sábado, 5 de março de 2011

Morre Alberto Granado, farmacêutico amigo de Che Guevara!

     Faço mais uma postagem em homenagem a um farmacêutico. Dedico a ele a “Comenda do Blog do Marco Aurélio”. Com certeza é o título mais simples que recebeu, mas de grande orgulho para mim. Fã reconhecido de Che, tenho em Alberto Granado um dos motivadores do ímpeto revolucionário de Ernesto Guevara. Não quero falar apenas por mim, mas pelo o que está disponível em alguns sites...

“A imprensa oficial de Cuba anunciou neste sábado a morte do bioquímico argentino Alberto Granado, aos 88 anos. Amigo de Ernesto Che Guevara, ele acompanhou o líder guerrilheiro em uma viagem de motocicleta em vários países da América Latina no início da década de 1950. A história ganhou notoriedade em 2005, quando foi adaptada pelo cineasta brasileiro Walter Salles no filme "Diários de motocicleta".

O contato com as populações dos locais por onde passou teria despertado o engajamento político de Che...

Granado morava em Cuba desde 1961, após ser convidado pelo líder guerrilheiro. A televisão estatal da ilha informou que ele será cremado e suas cinzas serão espalhadas pelo país, além da Argentina e da Venezuela. As causas da morte não foram divulgadas.”

http://www.sidneyrezende.com/noticia/123758+alberto+granado+companheiro+de+che+guevara+em+viagem+de+moto+morre+em+cuba

Milton Ribeiro disse... (http://sul21.com.br/jornal/2011/03/morre-alberto-granado-companheiro-de-che-nas-viagens-de-moto-pela-america/)

“Alberto Granado, amigo e companheiro de Ernesto Che Guevara em suas viagens de motocicleta pela América do Sul, morreu neste sábado em Havana aos 88 anos.
Granado, nascido em 8 de agosto de 1922 em Córdoba (Argentina) e estabelecido em Cuba desde 1961, morreu de causas naturais, explicou seu filho Alberto Granado. A televisão estatal cubana definiu Granado como um “fiel amigo de Cuba” e detalhou que, segundo sua vontade, será cremado neste sábado em Havana e suas cinzas serão espalhadas por Cuba, Argentina e Venezuela.

Amigo de infância de Che Guevara, realizou com o amigo em 1952 a viagem de motocicleta pela América do Sul que despertou a consciência política do médico Ernesto Che Guevara.
Sobre “La Poderosa”, a moto de Granado, os dois percorreram juntos boa parte do Cone Sul até que, nove meses depois, se separaram na Venezuela. A viagem foi transposta ao cinema em 2004 por Walter Salles no filme Diários de Motocicleta, protagonizado pelo mexicano Gael García Bernal, no papel de Che, e pelo argentino Rodrigo de la Serna, como Alberto Granado.
Após essa viagem, Granado retornou à Argentina para trabalhar como bioquímico, mas, após o triunfo da revolução cubana, Che o convidou para ir a Havana e, um ano depois, ele decidiu ficar na ilha com sua esposa e filhos. Em 2008, Alberto Granado viajou à Argentina para participar das comemorações do 80º aniversário de nascimento de Che Guevara na cidade de Rosário. Sua última viagem ao exterior foi ao Equador há alguns meses.”

Dicas de filmes para profissionais de saúde - Parte V

     Em pleno sábado de carnaval, escrevo mais uma postagem para o blog, voltada para os que ficaram em casa, seja por opção ou por estarem monetariamente impossibilitados de deslocamentos com mais de 2 km de suas residências (vulgarmente conhecidos como "duros"). Dicas de filmes para profissionais de saúde, com destaque para o primeiro filme. Espero que curtam. Caso queiram ver as outras dicas, desça a barra de rolagem e observe a parte direita do blog. Veja em "Marcadores" o tema  "Dicas de filmes". Clique e veja as outras postagens.


