domingo, 10 de abril de 2016

Medicamentos - Aderência ao tratamento

Tomar remédio todo dia, durante anos, exige disciplina dos pacientes
por Drauzio Varella — publicado 05/04/2016 em CARTA CAPITAL (www.CartaCapital.com.br)

Damos o nome de “aderência” à assiduidade com a qual seguimos as recomendações médicas. Ela é mais alta nas doenças agudas, sintomáticas. Um doente com pneumonia e falta de ar faz repouso e toma sete dias de antibiótico, nos horários recomendados.
Difícil é manter os esquemas contra a tuberculose que duram seis meses ou contraAids, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares, que devem continuar pela vida inteira.
Nas enfermidades crônicas, mesmo em ensaios clínicos internacionais que incluem participantes selecionados e acompanhados de perto, as meta-análises demonstram que a aderência varia entre 43% e 78%. 
No Brasil, ocorrem cerca de 300 mil mortes anuais por doença cardiovascular, o equivalente a um óbito a cada dois minutos. Nas últimas décadas surgiram betabloqueadores, antiagregantes plaquetários, estatinas e outros medicamentos capazes de reduzir o risco de ataques cardíacos, derrames cerebrais e óbitos, tanto em pessoas com risco elevado de apresentar tais complicações (prevenção primária) quanto naqueles que já as enfrentaram (prevenção secundária).
Um estudo sobre prevenção secundária conduzido com 4.761 pacientes que receberam prescrição de uma dessas drogas mostrou que, depois de um ano, apenas 809 (17%) permaneciam em tratamento. Em outro estudo semelhante, o seguimento de 8.864 pacientes durante um ano revelou que 88% abandonaram a medicação.
As causas para a interrupção são multifatoriais: custo, efeitos indesejáveis, dificuldade para marcar consultas, falta de informações sobre a finalidade da medicação e os riscos de interrompê-la, indisciplina, baixa escolaridade, negação e dificuldades no relacionamento médico-paciente.
Nós, médicos, contribuímos involuntariamente para esses índices de aderência: entregamos as receitas nas mãos de nossos doentes e imaginamos que eles as seguirão religiosamente, sem levarmos em conta as suas idiossincrasias.
Um hipertenso mal informado dos riscos de viver com pressão alta e da necessidade de medi-la e controlá-la, dificilmente tomará com regularidade as drogas prescritas. O sobrevivente de um ataque cardíaco precisa ser convencido de que ao lado da atividade .física e da dieta equilibrada, a medicação pode evitar que aconteça outro. 
Se nas condições de trabalho que o sistema público e os planos de saúde impõem à prática de hoje, o tempo de cada consulta é insuficiente para explicações mais detalhadas, precisamos de pessoas que nos ajudem. Quem são elas? Os familiares do doente e as enfermeiras, profissionais subutilizadas no Brasil.
A experiência mostra que contatos periódicos por telefone, SMS, e-mail ou WhatsApp aumentam significativamente a aderência. Equipes de enfermagem podem realizar esse trabalho com muito mais eficiência do que nós.
De que adianta basearmos nossa prática nas melhores evidências científicas se nossos pacientes não levarem a sério as mudanças de estilo de vida que lhes recomendamos ou não tomarem os remédios receitados.

Disponível em:http://www.cartacapital.com.br/revista/894/aderencia-ao-tratamento

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Fosfoetanolamina - Carta aberta da Abrasco pelo veto ao PL.

Título original: Fosfoetanolamina sintética: Carta Aberta da Abrasco para reivindicar veto ao Projeto de Lei 4639/16
Fonte: www.abrasco.org.br

Abrasco entende que a autorização de medicamento não é competência do Poder Legislativo. Nas sociedades contemporâneas, esse tipo de decisão é remetida à órgãos de caráter técnicos, como a Anvisa

Após ser aprovado pelo plenário da Câmara dos Deputados, em 8 de março deste ano, o Projeto de Lei 4639/16, que autoriza a produção e o uso da fosfoetanolamina sintética aos pacientes com câncer mesmo antes da conclusão dos estudos que permitam à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analisar o pedido de registro definitivo dela como medicamento, também foi aprovado pelo Senado Federal no último dia 23 e aguarda a sanção ou o veto da Presidência da República. Nas últimas décadas, órgãos do Sistema Único de Saúde e instituições de pesquisa da Saúde Coletiva e de outras áreas de conhecimento promoveram esforços para ofertar à população brasileira medicamentos com segurança comprovada. Assim, a instituição do Estado brasileiro responsável por essa regulamentação, a Anvisa, deve ser fortalecida e a iniciativa de se aprovar um projeto de lei que permita a liberação individualizada de uma substância química precisa ser fortemente rejeitada. Diante destes acontecimentos, a Abrasco encaminhou para a presidente Dilma Rousseff uma Carta Aberta referente à solicitação de veto presidencial ao Projeto de Lei 4639/16, que autoriza a produção e o uso da fosfoetanolamina sintética como medicamento.
Confira o documento na íntegra:

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO, dirige-se respeitosamente a Vossa Excelência para reivindicar vosso veto ao Projeto de Lei 4639/16, que autoriza a produção e o uso da fosfoetanolamina sintética como medicamento. O mencionado PL foi aprovado pela Câmara e pelo Senado, nos dias 8 e 23 de março últimos, respectivamente, e aguarda sanção ou veto da Presidência da República.

