terça-feira, 20 de julho de 2010

A paternidade de um medicamento.

Alguns dos meus 2 ou 3 leitores enviaram torpedos pedindo meu humilde comentário acerca da paternidade dos medicamentos genéricos. Num primeiro momento lembrei-me de tantas crianças abandonadas querendo um lar e todo mundo brigando para ser pai de “remédio”. Resolvi apelar à minha mente, já que fui testemunha viva desse processo. Por não poder confiar piamente no conteúdo de minha calota craniana, já que os labirintos cerebrais tornaram-se mais entrelaçados com o avanço da idade, optei por buscar nos anais (com muito respeito) disponíveis na internet. Revirei também minhas caixas de papelão, onde guardo reportagens antigas sobre o assunto, além do meu velho calção de banho e ioiôs da coca-cola.

Lembro-me do dia 05 de abril de 1993 como se fosse hoje. Além de comemorar o 95º dia do ano no calendário gregoriano e do 172° ano da Independência brasileira, lembrava-me com tristeza dos 41 anos do golpe de estado em Cuba, por parte de Fulgêncio Batista e dos 18 anos da morte de líder nacionalista chinês Chiang Kai-Shek. Com o espírito embargado, levantei da cama, fui até a banca de jornal e comprei um exemplar do mais lido jornal do País: o Diário Oficial da União. Sentei-me num banco da praia de Santos e passei a folhear o informativo. Lendo as diversas páginas existentes, já que não tinha figuras para serem apreciadas, deparei-me com um Decreto assinado pelo Presidente Itamar Franco: o Decreto 793. Li atentamente, pois como já havia me formado, a palavra medicamento despertava muito interesse. Destaco aqui algumas das normas previstas pela nova legislação:

- O fracionamento de medicamentos deveria ser efetuado na presença do farmacêutico;

- Ficava vedado aos estabelecimentos de dispensação, a comercialização de produtos ou a prestação de serviços não mencionados na Lei n° 5.991/73;

- Deveriam contar obrigatoriamente, com a assistência técnica de farmacêutico responsável, os setores de dispensação dos hospitais públicos e privados e demais unidades de saúde, distribuidores de medicamentos, casas de saúde, centros de saúde, clínicas de repouso e similares que dispensem, distribuam ou manipulem medicamentos sob controle especial ou sujeitos a prescrição médica;

- Todo o medicamento deveria ser comercializado pelo seu nome genérico, sendo que o tamanho das letras do nome e/ou marca não poderiam exceder a 1/3 do tamanho das letras da denominação genérica.

Pronto, o primeiro passo à implantação do genérico no País havia sido dado. Considerando que a principal virtude do medicamento genérico é não precisar fazer “propaganda” de sua marca, já que todos passam a ser iguais perante a Lei, tá respondida a pergunta: quem é pai do Genérico? Com certeza o Ministro da Saúde da época: Jamil Haddad. Eles não inventaram nada, mas propiciaram o debate. É preciso fazer justiça com alguns membros da equipe do Ministério que contribuíram com a elaboração do Decreto: Jorge Zepeda Bermudez, Hermógenes e Franciso Reis. Justiça seja feita também ao ex-Presidente Itamar Franco. Ele mesmo postou em seu twitter: "Presidenciáveis discutindo genéricos me trazem saudades de Jamil Haddad, amigo e guerreiro que criou o Decreto 793, em 5/04/93". Também abro a palavra ao ex-Ministro Jamil Haddad: “Serra, pai dos genéricos? PSDB, criador dos genéricos? Assumir como deles é um embuste! Se fizerem isso de novo, eu denuncio”. “Em 1991, o médico e deputado Eduardo Jorge [na época, no PT-SP] havia apresentado à Câmara Federal projeto propondo a fabricação dos genéricos no País... Em 1993, já no Ministério da Saúde, vi que o projeto continuava na gaveta da Câmara e, ao mesmo tempo, a OMS nos solicitava a liberação dos genéricos. Consultei a assessoria jurídica do Ministério da Saúde que disse não haver necessidade de a autorização ser feita por lei. Podia ser por decreto. Eu preparei-o, levei ao presidente Itamar, que assinou junto comigo.” “A lei de 1999 é apenas a regulamentação do decreto que já existia. O projeto aprovado foi um substitutivo que apresentei ao do Eduardo Jorge e que recebeu uma porção de emendas. Hoje, os genéricos são uma realidade no País.

