domingo, 30 de janeiro de 2011

Porque "Farmácia Comunitária"? Farmácia é farmácia!

Já comentei em outra postagem que não entendo sobre muitas coisas. Descubro isso a cada termo novo que se cria para definir a mesma coisa. O que para mim chama tangerina ganhou o status de mexerica ou bergamota, dependendo da região do País. O mesmo acontece com o aipim, que pode ser chamado de mandioca ou macaxeira, vai do ponto de vista.
Quando da chegada dos medicamentos genéricos percebi que havíamos criado categorias de medicamentos: genérico, referência e similar. Se levarmos em conta os termos usados no cotidiano, podemos incluir outros como “de marca”, “B.O”, “guelta”. Bom, medicamento é medicamento. De marca, na minha humilde opinião todos são. Podemos até achar que existem marcas mais conhecidas do que outras, mas isso é outra história. O mesmo aconteceu quando encontrei um texto e me foi apresentado, pela primeira vez, o termo “farmacista”. Sobre isso falo em outro momento!
Tenho ouvido o termo “farmácia comunitária” não é de hoje. Alguns trabalhos apresentam essa denominação, o que demonstra que ele se popularizou. Mas de onde surge isso? Particularmente não me importa se outro País adota tal denominação, pois temos uma Lei que regulamenta o comércio farmacêutico (Lei 5991/73), onde aparecem os seguintes conceitos:
Farmácia - estabelecimento de manipulação de fórmulas magistrais e oficinais, de comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de dispensação e o de atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer outra equivalente de assistência médica;

Drogaria - estabelecimento de dispensação e comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em suas embalagens originais;


Pesquisando na internet, hora me parece que farmácia comunitária é a que atende diretamente aos usuários. Por outro lado encontrei definições que me levaram a crer que esta seria a da rede privada. Numa recente mesa-redonda, na qual participei, ouvi de um dos debatedores de que o termo farmácia comunitária se refere tanto as estabelecimentos privados quanto os públicos. Alguns dizem que são todos os estabelecimentos, menos os hospitalares. Porque isso? Farmácia hospitalar não pode ser também comunitária? De forma direta ou indireta a farmácia hospitalar serve à comunidade...ou não? Indo mais além, fui atrás da definição “comunitária” e encontrei o termo “da comunidade”.  

Enfim, não consigo entender qual a diferenciação desta para o conceito previsto em Lei, ainda mais quando o conceito descrito acima também se aplica em outras esferas, segundo a Lei, em seu art. 3°, quando diz que: “Aplica-se o disposto nesta Lei às unidades de dispensação das instituições de caráter filantrópico ou beneficentes sem fins lucrativos”.

Sou favorável a que tenhamos um único conceito para definir o estabelecimento que queremos. Partindo do princípio de que a grande revolução não se dará no termo a ser utilizado, mas no papel que ele cumpre, gosto do conceito estabelecido no substitutivo apresentado pelo Dep. Ivan Valente (PSOL-SP) ao PL 4385/94, em seu art. 3°:

“Farmácia é um estabelecimento de saúde e uma unidade de prestação de serviços de interesse público, articulada com o Sistema Único de Saúde, destinada a prestar assistência farmacêutica e orientação sanitária individual e coletiva, onde se processe a manipulação e/ou dispensação de medicamentos magistrais, oficinais, farmacopeicos ou industrializados, cosméticos, insumos farmacêuticos, produtos farmacêuticos, plantas medicinais, produtos fitoterápicos e correlatos”

Bom, está lançado o debate. Não quero ser meramente legalista, mas o nome do estabelecimento ou é farmácia ou é drogaria. Nem quero considerar os demais (postos de medicamento e unidades volantes) pois me parecem distantes do objetivo a ser alcançado. Ao invés de buscar novos conceitos, defendo que a luta seja pela aprovação do substitutivo citado acima. Desta forma, teremos um estabelecimento honrado para o profissional farmacêutico atuar, mas que principalmente, seja inserido nas diretrizes do SUS. Não quero desrespeitar aos que adotam o termo, mas porque não valorizar o já existente?

Disse Deng Xiao Ping: “Não importa a cor do gato desde que cace ratos”. Eu pergunto: “Porque mudar a cor do gato se ele pode caçar ratos”?

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Como posso homenagear farmacêuticos(as) de luta?