A autorização de medicamentos não compete ao Poder Legislativo e à Presidência da República. Nas sociedades contemporâneas, esse tipo de decisão compete a órgãos técnicos; no Brasil, é atribuição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, segundo a Lei nº 9.782, de
26/01/1999. A determinação da segurança e da eficácia de um medicamento depende dos resultados de uma sequência de estudos clínicos cujos métodos e protocolos já se encontram consolidados pela comunidade cientifica. Não se dispõe ainda de resultados desses estudos no caso da
fosfoetanolamina sintética.

Em respeito às atribuições legais da ANVISA, e aos melhores interesses de proteção à saúde dos brasileiros, reiteramos a importância do veto presidencial ao PL 4639/16.
Respeitosamente,
Gastão Wagner de Sousa Campos
Presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco

Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/2016/04/fosfoetanolamina-sintetica-carta-aberta-da-abrasco-para-reivindicar-veto-ao-projeto-de-lei-463916/

Assine a Petição: A SAÚDE EM DEFESA DA DEMOCRACIA.



Este Blog assinou a petição abaixo! Assine também, em defesa do SUS e da democracia.
Para assinar CLIQUE AQUI

MANIFESTO DA SAÚDE 


A SAÚDE EM DEFESA DA DEMOCRACIA – NÃO AO GOLPE !!! 



Nós, militantes da saúde (usuários, gestores, trabalhadores, dirigentes de entidades de trabalhadores, docentes, pesquisadores, residentes, estudantes, conselheiros e ativistas de movimentos populares da saúde), que dedicamos nossas vidas nas últimas décadas ao processo de construção e implementação do Sistema Único de Saúde, a partir da visão de que a saúde é um direito social, de cidadania e, portanto, um dever do Estado, manifestamos o nosso repúdio a qualquer tentativa de impeachment de uma presidenta eleita pelo voto popular descumprindo o estabelecido na Constituição. 

O impedimento de quem galgou o posto de presidenta da República sem que tenha cometido crime de responsabilidade, devidamente comprovado, é GOLPE. Golpe também sobre os avanços democráticos, na atenção universal e gratuita representados pelo SUS. 



Compreendemos que a promoção, a produção da saúde e o enfrentamento dos determinantes sociais, que possam garantir vida com mais qualidade e saúde para a nossa população, são indissociáveis da garantia de direitos sociais e da democracia, conquistados com muita luta e ameaçados. Aqueles que não obtiveram aprovação nas urnas e que se associam aos interesses de empresários e financistas inescrupulosos, setores do judiciário e da mídia, mancomunados para produzir atalhos que poderão escrever, se tiverem êxitos, uma história de trevas e atraso para o nosso país. 
Nós, que prezamos e lutamos pela democracia, não podemos aceitar essa afronta ao Estado Democrático de Direito. 



Saúde, democracia e cidadania em nosso país foram conquistas estabelecidas no contexto da luta política pela redemocratização. Também execramos a corrupção e esperamos que o país seja passado a limpo. Todos que cometeram ilícitos – mas todos mesmo – devem ser investigados e punidos, dando-lhes o direito de responderem as acusações respeitado o devido processo legal. Não vamos permitir retrocessos. Conclamamos todos os democratas a se unirem na luta pela democracia e contra o golpe. 
Repudiamos também o clima de ódio fomentado. Se nos calarmos diante desta ilegalidade democrática, estaremos nos calando diante da intolerância com o desigual, diante da violência contra a comunidade LGBTT, mulheres, negros periféricos. Respeito à diferença coerente com os princípios do SUS como a equidade. 



O SUS sofre há muitos anos com ataques constantes dos mesmos setores da mídia que apoiam hoje o golpe. Uma política pública ameaçada de ampliar seu desfinanciamento com a agenda apresentada por grupos golpistas, com graves consequências à universalidade, integralidade e equidade. 
Só existe SUS na democracia! 
Saúde é luta!!! 
Não vai ter golpe!!! 