 
Bom, a briga para o efetivo cumprimento do Decreto merece outra postagem. Ao priorizar o nome genérico em detrimento da marca e de obrigar que houvesse o profissional farmacêutico em toda a cadeia do medicamento, o conflito com os interesses de diversos setores estava gerado. Hospitais, indústrias, distribuidoras...quanto esperneio!!! Mas isso fica para outro momento (se alguém quiser saber).

Agora, em 1999, com a aprovação da Lei dos Genéricos (Presidente Fernando Henrique Cardoso e José Serra, Ministro da Saúde), estes medicamentos passaram a existir no mercado (não rapidamente). Então, podemos interpretar que Jamil Haddad é o pai e uma série de condições levaram a que fosse viabilizado depois. No governo de FHC, vagarosamente, eles começaram a surgir, mas tem coisas estranhas nessa história:

- A Medida Provisória que criou a moeda Real (MP 592, de 30.06.94) (cujo pai e Ministro era FHC) previa a venda de medicamentos em supermercados. Diversas ações conseguiram retirar essa excrescência quando foi transformada em Lei (9069/95). Ocorre que a Lei que regulamenta o comércio farmacêutico acabou sofrendo alterações esquisitas. Porque uma Lei  que trata do comércio de medicamentos precisa conceituar o que é supermercado, loja de conveniência e drugstore?

- José Serra apoiou a venda de medicamentos em supermercados, como forma de quebrar um possível boicote aos genéricos (Folha de São Paulo de 31/05/200 – caderno cotidiano). Espera aí, deixa eu entender. Fernando Henrique em 94 e Serra em 2000. Mas que mania é essa de querer vender medicamentos em supermercados?

- Para regulamentar a Lei dos Genéricos, Fernando Henrique Cardoso assinou o Decreto 3181/99, que, num tapa, revogou na íntegra o Decreto 793/93. Ele não poderia ter deixado ao menos o artigo que tratava do fracionamento e da presença do farmacêutico?

- Perdemos uma chance histórica de instituir uma "Política" de Medicamentos Genéricos. Havia apenas uma Lei. E o incentivo à produção?  O que previa a Lei e o que mudou de fato? Tanto é verdade que levamos muito tempo para ver esses medicamentos nas prateleiras dos estabelecimentos farmacêuticos.

Enfim, esta é minha contribuição. Espero que a briga por saber quem gerou esse filho não acabe na justiça. Agora quero confessar aos meus 2 ou 3 leitores que estou deveras abalado com uma dúvida que assola essa mente fértil.......E a MÃE do genérico, quem é?????




quarta-feira, 14 de julho de 2010

Falando de Cuba

Agora que a Copa acabou, queria atender aos meus dois seguidores (obrigado mãe). Fiquei um bom tempo sem atualizar o blog, por motivos astrais. Mas depois de consultar o "Polvo", resolvi compartilhar um texto com vocês (presta atenção mãe). O título fala por si.....


El embargo que Estados Unidos impuso a Cuba con el objetivo de "llevar la democracia" a la nación caribeña cumple 50 años este año.