Pois é, fui agraciado com a Comenda do Mérito Farmacêutico no último dia 20 de janeiro. Pelas minhas contas sou o 14° indicado pelo estado de São Paulo, desde a criação da Comenda, que se deu com uma Resolução do Conselho Federal de Farmácia - CFF (Resolução 323, de 16 de janeiro de 1998). Por indicação do Dr. Ely Eduardo Saranz Camargo, conselheiro federal por SP, e aprovado no Plenário do CFF, recebi o que se denomina “a mais alta condecoração da profissão farmacêutica”.
 No dia da entrega, foi lido o seguinte texto sobre minha pessoa:
A história nos dá conta de que Santos-SP foi o berço do sindicalismo brasileiro. Tantos anos de luta, geração após geração, pela defesa dos direitos dos trabalhadores certamente contribuíram para elaborar a personalidade combativa do Prof. Marco Aurélio Pereira, farmacêutico especialista em Farmacologia, formado pela Universidade Católica de Santos-SP. Tão logo iniciou sua vida profissional, Marco Aurélio abraçou as lutas do Sindicato de São Paulo e da Federação Nacional dos Farmacêuticos por melhores salários e valorização profissional. Também representou os interesses da categoria e defendeu o fortalecimento da assistência farmacêutica dentro do Conselho Municipal de Saúde de Santos.
Atualmente, é Coordenador-Geral de Gestão, do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (DAF/SCTIE/MS) tendo, como uma de suas atribuições, coordenar o Programa Farmácia Popular do Brasil. É, ainda, professor das Cadeiras de Deontologia e Fundamentos e História da Farmácia nas Universidades de Santa Cecília e Municipal de São Caetano do Sul. A primeira na capital e a segunda na região metropolitana de São Paulo”.


A emoção é ímpar. A surpresa, ainda maior. Num estado como o de SP, onde estão quase 1/3 dos farmacêuticos de todo o País, não imaginava que isso um dia me aconteceria. Recebo a medalha não como reconhecimento do que talvez tenha feito, mas como estímulo para fazer cada vez mais!

Me parece clichê dizer que penso que muitos outros farmacêuticos e farmacêuticas mereciam a medalha, muito mais do que eu! O fato é que estou sentindo, de fato, isso. Formado em 1993, vi e convivi com profissionais da mais alta qualidade e, principalmente, combatividade. Desde aqueles que foram meus mestres na faculdade até àqueles a quem dei aula. Repassando uma lista de nomes que deveriam, por justiça, receber a Comenda, não consigo ver fim. Considerando isso, acabo de lançar a “Comenda do Mérito do Blog do Marco Aurélio”, a quem chamarei carinhosamente e com pouca criatividade de: “Comenda do Mérito do Blog do Marco Aurélio” (eu disse que haveria pouca criatividade). Com ela pretendo homenagear, mas principalmente, agradecer aos que me guiaram e me fizeram trilhar o tal do “bom caminho”. Pretendo destacar profissionais e também estudantes de farmácia!

Agradeço muito ao amigo Ely, que não tenho dúvida, não levou em conta a amizade apenas como mote de sua indicação. Agradeço ao Plenário do CFF por ter aceito. Ao CRF-SP por ter prestigiado. Ao SINFAR-SP, através das palavras carinhosas de algumas pessoas que me ligaram e pela presença do amigo Glicério Diniz. Aos amigos e parentes que lá estiveram. Mas agradeço, principalmente, por todas as palavras carinhosas que recebi pelo email, redes sociais, telefonemas, parabenizando pela Comenda.

Espero contribuições dos 2 ou 3 leitores do Blog para indicar possíveis homenageados. Quando puder indicar alguém, pelo email marcoaurelio.farma@gmail.com , mande um breve currículo para que eu possa postar.

Parabéns aos demais “Comendadores”.....

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Como farmacêutico, tenho dúvidas!