Diários de motocicleta-
“Che Guevara (Gael García Bernal) era um jovem estudante de Medicina que, em 1952, decide viajar pela América do Sul com seu amigo Alberto Granado (Rodrigo de la Serna). A viagem é realizada em uma moto, que acaba quebrando após 8 meses. Eles então passam a seguir viagem através de caronas e caminhadas, sempre conhecendo novos lugares. Porém, quando chegam a Machu Pichu, a dupla conhece uma colônia de leprosos e passam a questionar a validade do progresso econômico da região, que privilegia apenas uma pequena parte da população.”
Obs do Blogueiro: Além de ser fã de Che, vale a pena ver o filme pelo fato de Alberto Granado, seu amigo de viagem, ser farmacêutico, falecido neste dia 5 de março, aos 88 anos.
Medo da Verdade (Gone Baby Gone)-
“Dois detetives particulares são designados para investigar o misterioso desaparecimento da pequena Amanda McCready (Madeline O'Brien). Quando começam as buscas eles descobrem que nada no caso é o que parece ser. Em última instância, os dois terão de arriscar a sua própria amizade e tudo o que têm de mais valioso - as suas relações afetivas, suas saúdes mentais e até mesmo as suas próprias vidas - para encontrar a verdade sobre a menina desaparecida.”

Linha Mortal (Flatliners)-

“Estudantes de Medicina fazem experiências com a vida após a morte, provocando a morte clínica com a ajuda dos colegas. Cada um tenta ficar do "outro lado" o maior tempo possível, até que o experimento gera uma inesperada conseqüência.”



Sinopses extraídas de:


Imagem extraída de:



segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Os "Dez Mais" entre os medicamentos indutores de violência

Ethan A. Huff (NaturalNews, 15/01/2011) | em 21/02/2011.

O Institute for Safe Medication Practices (ISMP) publicou recentemente um estudo publicado na revista "PLoS One" destacando as piores prescrições medicamentosas, ligadas a crimes, aquelas que levam o paciente a tornarem-se violentos. Entre os dez mais (Top Dez) perigosos estão os antidepressivos Pristiq® (desvenlafaxina), Paxil® (paroxetina) e Prozac® (fluoxetina).

Preocupações sobre os efeitos colaterais extremamente negativos de antidepressivos muitos populares e dos antipsicóticos têm vindo a aumentar, uma vez que estas drogas não só causam graves problemas de saúde para os usuários, mas também representam uma ameaça significativa para a sociedade. O relatório do ISMP aponta que, de acordo com a Food and Drug Administration (FDA) e seu Sistema de Comunicado de Eventos Adversos (Adverse Event Reporting System), medicamentos muitos populares estão relacionadas até mesmo com homicídios.

A maioria das drogas no top dez dos mais perigosos são antidepressivas, mas também estão incluídos medicamentos para insônia, drogas para o Distúrbio de Déficit de Atenção e Hiperatividade (DDAH), uma droga para a malária e um medicamento antifumo.

Conforme publicado na revista “Time”, a lista dos dez mais é a seguinte:

10º. Desvenlafaxine (Pristiq®) - Um antidepressivo que afeta a serotonina e a noradrenalina. Esse medicamento oferece 7,9 vezes mais chances de ser associada com a violência do que outras drogas.

9º. Venlafaxina (Efexor®) - Um antidepressivo que trata transtornos de ansiedade. A droga tem 8,3 vezes mais probabilidade de estar associado à violência do que outras drogas.

8º. Fluvoxamina (Luvox®) – É uma droga inibidora da recaptação da serotonina (ISRS) que tem 8,4 vezes mais probabilidade de estar associado à violência do que outras drogas.

7º. Triazolam (Halcion®) – É um medicamento benzodiazepínico para a insônia que tem 8,7 vezes mais probabilidade de estar associado à violência do que outras drogas.

6º. Atomoxetine (Strattera®) - Uma droga para DDAH que tem 9 vezes mais probabilidade de estar associado à violência do que outras drogas

5º. Mefloquine (Lariam®) - Um medicamento contra a malária que tem 9,5 vezes mais probabilidade de estar associado à violência do que outras drogas.

4º. Anfetaminas – É uma classe geral de drogas para DDAH com 9,6 vezes mais probabilidade de estar associado à violência do que outras drogas.

3º. Paroxetina (Paxil®) - Um antidepressivo (ISRS) que tem 10,3 vezes mais chances de ser associado com a violência do que outras drogas. Também está ligado a graves sintomas de abstinência e defeitos em recém-nascidos.

2º. Fluoxetina (Prozac®) - Um medicamento antidepressivo ISRS popular que tem 10,9 vezes mais chances de ser associada com a violência do que outras drogas.

1º. Vareniclina (Champix®) – É um medicamento antitabaco que apresenta chocantes 18 vezes mais probabilidades de estar associado à violência do que outras drogas.

Observações: 1) No Brasil as anfetaminas mais comuns para DDHA incluem a Ritalina®.

2) O Champix® é vendido no Brasil com esse mesmo nome comercial.