Pero a pesar de las dificultades que ha enfrentado la isla en este tiempo, las sanciones no han impedido que los cubanos gocen de mejores estándares en materia de salud que muchos países de América Latina, con niveles que pueden compararse con los de países desarrollados.
Ésta es la conclusión de una investigación llevada a cabo por científicos de la Escuela de Medicina de la Universidad de Stanford, en California, EE.UU.
El estudio, publicado en la revista Science, presenta un análisis sobre las consecuencias y lecciones en salud de "uno de los más largos y complejos embargos en la historia moderna".
"A pesar de décadas de sanciones de EE.UU. contra Cuba, los cubanos gozan de los mejores niveles de salud en toda América Latina, con una larga expectativa de vida, tasas bajas de mortalidad infantil y la más alta densidad de médicos per cápita", afirman los autores del informe, los doctores Paul Drain y Michele Barry.
A pesar de décadas de sanciones de EE.UU. contra Cuba, los cubanos gozan de los mejores niveles de salud en toda América Latina, con una larga expectativa de vida, tasas bajas de mortalidad infantil y la más alta densidad de médicos per cápita.
En las décadas anteriores a 1960 cuando fueron impuestas las sanciones, los cubanos tenían mejores expectativas de vida que muchos países de América Latina.
Pero el país todavía estaba muy por detrás de los niveles alcanzados por los estadounidenses y canadienses.
Durante la llamada Guerra Fría las restricciones comerciales en alimentos, medicinas y abastecimientos médicos tuvieron poco impacto económico en el país, principalmente debido al apoyo financiero de la Unión Soviética.
"Para 1983 -dice el informe- Cuba estaba produciendo 80% de sus abastecimientos medicinales con materia prima procedente de la Unión Soviética y Europa, y hubo pocos informes de escasez de medicinas".
Y durante los primeros 30 años del embargo -agregan los investigadores- la expectativa de vida de los cubanos aumento 12,2 años, comparada con la de otros países del Caribe y América Latina.
A pesar de la economía
Pero la economía y salud de Cuba comenzó a padecer cuando se produjo la caída de la Unión Soviética, con una marcada disminución en la ingesta calórica de adultos y un aumento en el porcentaje de neonatos de peso más bajo del normal.
"La anemia era común entre mujeres embarazas y el número de cirugías llevadas a cabo disminuyó en un 30%", señala el informe.
"Después de una década de constantes disminuciones, la tasa total de mortalidad en Cuba aumentó un 13%", agregan.
En los últimos años del siglo XX, Washington emitió una serie de decretos y proyectos de ley para reforzar las sanciones y Cuba experimentó una severa escasez de medicamentos y un drástico aumento en los casos de tuberculosis, enfermedades diarreicas y otros trastornos asociados a la desnutrición y la escasez de alimentos.
Cuba goza ahora de la más alta expectativa de vida (78,6 años), la más alta densidad de médicos per capita (59 por cada 10.000 personas) y los niveles más bajos de mortalidad infantil de los 33 países de América Latina y el Caribe
"Aunque es difícil establecer una causalidad -expresa el informe- las sanciones comerciales de EE.UU. alteraron el abastecimiento de medicinas y probablemente tuvieron serias consecuencias en la salud de los cubanos".
Según los investigadores, a pesar del impacto en la economía, Cuba logró varios éxitos en otros aspectos de los cuidados de salud.
Y a pesar del embargo, Cuba ha producido mejores resultados en materia de salud que la mayoría de los países latinoamericanos.
"Estos resultados son comparables a los de la mayoría de los países desarrollados", dice el informe.
"Cuba goza ahora de la más alta expectativa de vida (78,6 años), la más alta densidad de médicos per capita (59 por cada 10.000 personas) y los niveles más bajos de mortalidad infantil de los 33 países de América Latina y el Caribe".
Atención primaria
Cuba es uno de los países que menos gasta en servicios de salud así que los investigadores creen que sus éxitos en materia sanitaria se deben a los excelentes programas de prevención y promoción de salud.
“Al educar a la población sobre prevención de enfermedades y promoción a la salud, los cubanos dependen menos de los abastecimientos médicos para mantenerse sanos", expresan los autores.
"Lo opuesto ocurre en EE.UU., que depende mucho de los abastecimientos médicos y la tecnología para mantener a la población sana, pero con un costo muy alto".
Cuba también ha logrado crear la infraestructura sanitaria necesaria para apoyar los programas de atención primaria.
Por ejemplo, su sistema de policlínicas y clínicas comunitarias con las cuales los cubanos pueden contar con al menos una visita médica cada año.
Asimismo, el país cuenta con amplios programas de vacunación y una alta proporción de personal especializado para atender los nacimientos.
"Este énfasis en la medicina de atención primaria, la educación en salud y la cobertura universal a servicios de salud podría explicar cómo Cuba ha logrado niveles de salud de un país desarrollado, con un presupuesto de un país en desarrollo", expresa el informe.
Para concluir, los científicos piden la eliminación de las actuales sanciones en medicinas y abastecimientos médicos, y afirman que este es el momento "para aprender de Cuba lecciones valiosas sobre cómo desarrollar un sistema de salud verdaderamente universal basado en la atención primaria".

BBC Ciência – Encontrado em http://www.bbc.co.uk/mundo/ciencia_tecnologia/2010/04/100429_cuba_salud_men.shtml

