domingo, 20 de novembro de 2011

Farmacêuticos(as) foram atacados(as) na mídia. E os outros preconceitos?

Nesta semana os(as) farmacêuticos(as) foram tristemente supreendidos(as) com o episódio da série "A grande família" da Rede Globo, o qual tem sido amplamente repudiado por entidades farmacêuticas, em virtude de uma das personagens que, interpretando um farmacêutico, burlou as legislações vigentes e acabou por ser um incentivador da automedicação. Por mais que respeitemos a liberdade dos meios de comunicação e do direito de se fazer humor, o programa prestou um desserviço no que diz respeito ao cuidado que os profissionais farmacêuticos têm em relação ao uso racional de medicamentos e de certa forma desrespeitou aos profissionais que têm no medicamento a visão de que estes são instrumentos de saúde. Não é a primeira vez em que isso acontece, por isso, devemos nos manifestar não apenas contra um dos canais de comunicação, mas contra todos os movimentos que primam por transformar os medicamentos em meros bens de consumo.
Nesta mesma semana (para ser mais exato, no dia de hoje) comemora-se o dia da consciência negra,  data  estabelecida pelo projeto lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. Foi escolhida a data de 20 de novembro pois foi neste dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. Esse é um dos dias no qual devemos nos lembrar da necessidade de combatermos os preconceitos raciais e a todos os outros preconceitos existentes.
Ontem ouvi de uma colega farmacêutica a descrição de 24 horas na vida de um farmacêutico que deveria nos fazer pensar...
"M.P.P.M, farmacêutico, acordou por volta das 8 horas da quinta-feira, 17/11. Tomou seu banho, arrumou-se, tomou uma xícara de café e partiu para seu local de trabalho. Pegou um ônibus lotado, irritou-se com o trânsito. Conseguiu, mais uma vez, chegar no horário no hospital, onde trabalha com a dispensação de medicamentos. Não foi um dia diferente dos demais. Discutiu com outros profissionais que não respeitavam seu papel frente a farmácia do hospital, foi criticado por pacientes inconformados,  que não encontraram seus medicamentos e acabou entrando em conflito com sua chefia por conta de novos projetos que ele apresentou, que poderiam melhorar a sua atividade, mas não encontrou apoio algum.
Às 12 horas saiu para o almoço. Comeu mal, pois os sentimentos ainda lhe afloravam e ele estava descontente com a primeira metade do seu dia. Voltou ao trabalho e as coisas não foram diferentes, agravadas por uma discussão com o setor de compras que não havia providenciado o seu pedido de aquisição de medicamentos para que estes não faltassem. Participou ainda de uma reunião da Comissão de Farmácia e Terapêutica que lhe fez pensar o quanto ainda se deve avançar para o efetivo desempenho da equipe multiprofissional, na busca da solução dos problemas dos pacientes.
O relógio apontava que o dia chegava nas suas 18 horas de duaração. Arrumou sua coisas e partiu para o ponto de ônibus, para mais uma jornada de retorno para sua casa. Viagem difícil. Abriu a porta de seu apartamento já tirando seus sapatos. Foi para a cozinha, abriu seu freezer, retirou uma lasanhha congelada e a depositou no microondas, acionando o botão para o tempo de preparação sugerido na caixa do condimento. Tomou seu banho, colocou a lasanha num prato e foi para a frente da TV assistir algo que o fizesse relaxar. Ligou na TV Globo e assistiu a série "A Grande Família". Ficou nervoso com o desrespeito com sua categoria profissional. Mal conseguiu jantar pois tinha que manifestar sua ira nas redes sociais. Entrou no twitter e no facebook. Bradou contra a Globo, ao mesmo tempo em que mudara de canal em repúdio. Pediu manifestação por parte das entidades farmacêuticas, lançou a campanha de que se assistisse outros canais de TV, menos o que houvera atacado sua profissão. Reclamou, nas redes, até às 23:30h. Desligou seu computador com uma certa tranquilidade pois sua revolta havia sido manifestada. Entendeu-se como um revolucionário. Havia cumprido seu papel de defensor da profissão que havia escolhido. Seu papel estava cumprido.
Acordou nas 8 horas do dia 18/11. Após o banho e sua xícara de café partiu para o emprego. Ainda irritado comentou sua noite com alguns amigos que havia encontrado na entrada de seu hospital. Partiu diretamente para a sala de café e começou a narrar sua indignação. Reclamou da Globo e do seu salário. Uma das frases soltas em seu momento de indiganção foi: "A TV GLOBO denegriu a imagem do farmacêutico". Um pouco mais calmo passou a ouvir e contar piadas. A primeira, foi uma piada racista. A conversa continuou e passou a reclamar de sua tia que havia optado por participar de uma igreja evangélica. Criticou o ato. Ao rumar-se para seu local de trabalho ouviu a crítica de um dos seus chefes, homossexual assumido e pensou: "Esse mundo está perdido...eles ainda vão dominar o mundo". Chegando em sua farmácia, uma das atendentes criticou uma de suas deliberações encaminhadas no dia anterior. Mais uma vez pensou: "Ela tinha que estar lavando uma pia de louças ao invés de me criticar".
Sentou-se por um instante e se sentiu um herói: havia criticado a Globo, um homossexual e uma mulher. Estava indigando com o mundo."
Bom...que isso nos faça pensar. O quanto estamos preparados para enfrentar o preconceito? Não se baste por entrar nas redes sociais e defender sua profissão. Faça mais do que isso.Por fim, queria dizer, no dia da consciência negra:  nunca usem o termo "denegrir"...isso deve ser evitado pois exprime um certo ataque.
Sobre as outras formas de preconceitos...quem sabe no dia da mulher e do orgulho gay possamos falar sobre isso...


Um comentário:

Priscila disse...

Excelente Marco... Estou compartilhando.. Um abraço