Apesar de já estar neste mundo por 39 anos (com corpinho de 38) descubro, a cada dia, que não entendo de muitas coisas. Tenho opinião sobre muitos assuntos mas existem outros tantos que me causam dúvidas. Por alguns momentos até acho que me causam indignação, mas tudo bem, pois o barato da vida é continuar tendo o prazer de se indignar! Gostaria de destacar alguns que até hoje me causam arroubos de curiosidade:
- Em que momento da vida paramos de levantar o dedo para pedir permissão à professora para ir ao banheiro? Com quantos anos isso acontece?
- Porque “tudo junto” se escreve separadamente e “separadamente” escreve tudo junto?
- Porque o cachorro abana o rabo, sendo que o inverso é impossível?
- Quando cumprimentamos alguém, devemos dar dois beijos ou apenas um?
- Quando estamos no trânsito, porque escolhemos mudar de fila, sendo que todas param para o mesmo semáforo (ou sinaleira, ou farol, etc.)?
- Porque a hora-aula dura 50 minutos e não 47, 52, ou algo próximo?
Na profissão farmacêutica, tenho desenvolvido teses para esclarecer muitas coisas. Tenho certeza de que muitas das minhas respostas não respondem muitas das perguntas que me faço! A cada momento que entendo minha profissão, novas discussões surgem de mim comigo mesmo! Posso compartilhar algumas?
- Porque ainda existe diferença entre o que significa “farmácia” e “drogaria”?
- Se o SUS (Sistema Único de Saúde) é universal, porque existem Municípios que não aceitam dispensar medicamentos para receitas prescritas por médicos do setor privado?
- Se a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem como função “normatizar, controlar e fiscalizar produtos, substâncias e serviços de interesse para a saúde”, porque quase tudo o que ela faz é questionado na justiça?
- Qual o motivo de haver diferenças salariais entre áreas de atuação da profissão, sendo que na cadeia do medicamento, todos os envolvidos possuem responsabilidades fundamentais?
- O que leva nossas entidades representativas serem dirigidas, em sua maioria por homens, sendo que a profissão é composta por quase 70% de mulheres?
- Porque muitos profissionais deixam de lado suas entidades sindicais, sendo que são elas as fundamentais para suas garantias trabalhistas?
Dúvidas que me assolam e quase me tiram o sono! Quero responder e peço ajuda!
Em tempo: Essa postagem foi motivada pelo anúncio de que a ANVISA não deve mais atuar na anuência prévia para concessão de patentes para medicamentos!

Imagem extraída de: http://jm7.com.br/Faq/?opc=2

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Presidente ou Presidenta?

Recebi o texto abaixo, intitulado "Ensaio sobre o gênero",  com a devida referência ao autor, discutindo como se referir a Dilma: Presidente ou Presidenta? Eu optei por chamá-la de Presidenta, pois mais do que a forma, quero respeitar a simbologia de ter a primeira mulher Presidenta do Brasil. Isso pode parecer não mudar absolutamente nada em sua vida, mas penso o contrário. O preconceito acaba quando começa a exacerbação do respeito. Vou chamá-la de Presidenta...e você? 


   "Circula na Internet um texto, cujo autor não foi identificado, intitulado "Aula de Português", trazendo à baila a questão do gênero da palavra _PRESIDENTE_ e condenando veementemente a forma feminina _PRESIDENTA_. Na condição de professor de Língua Portuguesa, e por solicitação de um amigo, venho manifestar-me acerca dessa polêmica, que se instaurou com a eleição de Dilma Roussef para a presidência do Brasil e que se destacou na discussão entre os internautas: Dilma é a presidente ou a  presidenta do Brasil?

    Na língua portuguesa, assim como em quase todas as outras, existem construções que, com o tempo, ganharam força popular e se fixaram como gramaticalmente corretas, a despeito de contrariar a etimologia. Sobre esse tema, Machado de Assis, nosso escritor maior, nos alerta:

                  "Não há dúvidas que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades de usos e costumes. Querer que a nossa pare no século de quinhentos é um erro igual ao de afirmar que a sua transplantação para a América não lhe inseriu riquezas novas. A este respeito a influência do povo é decisiva. Há, portanto, certos modos de dizer, locuções novas, que de força entram no domínio do estilo e ganham direito de cidade."

     Só esse ensinamento do autor de Dom Casmurro já seria suficiente para justificar a incorporação de novas palavras à nossa língua-mãe, mas vamos aos fatos. A discussão é: a presidente ou a presidenta Dilma Roussef? Quanto ao gênero, os substantivos podem ser biformes e uniformes. Os biformes são aqueles que apresentam duas formas distintas, uma para o feminino, outra para o masculino, por exemplo: _gato/gata, maestro/maestrina, ator/atriz, camponês/camponesa, pai/mãe, patrão/patroa, ladrão/ladra, pastor/pastora, mestre/mestra, solteirão/solteirona, irmão/irmã, compadre/comadre, boi/vaca, homem/mulher, conde/condessa, elefante/elefanta, poeta/poetisa, avô/avó_. Observe-se que a forma feminina ora provém do mesmo radical masculino (como no caso de _cantor/cantora_), ora de radical distinto (como é o caso de _bode/cabra_).  
  