sábado, 26 de junho de 2010

Propagandas de minha vida

E a copa comendo solta. Vuvuzelas e Jabulanis dominam nossos sentidos. Vejo-as, ouço-as, sou capaz de sentir seus cheiros. Enlouqueço querendo saber como foi o retorno do time Francês depois do fiasco. E o da Itália? Tudo bem, isso só acontece a cada 4 anos. Mas decidi, dia desses, me libertar. Precisava de pitadas de assuntos outros, numa mente impregnada de informações futebolísticas. Por onde iniciar? Comecei pelos portais, espaços virtuais recheados de informações que poderiam abrandar minha ânsia. Tal qual um adolescente numa banca de revistas pornográficas, passei a correr os olhos freneticamente pelos sites, na busca de uma informação valiosa. Descobri coisas importantes: Fábio Júnior está separado e como foi o vestido usado por Sheila Mello no seu casamento. Um gato percorreu 3 mil quilômetros para encontrar seu dono. Descobri também que existe o “dia Internacional da Apreciação de Biscoito para Cães”. Fascinante, mas não era isso que procurava. Recorrei ao Google, o bom e velho. Acredito inclusive que o que não se encontra neste site de busca, não existe. Não deu outra: achei um trabalho de conclusão de curso cuja abordagem tratava da propaganda de medicamentos. Em tom crítico, a aluna de um curso da área de saúde, criticava a forma como era estabelecida a divulgação de determinados medicamentos. Citava vários exemplos. Pronto, minha mente acabava de receber informações preciosas, as quais desviaram meus pensamentos.
Confesso aos inúmeros leitores e leitoras deste blog, uns três ao todo, que tenho medo de determinadas propagandas. Hoje, em virtude da legislação, os comerciais não são como antes. Fui levado, em minha infância, a comer potinhos de iogurtes, pois estes substituiríam pequenos pedaços de carne (vulgarmente chamados de “bifinhos”). Tive que adquirir um par de kichutes, pois aquilo me daria uma liberdade sem fim. Poderia ir a qualquer lugar, pois seu solado com travas emborrachadas dariam a segurança necessária para os maiores desafios da minha pequena vida. Tive um boneco do Falcon, o qual muito me frustrou. No comercial da TV, aquele pequeno ser era ágil, rápido, andava de barco, brigava com seus inimigos. Quando abri a caixa, onde o mesmo estava atado com pequenos pedaços de arame, corri para libertá-lo. Coloquei-o sentado a minha frente, aguardando suas manifestações. Nada! Mantinha-se inerte, tal qual uma samambaia. Aquele ser inanimado apenas movia seus “olhos de águia”, caso eu acariciasse sua nuca! Ali havia um dispositivo, quase um nervo, que movia seus olhos...e isso era tudo o que ele fazia. Diz a lenda (o burro do computador queria crasear esse “a”) que um grupo de meninos, conversando acerca da aproximação do Natal, manifestavam seus sonhos de consumo, que deveriam compor a cartinha endereçada ao papai noel. Um dos meninos pediria um skate, pois com ele poderia subir ladeiras, andar em calçadas, andar em rampas. Um segundo pediria uma bicicleta cross, pois com ela poderia andar na areia, subir morros, saltar obstáculos. Um terceiro disse que, depois de observar bem o comercial de um absorvente íntimo, vulgo O.B, havia decidido por este presente. Mediante a exclamação dos amiguinhos, ele se justificou: “Na propaganda diz que com ele eu posso nadar, correr, andar de bicicleta, skate e muito mais”.
As propagandas de medicamentos, no meu tempo de balconista, também eram assustadoras. Se não bastasse o ímpeto de alguns, que não se bastavam em consumir seus medicamentos, como também indicavam para a vizinhança, haviam comerciais que me intrigavam. Na pequena drogaria onde trabalhava como balconista, na Vila Belmiro, em Santos, recebia mensalmente revistas que me estimulavam a ter determinados produtos na prateleira, pois seria nossa salvação comercial. Um medicamento, cuja função era regular o fluxo menstrual, tinha como abordagem: “Regule o fluxo de suas clientes e aumente o fluxo do seu caixa”. Outro, para má circulação, indicado para varizes, me abordava com a frase: “Tenha em sua prateleira, pois agora seu caixa vai bem das pernas”. Alguns fabricantes nos brindavam com cartazes, com crianças fofinhas, segurando frascos de xarope, esboçando um enorme prazer, como se houvessem deglutido suas guloseimas preferidas. Cartazes com fotografias de artistas eram encontrados nas paredes de algumas drogarias, assim como vemos em borracharias e bares. A diferença é que, ao invés de usarem minúsculos biquínis, alguns estavam até de aventais. Não seguravam pneus, nem bebidas alcoólicas, mas caixas de medicamentos. Os verbos utilizados nos comerciais, eram intimidatórios: “use”, “tome”, “tenha”, “compre”.
O tempo passou e não nos percebemos das mudanças na legislação. O mesmo controle feito sobre os comerciais de cigarros e afins passou a ser exercido sobre os medicamentos. O código de defesa do consumidor não permite mais que sejamos ludibriados. A sociedade evoluiu, assim como seu discernimento. Enquanto consumidor, algumas tentações são mais controladas.
Bom, tenho mais uma confissão a fazer: neste momento estou ao lado de minha JABULANI e minha VUVUZELA. Sem nenhuma habilidade para o futebol e sem paciência para aguentar o som emitido pelo instrumento, não resisti em ter tais aparatos de torcedor. Além disso, devo dizer que acabei de abrir uma caixa repleta de brinquedos da minha infância. Vasculhei atentamente e encontrei o que não queria. Lá estava meu Falcon. Inerte, deitado e com seus olhos fixos para o lado esquerdo. Como eu tinha esperança que ele tivesse feito suas malas e tivesse partido. Isso me consolaria e não me daria o peso de consciência de ter sido enganado. Humpf...

