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sábado, 26 de abril de 2014

De farmacêutico, todo mundo tem um pouco!

É muito comum buscarmos saber sobre quais foram os grandes vultos da profissão que escolhemos por exercer. Sentimos orgulho em saber que grandes personalidades optaram pela mesma área de atuação que nós, mesmo que não a tenha exercido na plenitude, Interessante também podermos contar a história daqueles que não ficaram tão famosos, mas que tiveram condutas que merecem nosso respeito. No meu caso essa busca tem sido o motivo de muito das minhas pesquisas e leituras. Muitas eu já contei nesse humilde espaço, como a do farmacêutico e poeta Carlos Drummond, também sobre Tiradentes e sua botica, além da canonização de José de Anchieta, o primeiro boticário do Piratininga. Também apresentamos a história de Alberto Granado, farmacêutico amigo de Che Guevara, além da relação do carnaval com a saúde e com a profissão farmacêutica.

Em minhas pesquisas tenho descoberto algumas curiosidades que me levaram ao título desta postagem: “De farmacêutico, todos têm um pouco”. Contando-as para pessoas próximas fui caçoado. Perguntaram se minha tese é de que o mundo poderia ser dividido em dois grupos: os que foram farmacêuticos e os que não foram. Claro que não é isso, mas começo a concluir, com um enorme tom de exagero, que muitas personalidades cruzaram ao longo de suas vidas com a história da profissão farmacêutica, direta ou indiretamente. Vamos ver alguns casos?

Agatha Christie publicou mais de 80 livros, tendo vendido mais de 1 trilhão de cópias em todo o mundo. É considerada a maior escritora de romances policiais. Qual seria sua relação com a profissão farmacêutica? Conta a história que Agatha Christie, durante a primeira grande guerra, alistou-se como voluntária no Exército da Cruz Vermelha. Em alguns sites encontramos que ela se alistou como farmacêutica e outros dizem que foi como enfermeira. Os que dizem que a escritora trabalhou como farmacêutica, alegam que vem desta experiência o grande conhecimento sobre venenos, informações que foram usadas em alguns de seus livros. Pesquisando um pouco mais encontramos que Agatha havia se matriculado em curso de enfermagem, antes da guerra, e teve como professor um famoso farmacêutico na cidade, que serviu de inspiração para o livro “O Cavalo Amarelo”. Bom, tendo atuado como farmacêutica ou como aluna de um farmacêutico, a relação está estabelecida.

O escritor colombiano Gabriel García Márquez, falecido recentemente, era filho de farmacêutico. Seu pai, Gabriel Eligio García, tornou-se farmacêutico logo depois do nascimento de Gabo. Ou seja, o escritor não foi farmacêutico, mas era filho de um.

CAPTAIN MORGAN é uma famosa marca de rum atualmente comercializada em mais de 75 países. Conta a história, segundo o Blog Mundo das Marcas,  que Sam Bronfman, executivo de uma companhia de bebidas canadense chamada Seagram, foi levado ao Caribe atraído por uma nova oportunidade comercial, o rum com especiarias. Acabou adquirindo a destilaria Long Pond, do governo Jamaicano. Também adquiriu as tradicionais receitas de rum com especiarias, de dois farmacêuticos da cidade de Kingston, conhecidos como os irmãos Levy. Em resumo, o sucesso da marca se deve também aos dois farmacêuticos.

Bom, apresentamos aqui algumas histórias. Sei que temos muitas por descobrir e conto com o auxílio dos meus 3 ou 4 leitores. Aliás, assim como temos apresentado as dicas de filmes, vamos apresentar novas histórias como dicas de farmacêuticos, ou quase, que ficaram, ou deveriam ficar, famosos.



Fontes:


quarta-feira, 2 de abril de 2014

José de Anchieta: um Santo boticário.