3) O Strattera® é vendido no Brasil com esse mesmo nome comercial.

4) O triazolam (Halcion®) já foi proibido temporariamente no Brasil, e permanece proibido em países como o Reino Unido. 5) No Brasil o mefloquine é vendido sob o nome de Lariamar®. Fontes para esse artigo incluem:

http://healthland.time.com/2011/01/07/top-ten-legal-drugs-linked-to-violence/

Original: https://webmail.saude.gov.br/redir.aspx?C=e188ebc720ee4e4191cb7eed4807c3d6&URL=http%3a%2f%2fwww.naturalnews.com%2f031017_violence_prescription_drugs.html%23ixzz1B6V0uSJS

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Receitas que matam

No Jornal O GLOBO de hoje (27/02/2011), no caderno "Ciência", página 51, saiu a seguinte matéria:

Metade das prescrições apresentam erros. Falta treinamentos para médicos.

Um cp/vo/8/8. O que parece uma difícil equação ou código indecifrável é, na verdade, a informação mais importante de uma receita médica: um comprimido via oral de oito em oito horas. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que mais de 50% dos medicamentos que circulam no mundo foram receitados, vendidos ou preparados de forma inadequada. Em grande parte esse índice se deve ao fato de que muitos médicos não sabem receitar e orientar seus pacientes. Das quase 170 faculdades de medicina no país, poucas cobram dos alunos a disciplina Uso Racional de Medicamentos (URM). A falta de critério e a má orientação quanto à utilização de remédios, associada ao hábito de automedicação no país, aumentam as chances de mais doenças e internações.

Na semana em que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) discutiu a proibição de emagrecedores, o problema do mau uso de remédios chama mais atenção. De acordo com a OMS, 50% das pessoas no planeta usam fármacos de forma errada. Só nos EUA, esses erros são responsáveis por 4% dos óbitos e 5% a 7% das internações. No Brasil, eles causam 30,7% das intoxicações e 19,7% dos óbitos, segundo o Ministério da Saúde.

- Medicamento não é bem de consumo. É insumo, é necessidade. Portanto, a produção e a comercialização deles não podem seguir as regras de comércio de bens de consumo. Esta lógica perversa precisa ser invertida urgentemente, caso contrário estamos perdidos - alerta Thaís Helena Abrahão Thomaz Queluz, titular do Departamento de Clínica Médica da Universidade Estadual Paulista, que instituiu na unidade de Botucatu o curso obrigatório de URM.

Esta iniciativa pioneira chamou a atenção do Ministério da Saúde, que está financiando a educação à distância sobre o tema e oferece prêmio para os melhores projetos voltados à promoção do URM. Entre problemas encontrados em receitas estão rasuras, letra ilegível, uso de abreviaturas, falta de explicação sobre os efeitos do medicamento e erros quanto à posologia. Thaís diz que médicos, dentistas e veterinários aprendem a prescrever como se seguissem uma "receita de bolo", no ambulatório, na enfermaria, com o médico de plantão. O que é um erro.

- Não fazem isso por má fé, mas por despreparo e pouco conhecimento sobre o uso racional dos remédios - afirma. - E fatores como pouca informação e falta de questionamento por parte dos pacientes, pressão da indústria farmacêutica oferecendo vantagens (30% do orçamento dos laboratórios são destinados à publicidade), falhas em fiscalização e vigilância contribuem para agravar.

Medicina baseada em evidências
Ela lembra que usar medicamento não é normal. Dois terços das consultas resultam em prescrições e as reações adversas aumentam com quatro ou mais drogas:

- Qualquer medicamento causa efeito em todo o organismo. Nem sempre um medicamento novo é melhor do que outro já no mercado há tempo. Os médicos deveriam estar preparados para buscar informações seguras e confiáveis sobre as drogas - afirma.

José Miguel Nascimento Júnior, diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde, diz que o órgão está preocupado com o problema e que tem investido na educação de prescritores e farmacêuticos, especialmente dentro dos hospitais. Esses profissionais devem levar em conta a medicina baseada em evidências, diz.

- Não é na indústria farmacêutica que eles vão se atualizar, nem no Google. Precisam buscar referências em bancos de dados, em literatura especializada. Já o paciente deve esclarecer todas as dúvidas com seu médico e farmacêutico; exija a presença dele.