sábado, 19 de junho de 2010

Atualizando o vocabulário popular

A cada vez em que tento comentar notícias atuais, não consigo me desvencilhar do passado. No auge dos meus 38 anos (com corpinho de 37 e com formato de quibe), acompanhei boa parte das evoluções tecnológicas, o que levou a mudança de gírias, provérbios, ditados populares, enfim, da forma de comunicação. Além de tudo, a sensação que tenho é que nossa paciência diminuiu. Sou do tempo em que se telefonava para alguém, deixava recado e a pessoa retornava dois dias depois...e estava tudo bem! Ah, linha telefônica era declarada no imposto de renda! Hoje, ligamos para o celular do fulano, cai na caixa postal, não deixamos recado, ligamos novamente e caixa postal novamente. Irritados, pensamos: “Porque esse @s#&*€₳ não atende?”
Dia desses, ouvi um jovem comentar: “Agora caiu a ficha”. Será que ele sabia que essa frase surgiu em decorrência dos orelhões públicos, na época em que ainda não existia o cartão telefônico? Provavelmente não. Esse é o poder da linguagem: é atemporal e atualizado ao mesmo tempo. Passa por gerações. O mesmo efeito é causado quando alguém diz: “Vira o disco”, sugerindo que a pessoa não se repetisse, fazendo alusão aos LP´s ( Long plays), que para ser ouvido na íntegra, era necessário virá-lo após 8 músicas ouvidas, em média, de cada lado.
Alguns ditados se aperfeiçoaram. O “calor” sempre fez referência ao entusiasmo que se dava ao momento ou a construção da frase. Antes dizíamos: “É uma brasa, mora?”. O comunicador Silvio Santos atualizou, com componentes em inglês, para “é hot, hot, hot”. Hoje dizemos: “É chapa quente”. Todas querem dizer a mesma coisa. A quentura continua funcionando como adjetivo relacionado a emoção da situação.
Para não perder o princípio de alguns ditados, talvez fosse necessário atualizá-los. Eles eram tão claros e hoje se tornam quase incompreensíveis. Dizer: “Mais curto que coice de porco” pode gerar grande confusão na cabeça dos jovens, pois aqueles criados nas grandes cidades, nunca viram um suíno. A mesma referência à distância era feita ao se dizer: “mais curto que vôo de galinha”. É preciso mudar, pois alguns acham que galinha é aquele pedaço de carne que gira em máquinas, disponíveis normalmente em padarias, adquiridos aos domingos, acompanhada de farofa e batatas. Não conseguem visualizar o ditado. No meio esportivo, mais especificamente nas narrações de partidas de futebol, ainda é comum ouvir “telegrafou a jogada”, que diz respeito aos passes interrompidos pelo oponente, já que era clara a intenção da jogada. O que é um telégrafo para os nascidos na década de 90?
Considerando algumas dessas inovações e de mudanças de comportamento, faço aqui algumas contribuições para atualização dos ditos populares:
- Em terra de cego, quem tem um GPS é Rei! Nos dias de hoje, não basta ter um olho para ser monarca em terra de cegos. Mesmo o termo “cego” já sofreu suas mutações, pois é politicamente incorreta.
- Mais vale dois pássaros voando do que um na mão! Em tempos de discussão sobre o meio ambiente, soa melhor do que a versão passada, que dizia exatamente o contrário.
- Não me segue, pois não sou twitter! A primeira versão dizia para não ser seguido, pois não era novela. Utilizado para que nos deixassem em paz.
- O uso do cachimbo é prejudicial à saúde! Não sejamos hipócritas de achar que o único problema era deixar a boca torta.
E para não deixar o momento de copa do mundo de lado, adotamos uma nova palavra. A partir de junho de 2010, a pessoa não deixa de dar “bola” à alguma situação....talvez ela deixe de dar uma JABULANI!
E você tem mais alguma sugestão?

