Entrevista | 26.OUT.12 - 21:00
"Não posso esperar o dinheiro cair do céu"
Por Luís Artur NOGUEIRA
O paulistano Alexandre Padilha, que comanda
o Ministério da Saúde desde o início do governo Dilma Rousseff, comprou briga
com várias operadoras de planos de saúde, ao proibi-las, em julho, de vender
novos contratos, enquanto não cumprirem os prazos de atendimento, determinados
pela Agência Nacional de Saúde (ANS). Filiado ao PT, Padilha participa
ativamente da campanha em várias cidades paulistas, mas nega ter pretensões de
ser o próximo “poste” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já adotou
a expressão, e disputar o governo estadual, em 2014. No entanto, o ministro
admitiu a correligionários que pretende transferir, em breve, o seu domicílio
eleitoral de Santarém, no Pará, para São Paulo. Padilha conversou com a
DINHEIRO logo após o debate entre o tucano José Serra e o petista Fernando
Haddad, na sede da Band, em
18 de outubro.
As operadoras de planos de saúde foram
pegas de surpresa com a suspensão?
Claro que não. As regras foram construídas
por meio de consultas públicas e discutidas com a população e os órgãos de
defesa do consumidor. A partir daí, o Ministério da Saúde criou um ciclo de
monitoramento que parte da opinião do usuário. Estabelecemos o tempo máximo que
os planos de saúde podem ter para atender uma pessoa em consultas clínicas, exames
e cirurgias. É algo inédito no País, com avaliações trimestrais.
E qual é o balanço até agora?
Em julho, fizemos a primeira suspensão do
direito de venda, que atingiu 37 operadoras. Os planos punidos não podem vender
para novos clientes, enquanto não estiverem atendendo corretamente quem já tem
contrato com eles. Fizemos o segundo ciclo de suspensão neste mês, que atingiu
38 operadoras, sendo que 29 eram reincidentes. Faremos a terceira etapa em
dezembro.
A qualidade do atendimento dos planos vai
melhorar?
Acredito que sim. Estamos deixando claro
que a suspensão é para valer. Nós queremos dar um caráter pedagógico para as
operadoras.
Como o sr. avalia as greves de médicos
contra os planos de saúde?
É um processo de negociação entre os
profissionais e as operadoras. A lei que estabelece o papel da ANS limita a sua
competência nessas negociações salariais. Agora, o Ministério da Saúde sempre
torce para que essa negociação aconteça o mais rápido possível e não prejudique
a população.
Mas só torcida não adianta. O que acontece
quando a greve demora muito e prejudica o atendimento?
Quando houver qualquer tipo de paralisação,
as operadoras têm de garantir o atendimento, não só o de emergência, mas também
os atendimentos nos prazos estabelecidos para cirurgias, consultas e exames. É
importante deixar claro que o nosso monitoramento continua, inclusive nos
períodos de greve.
Como o sr. avalia o papel do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para evitar a concentração de
hospitais nas mãos de poucos grupos privados?
Existem regras estabelecidas e o Cade vai
zelar por elas, mas eu prefiro não me posicionar sobre esse tema. A preocupação
do Ministério da Saúde e da ANS vai ser sempre com a garantia do melhor
atendimento possível ao usuário.
O dinheiro da CPMF, extinta em 2007, ainda
faz falta para a saúde?
Nós temos duas grandes questões. Uma delas
é aprimorar a gestão para fazer mais com o que nós temos. Não posso ficar
esperando dinheiro cair do céu. Economizamos R$ 1,8 bilhão, em 2011, com a
mudança na forma de compra de medicamentos. Essa melhoria da gestão permitiu
colocar remédio de graça para hipertensão e diabetes na farmácia popular,
aumentando em quatro vezes o acesso das pessoas a esses medicamentos, e
reduzindo internações por diabetes.
E a outra questão?
Lutamos diariamente para aumentar o
orçamento para a saúde, como, aliás, já vem ocorrendo. A presidenta Dilma fez,
em 2012, o maior aumento nominal de recursos para a nossa pasta, e repetiu a
dose na proposta para 2013. Mais uma vez a saúde foi contemplada com a maior
verba .
Com a visibilidade que o Ministério da
Saúde lhe proporciona, o sr. se considera um candidato potencial ao governo de
São Paulo, em 2014?
Eu, em particular, tenho uma missão que a
presidenta Dilma me confiou, que é melhorar a saúde para a população
brasileira. Daí, acabo nem pensando sobre isso, pois há muito trabalho a ser
feito. A qualidade precisa ser uma obsessão diária do SUS, e o esforço de fazer
parcerias com Estados e municípios exige muito empenho. Isso é fundamental
porque são os prefeitos e os governadores que, na prática, organizam e
contratam os serviços conveniados.
Embora existam nomes fortes no PT, como o
da senadora Marta Suplicy, o do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o
do prefeito reeleito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, o seu nome tem
sido muito comentado na campanha paulistana. O sr. teria, inclusive, a
preferência do ex-presidente Lula...
Estou muito dedicado ao ministério. Não
tenho tempo para pensar em qualquer outra coisa
Entrevista disponível em: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/101838_10+PERGUNTAS+PARA+ALEXANDRE+PADILHA+MINISTRO+DA+SAUDE
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