesse para a saúde pública, e demarca uma mudança de
paradigma.
Um exemplo é a mudança na Lei de
Licitações, autorizando a dispensa no caso de parcerias entre laboratórios
públicos e privados para a transferência de tecnologia e fabricação de produtos
prioritários para o SUS, sancionada pela presidente Dilma Roussef.
Este conjunto de medidas, aliado
ao aperfeiçoamento da atividade regulatória da Anvisa, cria um ambiente
político, jurídico e institucional que muda radicalmente a política de acesso a
medicamentos e a outras tecnologias no país.
Entretanto, o Brasil não pode
continuar dependente das patentes das indústrias de pesquisa e desenvolvimento,
sem participar deste seleto clube de indústrias farmacêuticas que desenvolve
medicamentos.
Isto implica enfrentar novas
questões como a proteção para as nossas invenções, ou das informações
submetidas para aprovação da comercialização de novos medicamentos junto ao
órgão regulador, que devem ser repensadas em favor das empresas que se aliem ao
esforço do governo no sentido de desenvolver e produzir produtos no Brasil.
É preciso também mostrar todas as
vantagens que representa desenvolver moléculas aqui, não somente para a
ciência, a pesquisa, o mundo acadêmico, ou para as empresas, mas também para a
saúde pública. Para tal poderemos nos inspirar na adoção de novas abordagens
associando os governos, as empresas e o terceiro setor como algumas já
existentes na Europa como o "Innovative Medicine Initiative", da
Dinamarca, e o "Top Institute Pharma" na Holanda, que se dedicam a
construir redes colaborativas entre a indústria, a academia e representações de
pacientes."
Imagem extraída de: http://matematicadeaula.blogspot.com.br/2010_04_01_archive.html
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