    Os substantivos uniformes apresentam uma única forma e se subdividem em três grupos: sobrecomuns, comuns de dois gêneros e epicenos. Sobrecomuns são os que têm um só gênero gramatical para designar pessoas de ambos os sexos. Neste caso, nem os determinantes se flexionam, por exemplo: _o cônjuge varão _- para designar o homem_/o cônjuge varoa _- para mulher (não existe _a cônjuge_), _a criança_ (não existe _o criança_) serve para designar menino ou menina; _a sentinela_ se emprega para homem ou mulher, pois não existe _o sentinela_. Diz-se: _Aquela sentinela está nervoso_ (e não _Aquele sentinela..._). Comuns de dois gêneros são os que têm uma única forma para os dois gêneros, porém seus determinantes apresentam variação de masculino para feminino, por exemplo: _o atacante/a atacante, um atendente/uma atendente, meu dentista/minha dentista_. Epicenos são aqueles empregados com os nomes de animais que possuem um só gênero gramatical, para designar um e outro sexo; neste caso, a distinção é feita com as palavras "macho" e "fêmea", por exemplo: _a onça macho/a onça fêmea, o pinguim macho/o pinguim fêmea, a borboleta macho/a borboleta fêmea, o macho do jacaré/a fêmea do jacaré_.

     Com referência à palavra _presidente_, o texto veiculado na Internet alega, com razão, que o particípio ativo do verbo _atacar_ é atacante, de _pedir_ é pedinte, de _cantar_ é cantante, de _existir_ é existente, de _mendigar_ é mendicante, de _ser_ é ente.  Aquele que é: _o ente_. Dessa forma, justificam-se as palavras _estudante_, _adolescente_, _atacante_, _informante_ e, naturalmente, _presidente_, como uniformes.

     No caso específico da palavra "presidente", etimologicamente deveria ser considerada comum de dois gêneros: _o presidente/a presidente_; no entanto, o uso como palavra biforme (_o presidente/a presidenta_) está consagrado na nossa língua e tem registro formal. Para isso, consulte-se o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), da Academia Brasileira de Letras, documento oficial de registro das palavras que fazem parte do nosso léxico. Senão, como se justificaria a existência de palavras como governanta (feminino de _governante_), elefanta (de _elefante_), parenta (de _parente_), infanta (de _infante_), que pertencem ao mesmo caso etimológico? São formas que, com o tempo, se desviaram do processo formador original.

     Não há, portanto, razão para condenar o uso de _PRESIDENTA_. Podemos sim usar a "presidente" Dilma ou a "presidenta" Dilma, sem que isso contrarie o padrão formal da língua escrita culta. A atual mandatária maior do País prefere ser chamada de _PRESIDENTA_, e nisso está certíssima._ _Cabe consignar que o eminente professor Celso Cunha, em sua _Nova Gramática do Português Contemporâneo_, preleciona que "os femininos _giganta_ (de gigante), _hóspeda_ (de hóspede), e _presidenta_ (de presidente) têm ainda curso restrito no idioma". Atente que TER CURSO RESTRITO não significa SER ERRADO. O texto veiculado na Internet cita um exemplo negativo de modo a ilustrar o suposto erro no uso da palavra "presidenta":

                   _"A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre suas tantas outras atitudes alienantas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta."_

     Como se pode depreender, isso é apenas um sofisma, uma ideia enganosa, em que a premissa maior e a premissa menor podem ser verdadeiras, mas a conclusão é falsa. É como se disséssemos: _Todo coelho é veloz_ (premissa maior - verdadeira); _o jamaicano Usain Bolt é veloz_ (premissa menor - verdadeira); _logo, o jamaicano Usain Bolt é um coelho_ (conclusão - falsa).

Para finalizar essa suposta "aula de português", o autor destaca:

                "Está mais do que na hora de restabelecermos A LEITURA E A FALA CORRETAS DE NOSSO IDIOMA - o PORTUGUÊS (falado no Brasil) e não mais o churrasquês, o futibolês e outros dialetos de triste e recente memória, infelizmente aplaudidíssimos pelos 80% dos patrícios que vibravam com as bobagens oficializadas e incensadas pela massa de áulicos (áulico: cortesão, palaciano) e puxa-sacos dos "cumpanhêru" de igual (?) nível moral e intelectual..."