Assinam esta Petição: 



Alexandre Padilha - Ex-Ministro da Saúde 



Arthur Chioro - Ex-Ministro da Saúde 



Humberto Costa - Ex-Ministro da Saúde 



José Gomes Temporão - Ex-Ministro da Saúde 



José Agenor - Ex-Ministro da Saúde 



Conceição Lemes 



Frente Estadual Antimanicomial - SP 



CUT 



UNE 



Ass. Brasileira de Saúde Bucal Coletiva 



Setorial de Saúde do PT 



SINDSEP - SP 



SIND. Enfermeiros - SP 



SIND Psicólogos - SP 



Sind ACS do Vale do Paraíba e Guarulhos e região 



FETESS SP 



ABRASME 



Movimento Nacional da Luta Antimanicomial 



Federação Nacional dos Enfermeiros 



Faculdade de Saúde Pública/USP 



APSP 



ABRASCO 



CEBES 



COSEMS SP 



Rede Nacional de Médicos e Medicas Populares

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Fiocruz divulga manifesto pela democracia e Estado de Direito.

"Manifesto do Conselho Deliberativo da Fiocruz em defesa da democracia e do Estado de Direito
O difícil momento pelo qual passa a sociedade brasileira requer serenidade de todos, em especial das lideranças e das instituições públicas, para que a superação dos desafios que se apresentam na atual conjuntura seja permeada pelo fortalecimento da democracia e pela inadmissibilidade de quaisquer retrocessos nos direitos de cidadania conquistados pelos brasileiros.
A Fundação Oswaldo Cruz, instituição atingida diretamente pela ditadura instaurada em 1964 - cuja intolerância ao pensamento crítico levou à perseguição e à cassação de cientistas -, e que lutou pela construção da democracia e pela saúde como um direito universal, vem manifestar sua preocupação diante do grave quadro político do país, com iminente ameaça às regras democráticas e ao Estado de Direito. Tais regras pressupõem o equilíbrio entre os poderes republicanos, o respeito à manifestação popular através do voto e aos trâmites políticos legais. Foi um árduo processo de lutas que permitiu ao Brasil a reconquista da democracia e a efetivação dos direitos civis, políticos e sociais. Por isso, a atual situação, com o crescimento da intolerância, da polarização e do desrespeito aos direitos individuais, requer, de todas as lideranças sociais e políticas, responsabilidade diante de nossas conquistas passadas, nosso presente e nosso futuro como nação.
Faz parte da construção da democracia e da consolidação das instituições republicanas o aprofundamento da transparência das ações, a defesa do interesse público e o combate à corrupção. Esta deve ser uma bandeira de todos que lutam pelos direitos políticos e sociais no país. Contudo, isto não pode ser instrumentalizado para promover ações que firam direitos, desrespeitem preceitos constitucionais e sirvam a interesses políticos menores. Para tanto, fazem-se necessárias, entre outras medidas, promover o reequilíbrio entre os poderes republicanos e a regulação democrática dos meios de comunicação, enfrentando problemas como sua parcialidade e caráter oligopólico.
Convidamos a sociedade brasileira à reflexão e à participação cidadã diante de um quadro onde interesses econômicos nacionais e internacionais não condizentes com um projeto de nação justa e inclusiva ameaçam as conquistas alcançadas com a Constituição de 1988 e buscam chegar ao poder sem o respaldo das urnas, mesmo que para isso tenham que jogar o país em um ambiente de confronto e intolerância, capaz de promover o caos social se não forem imediatamente barradas em seu intento.
Ao manifestar-se, o Conselho Deliberativo reafirma o posicionamento da instituição em seu VII Congresso Interno, realizado em novembro de 2015. Trata-se do compromisso da Fiocruz com a promoção da saúde pública como direito humano inalienável, com o avanço do conhecimento científico e tecnológico a serviço da população, com a compreensão da saúde como elemento central para o desenvolvimento sustentável e para a reafirmação da soberania nacional. 
A sociedade não pode aceitar qualquer recuo no caminho trilhado com vistas a assegurar a conquista à saúde como direito humano e fator decisivo para a inclusão social e para o desenvolvimento. Um dos mais importantes riscos refere-se à perda da institucionalidade democrática e dos direitos assegurados pela Constituição de 1988.
Nestes dias, em que lembramos os 52 anos do Golpe civil e militar que instalou a ditadura no país por 21 anos, entendemos que é de fundamental importância a mobilização em defesa do respeito incondicional à manifestação do voto popular, firmeza na defesa dos direitos e garantias individuais e coletivas, incluindo os dos trabalhadores, e reafirmação das políticas de estado voltadas para a inclusão social. Em especial é imperiosa a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), um sistema público de vital relevância para o povo brasileiro, por seu caráter resolutivo, democrático, universal e inclusivo. Para a Fiocruz, saúde e democracia são elementos essenciais da vida cidadã na afirmação da nossa Nação e soberania. SAÚDE É DEMOCRACIA."
Fonte: https://agencia.fiocruz.br/fiocruz-divulga-manifesto-pela-democracia-e-estado-de-direito