Foi adiada para amanhã a canonização do Padre José de Anchieta. Em 1980 o papa João Paulo II beatificou José de Anchieta e amanhã (03/04/2014) o papa Francisco assinará o documento que o proclamará santo. Para o povo brasileiro é um orgulho e para os farmacêuticos um pouco mais. Poucos sabem, mas o jesuíta José de Anchieta é considerado o primeiro boticário do Piratininga (São Paulo). Cabe salientar que o primeiro boticário no Brasil foi Diogo de Castro, que veio para nossas terras em 1549, junto com Tomé de Souza, governador Geral nomeado pela Coroa Portuguesa.  José de Anchieta chegou ao Brasil no Porto da Bahia, em junho de 1553, na armada de Duarte da Costa, 2° Governador Geral do Brasil.

Sobre o papel desempenhado pelos padres jesuítas no Brasil recomendo a leitura do artigo “Jesuítas e medicina no Brasil Colonial”, escrito por Daniela Buono Calainh - Professora Adjunta do Departamento de Ciências Humanas da UERJ-FFP.  Diz a autora:

“Os jesuítas integraram-se ao esforço da travessia atlântica em direção às novas terras americanas...”.

“Além de trabalharem incansavelmente na difusão da fé cristã, os jesuítas também foram uma grande âncora da saúde na colônia, atestada pela vastíssima documentação das correspondências que mantiveram com seus irmãos em Portugal e no Brasil. Alguns deles vinham de Portugal já formados nas artes médicas, mas a maioria acabou por atuar informalmente como físicos, sangradores e até cirurgiões, aprendendo, na prática, o ofício na colônia, como José de Anchieta, João Gonçalves ou Gregório Serrão. Outros, em meio a obras e cartas, onde comentavam sobre a natureza colonial, dedicaram várias páginas à descrição de ervas e plantas curativas, inaugurando os primeiros escritos sobre a farmacopéia brasileira”.

“A escassez de médicos leigos, formados por escolas de medicina na Europa, pelo menos até o século XVIII, fez dos jesuítas os responsáveis quase que exclusivos pela assistência médica no primeiro século de colonização do Brasil. Ao longo do tempo, foram aperfeiçoando seus conhecimentos mediante contatos com os profissionais leigos residentes na colônia, e ainda pela leitura de importantes obras de medicina, encontradas em muitas das bibliotecas de seus colégios”.

Além de fundarem colégios e erguerem igrejas, também montaram enfermarias e boticas, destinando um irmão para atender e cuidar dos doentes e outro para a preparação de remédios. Encaminhado para o Sul, Anchieta implantou várias boticas nos colégios dos Jesuítas, com destaque para a de São Vicente e de São Paulo.  Nesta última, José de Anchieta era o irmão responsável pela botica. 

Diz o site http://www.novomilenio.inf.br/, sobre José de Anchieta: 

"Conquistou a estima de todos, índios e colonos, aos quais procurou servir sem esmorecimento. Ele mesmo escreveu: "De maneira que os índios me tinham muito crédito, máxime porque eu lhes ocorria a suas enfermidades, e como alguém enfermava logo me me chamavam, dos quais eu curava a uns com levantar a espinhela, a outros com sangrias e outras curas, segundo requeria a sua doença, e com o favor de Cristo Nosso Senhor, achavam-se bem". (Carta ao Geral Diogo Laines, de janeiro de 1565).

Abaixo a biografia encontrada no site www.brasilescola.com, escrita por Rainer Sousa:


"Uma vida direcionada para o ensino e o sacerdócio. É assim que podemos resumir a trajetória do Padre José de Anchieta, nascido no dia 19 de março de 1534, na cidade Tenerife, nas Ilhas Canárias. Tendo em sua origem a ascendência nobre pela parte do pai e judaica pelo lado materno, Anchieta foi levado para Portugal para que tivesse formação intelectual e não sofresse as bem mais intensas perseguições do Tribunal do Santo Ofício instalado em terras espanholas.


A sua ida para os domínios lusitanos aconteceu quando tinha 14 anos idade, mesma época em que estudou filosofia no Colégio das Artes pertencente à Universidade de Coimbra. Três anos mais tarde, ingressou na Companhia de Jesus para dessa forma participar no processo de expansão do cristianismo em terras americanas. Ao ingressar nesse “exército da fé”, exerceu inicialmente a tarefa de celebrar várias missas ao longo de um mesmo dia.