     Parece-me a mim que este é mais um caso de preconceito explícito e de intolerância política. Independentemente de qualquer partido, de qualquer matiz ideológico, temos uma presidenta eleita por um processo democrático transparente, de acordo com a vontade da maioria dos brasileiros de todas as classes sociais. Os bons brasileiros, os verdadeiros patriotas vão torcer e trabalhar para que o Brasil cresça como nação, avance nas questões sociais e progrida economicamente. Os pseudobrasileiros e os pessimistas de plantão vão continuar esperando que tudo dê errado e discutindo se Dilma é a "presidente" ou a "presidenta". Você escolhe de que lado está.

       Filemon Félix de Moraes - professor de Língua Portuguesa em Brasília."

domingo, 23 de janeiro de 2011

Formado em farmácia..e agora?

No ano de 1993 recebi meu diploma de farmacêutico. Um documento, escrito com letras as quais não sei definir a forma e carregado de carimbos que atestam sua legalidade, me fez sair da juventude e partir para o futuro profissional. Com quase 22 anos de idade não tinha muita certeza do que fazer com ele, além de orgulhar meus pais e causar tristeza num “quase” parente que sonhou em ter-me como dentista. Rumei ao Conselho Regional de Farmácia para transformar aquele documento no meu CRF. Meu diploma se transformou num documento com cerca de 1/10 avos do seu tamanho. Ali começaria um novo momento em minha vida.
Munido do meu novo documento profissional parti em busca do meu primeiro emprego. Datilografei meu currículo (o qual não passava de uma página), tirei uma cópia do novo documento percebido e comecei a visitar bancas de jornal. Não, não queria trabalhar naquele ramo, ia apenas atrás de jornais com várias páginas de classificados de empregos, concursos ou qualquer outra oportunidade de trabalho.
O mundo mudou desde a década de 90. Para a profissão farmacêutica ainda mais. Os currículos já não são mais datilografados (estão disponíveis na plataforma lattes e no Linkedin), mas a ânsia pelo primeiro emprego continua o mesmo. Qual setor paga mais? Onde serei feliz? Seria melhor ser dono do meu próprio negócio? Essas são perguntas que foram e continuam sendo feitas pelos os que acabam de se formar.
Confesso que acho improvável alguém acertar, de primeira, qual ramo da profissão farmacêutica lhe proporcionará a satisfação plena, principalmente considerando que muitos precisam se preocupar com isso tendo apenas 20 e poucos anos de idade. É natural que sonhemos com tudo o que é possível, já que são mais de 70 possibilidades de atuação segundo nosso Conselho Federal de Farmácia. Dúvidas são naturais e necessárias. Talvez o segredo esteja em experimentarmos de tudo.
Ter “foco” no que fazemos em nossas vidas é sempre bom, mas não devemos nos prender às “impressões iniciais”. Se nos pautarmos simplesmente pela remuneração, cometeremos erros. Ganham bons salários aqueles que amam o que fazem e não os que perseguiram as áreas nobres de atuação apenas movidos pela remuneração.
Aos farmacêuticos, jovens e um pouco mais vividos, gostaria de compartilhar algo que ocorreu comigo. Passei por diversas áreas, antes de me encontrar. Se comparasse a um time de futebol, fui goleiro, lateral esquerdo, atacante, técnico e tive meus momentos de gandula. Tive sempre uma linha de pensamento sobre o papel social do farmacêutico e do medicamento. Pautado nisso busquei construir meu caminho profissional. Passando por diversas frentes de atuação, chego a conclusão de que nossa profissão é mais dinâmica do que imaginamos. A incorporação de novas tecnlogias, a nossa “criatividade”,  nos impõem buscarmos sempre algo mais. Estudar sempre é tarefa imprescindível, mas saber interpretar o “movimento das placas tectônicas” da profissão é mais do que fundamental. Busquemos nos organizar participando ativamente de nossas entidades pois isso pode fazer a diferença, para o coletivo e individualmente.
Sejamos humildes em saber que o mundo gira e com ele, nossas aspirações e desejos. Futuros, recentes e antigos profissionais.....boa sorte e boa leitura do mundo!


Imagem extraída de: http://www.zazzle.pt/menino_da_graduacao_cartao-137927073082078299