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Pobreza e copa do mundo

Em época de copa do mundo, nada mais chama a atenção na mídia. Pegue seu controle remoto e gire todos os canais disponíveis. A cada 5, 6 estão falando dos jogos e do clima do torneio. Até os programas de culinária ensinam comidas típicas Africanas. Qualquer rodinha, por mais complexa em sua composição, acaba tratando de futebol. Afinal de contas, esse é um País com mais de 190 milhões de técnicos.
Esse é um momento perigoso, pois o mundo continua girando. A política come solta, já que agora não temos mais pré-candidatos. Todos são postulantes legitimados pela suas convenções, aos cargos eletivos. Até podem, alguns, não ter o candidato a vice, mas os “cabeças” nós conhecemos. E é aí que mora o perigo, pois notícias que deveriam chamar a atenção e suscitar debates são pormenorizadas e até ridicularizadas. Algumas me chamaram a atenção neste fim de semana. Saí de casa disposto a compartilhar novas informações com outrem. Hoje pela manhã, tentei falar sobre algumas delas na copa (no momento em que vivemos é bom explicar que a copa a qual me refiro é aquela pequena cozinha) em torno de fumegantes garrafas de café. Para introduzir-me no debate que envolvia o pequeno grupo, iniciei obviamente, com o assunto do momento. Numa breve pausa no falatório dos “comentaristas esportivos” que bebericavam suas doses diárias de cafeína, lancei uma observação pertinente sobre um dos adversários do Brasil: “Vocês sabiam que dos 23 jogadores da Coréia do Norte, 100% possuem nomes com três palavras? Vejam: RI Myong Guk, NAM Song Chol, HONG Yong Jo, PAK Chol Gin. Interessante né? Além disso, entre todos os convocados, 21,7% se chamam KIM. Só de goleiros, são dois. O técnico também atende por este nome”. Fez-se um silêncio sepulcral. Os poucos olhares lançados em minha direção esboçavam uma mescla de dúvida e com certa dose de pena. De repente, os presentes começaram a se afastar, com as desculpas mais esfarrapadas. Um único sobrevivente ao meu comentário, que só ficou em virtude de não conseguiu virar de uma vez seu copinho de café, ouviu meu segundo comentário: “Você viu o que saiu na Folha neste domingo? Se mantida a tendência de crescimento médio no governo Lula, o total de pobres deve cair à metade em 2014. No caderno “mercado”, foram duas páginas, com gráficos e tudo, falando sobre como tem diminuído a pobreza neste último período. E olha que não é comum ler essas coisas fora dos boletins oficiais”. O paciente ouvinte se dispôs a um simples levantar de sobrancelhas e disse sábias palavras, as quais nunca mais me esquecerei: “Hum”. Esmagou seu copinho, jogou no lixo e saiu em largos passos, para bem longe de mim.
Essa notícia me fez pensar em tantas coisas. Num fim de semana de convenções partidárias, num dia em que o número de leitores dos informativos semanais aumenta, uma informação como essa não deve ser desprezada. Na reportagem há uma entrevista com Marcelo Neri, Doutor em Economia pela Universidade de Princenton. Ele disse que o Brasil está reduzindo a pobreza em ritmo de 10% nos últimos 12 meses. A meta do Milênio, das Nações Unidas, é reduzir 50% em 25 anos. “Portanto, estamos fazendo 25 anos em 5”, disse o economista. Pensei em quantos adjetivos foram atribuídos ao jornal, em virtude dessa matéria. Quantos devem ter pulado essa parte, para não ter que ler isso. É fato que a capa, dava destaque a uma crítica de José Serra a Dilma: “Governo banca esquadrão de militantes”. Mas, a notícia estava lá.
Eu também gosto de futebol e não sou dos que acham que ganhar a copa não muda nada em nossas vidas. Apesar de, enquanto torcedor do Botafogo do RJ, não ter tido a oportunidade de comemorar muitos títulos durante minha breve existência neste mundo, sou defensor de que todos curtam este momento. Pintemos os rostos, enfeitemos nossas casas e ruas, compremos camisas da seleção, sintamos mais orgulho ainda de sermos brasileiros. Afinal de contas, somos os melhores do mundo no futebol! E agora, um pouco menos pobres...