Desiré Carlos Callegari, primeiro-secretario do Conselho Federal de Medicina, também defende o uso racional. Ele diz que uma medida importante é a digitalização das receitas e a implantação do prontuário eletrônico. O próprio Código de Ética Médica diz que receitas e prontuários ilegíveis podem ser usados em denúncia e processo.

- Uma receita bem escrita, clara, é uma forma de o profissional se proteger em casos de problemas com pacientes - diz.

Fonte: O Globo - Antonio Marinho
 
 

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Médico comenta o impasse em relação à proibição da venda de inibidores de apetite

Extraído da Agência Fiocruz de Notícias. Achei bem interessante...

Médico comenta o impasse em relação à proibição da venda de inibidores de apetite

Elisa Andries



De um lado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) defende a proibição da venda, no país, de sibutramina e de mais três inibidores de apetite; de outro, médicos, farmacêuticos e até mesmo representantes do Ministério Público, juntos, tentam barrar a resolução. A audiência pública para tratar da questão aconteceu na quarta-feira (23/2) em Brasília, e o resultado do embate, diante da pressão, foi o adiamento da edição da medida por parte da Anvisa. Uma semana antes, a Anvisa havia previsto a edição da resolução no início de março. Depois da audiência pública, não falava mais em prazo.
A indicação da Anvisa para cancelar os registros desses remédios é baseada em estudos internacionais e no parecer da Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme), instância consultiva daAagência, da qual faz parte, entre vários outros especialistas, o médico e pesquisador Francisco Paumgartten, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Entre os estudos citados está o que foi publicado na New England Journal of Medicine, que acompanhou 10 mil pacientes em 16 países e revelou que houve aumento de 16% no risco de complicações cardiovasculares entre usuários de sibutramina. Por conta desses resultados, a substância foi banida nos Estados Unidos e na Europa. Em entrevista ao Informe Ensp, Paumgartten comenta os riscos que os inibidores de apetite em questão representam para a saúde, sobre o embasamento científico do parecer da Cateme e ainda sobre a polêmica criada pelo posicionamento da Anvisa.

A Anvisa pretende proibir a venda de sibutramina e de outros três inibidores de apetite (anfepramona, femproporex e mazindol) - substâncias já banidas nos Estados Unidos e na Europa. Por quê?Francisco Paumgartten: A preocupação com a segurança e a eficácia da sibutramina foi tema recorrente em reuniões da Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme), realizadas durante o ano de 2010, e até mesmo antes. Essas preocupações se acentuaram com a divulgação dos resultados preliminares, e depois definitivos, de um estudo pós-registro de longa duração sobre a segurança cardiovascular da sibutramina (Scout - Sibutramine Cardiovascular Outcome Trial) envolvendo mais de dez mil pacientes obesos com doença cardiovascular, diabetes, ou com as duas condições. Médicos da indústria (Abbott Laboratórios) responsável pelo estudo, e endocrinologistas por ela convidados, apresentaram e discutiram os resultados parciais e finais do Scout com a Cateme e técnicos da Anvisa. O Scout mostrou que a sibutramina aumentou significativamente o risco de eventos cardiovasculares adversos nos pacientes tratados. O aumento do risco cardiovascular indica que a sibutramina não foi eficaz em reduzir a morbidade cardiovascular associada ao excesso de peso. Esse aspecto - independentemente de outras questões - é crucial, pois o objetivo do tratamento da obesidade é a atenuação da morbidade associada à obesidade e não a redução de peso em si.
Os resultados do Scout levaram a Agência Europeia de Medicamentos a retirar a sibutramina do mercado ainda no início de 2010. A Agência Americana (FDA) inicialmente restringiu o uso e alertou prescritores; meses depois, face aos resultados definitivos do Scout, retirou a sibutramina do mercado. No Brasil, recomendações sobre a permanência da sibutramina no mercado não poderiam ser feitas sem considerar as evidências de segurança e eficácia disponíveis para os demais inibidores de apetite registrados pela Anvisa (fenproporex, anfepramona e mazindol). Em outubro de 2010, a Cateme recomendou à Anvisa o cancelamento do registro dos quatro anorexígenos.

Diante da pressão dos médicos, farmacêuticos e representantes do Ministério Público, a Anvisa adiou a edição da medida. Na semana anterior à audiência pública, a agência havia previsto a edição da resolução no início de março. Logo depois, já não falava mais em prazo. A Anvisa corre o risco de perder essa guerra?Paumgartten: A polêmica era previsível e deve ser encarada com naturalidade como parte do processo de regulação do mercado. Quando a autoridade sanitária cumpre a missão que a sociedade lhe confiou e retira do mercado medicamentos ineficazes e perigosos, ela, inevitavelmente, contraria interesses de diversas naturezas. No caso dos anorexígenos, as manifestações contrárias à retirada do mercado são expressas fundamentalmente por prescritores desses medicamentos (endocrinologistas e especialistas em obesidade) e pelo setor de farmácias magistrais. Retificando a pergunta, não há pressão do Ministério Público, o que houve na Audiência Pública foi o posicionamento isolado de um promotor do Distrito Federal.
A transparência adotada pela Anvisa nessa questão é altamente louvável. A veemência das manifestações contrárias na audiência pública e na mídia deve ser encarada com naturalidade num Estado democrático. Deve-se destacar, entretanto, a decisão do órgão técnico (Anvisa), que deve se basear na melhor evidência científica disponível, e não na retórica dos descontentes e no ruído na mídia. Apesar da veemência das manifestações dos setores contrários à retirada do mercado, nenhum estudo clínico ou dado científico novo foi apresentado que viesse a abalar os fundamentos da conclusão da Cateme e das decisões do FDA e da Agência Europeia (EMA) em relação à sibutramina e demais anorexígenos.

A indicação da Anvisa de cancelar os registros desses remédios é baseada em estudos internacionais e em parecer da Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme), instância consultiva da agência. Quais são os principais pontos deste estudo?
Paumgartten:
Em relação à sibutramina, o mais moderno e mais estudado dos quatro inibidores do apetite, os resultados do estudo Scout evidenciando o risco cardiovascular aumentado foram decisivos para a conclusão da Cateme e para a retirada dos mercados europeu, norte-americano, canadense e australiano. Além do Scout, os resultados de uma série de outros estudos e meta-análises corroboram a conclusão da Cateme de que os riscos da sibutramina superam os esperados benefícios do seu uso no tratamento da obesidade. A relação risco-benefício é ainda mais desfavorável no caso dos demais anorexígenos, que foram banidos na maioria dos países há muitos anos. O fenproporex, que é transformado em anfetamina no organismo, exibe alto potencial de uso indevido e adição, e efeitos típicos da anfetamina, entre os quais a indução de quadros psicóticos e sérios riscos cardiovasculares. Nos EUA, o fenproporex, contrabandeado do Brasil, é conhecido como Brazilian diet pill e usado de forma ilícita. A relação risco-benefício também é amplamente desfavorável nos casos do mazindol e anfepramona.

Nota técnica da área de Farmacovigilância e da Gerência de Medicamentos da Anvisa concluiu que a sibutramina não seria muito eficaz na redução e manutenção do peso a longo prazo. O senhor poderia falar algo sobre isso?
Paumgartten:
A perda de peso causada pelos anorexígenos é mais acentuada nas primeiras semanas de tratamento. Com a continuidade do tratamento farmacológico, há, via de regra, uma recuperação de parte do peso que havia sido inicialmente perdido. A interrupção da administração do inibidor de apetite produz franca recuperação do peso que havia sido perdido com o tratamento.
É importante salientar que há uma expressiva variação entre os indivíduos na resposta aos tratamentos anorexígenos. Alguns pacientes respondem melhor em termos de redução de peso, enquanto outros não respondem ou até ganham peso. Pode-se dizer que em média a perda de peso adicional conseguida com o tratamento farmacológico, em relação ao que é conseguido apenas com dieta e exercícios, é apenas modesta e não é mantida com a interrupção do tratamento.

A principal alegação dos especialistas que se opõem à Anvisa é que a proibição deixaria sem opção de tratamento pacientes obesos, que, por sua condição, enfrentam riscos muito maiores do que os oferecidos pela substância. Qual seria a alternativa para esses pacientes?
Paumgartten:
Trata-se de argumento falacioso. Medicamentos que não são seguros e eficazes não são opções aceitáveis para o tratamento da obesidade ou de qualquer outra condição. A dieta e os exercícios permanecem como opções seguras e eficazes para o tratamento da obesidade. Certamente, a redução de peso alcançada com exercícios físicos e reeducação alimentar é acompanhada por diminuição da morbidade associada ao excesso de peso. Isto não foi demonstrado com os anorexígenos. No estudo Scout, por exemplo, apesar de reduzir o peso, a sibutramina não só não atenuou como até mesmo aumentou o risco de enfarte do miocárdio e acidente vascular encefálico, comorbidades associadas à obesidade.


Publicado em 25/2/2011.