Sua vida agitada e a entrega total ao afazeres religiosos comprometeram a sua saúde, reclamava constantemente de dores na coluna e nas articulações. Obedecendo ao conselho dos médicos da época, Padre Anchieta veio para o Brasil acompanhando a esquadra que trouxe o governador-geral Duarte da Costa, em 1553. Já no primeiro ano instalado no ambiente colonial, o devotado clérigo participou da fundação do primeiro colégio de São Paulo de Piratininga.

Outra interessante ação tomada por Padre Anchieta ao chegar às terras brasileiras está relacionada ao seu interesse em conhecer mais profundamente a língua dos nativos. Com o auxílio do Padre Auspicueta, aprendeu os primeiros termos e expressões do “abanheenga”, língua compartilhada por índios tupis e guaranis. Em pouco tempo, percebeu que as línguas faladas por várias tribos tinham uma mesma raiz formada por aspectos semânticos, gramaticais e vocabulares em comum.

Seu interesse pelas letras também se manifestou na produção de uma extensa obra que incluía a elaboração de poesias, sermões, cartas, peças teatrais religiosas e a produção de uma gramática intitulada “Arte de Gramática da Língua Mais usada na Costa do Brasil”. Essa preocupação com a língua era de essencial importância para a consolidação do projeto evangelizador dos jesuítas, sendo que textos e apresentações artísticas eram produzidos na língua nativa como forma de facilitar a conversão ao cristianismo.

Durante o período em que viveu em terras brasileiras, Anchieta andou bastante pelas regiões que hoje correspondem aos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. No ano de 1567, Anchieta alcançou o cargo de Provincial, o mais alto posto da Ordem de Jesus, que havia sido desocupado após a morte do Padre Manuel da Nóbrega. A partir de então, o padre José de Anchieta andou por toda extensão do território colonial orientando as atividades das várias missões jesuítas espalhadas pelo Brasil.

José de Anchieta faleceu em 9 de junho de 1597, na cidade Reritiba, situada na capitania do Espírito Santo. Em razão de seus trabalhos prestados em favor da expansão do cristianismo nas Américas, este clérigo ficou conhecido como “apóstolo do Novo Mundo” e “curador de almas e corpos”. Em 1980, foi beatificado pelo papa João Paulo II após o desenrolar de um lento processo de investigação. Segundo os autos, Anchieta havia operado o “milagre” de converter três pessoas ao cristianismo em um mesmo dia".

Fonte textos e imagem: 

CALAINHO, Daniela Buono. Jesuítas e medicina no Brasil colonial. Tempo,  Niterói ,  v. 10, n. 19, Dec.  2005 .   Available from . access on  02  Apr.  2014.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-77042005000200005.





terça-feira, 16 de julho de 2013

A história de uma farmácia...

A história abaixo foi extraída do site: http://www.saopauloantiga.com.br/pharmacia-popular/ sob o título "Pharmacia Popular". Sugiro visitarem, principalmente pelas belas fotos que ilustram a matéria. 

"Encontrar estabelecimentos centenários pelo Brasil não é uma tarefa muito fácil. Embora eles existam, não é todo dia que encontramos lojas, padarias e outros ramos de comércio com mais de 100 anos, mas o que dizer de um com 180 anos de idade? É raro, mas existe. Ou melhor, existiu.

Fechada desde 2011, a Pharmacia Popular, localizada na cidade de Bananal foi a farmácia mais antiga do Brasil. Inaugurada ainda na primeira metade do século 19 pelo francês Tourim Domingos Monsier.
Influenciado pela riqueza que o café brasileiro proporcionava, Monsier chegou à cidade de Bananal disposto a tornar-se um barão do café. Ele adquiriu uma fazenda tão logo chegou à cidade, mas por alguma razão desconhecida desistiu de ser fazendeiro e retornou as suas origens como boticário, abrindo esta farmácia em 1830, com o nome de Pharmacia Imperial.
O boticário francês permaneceria à frente do negócio por 30 anos, quando vendeu a farmácia para o coronel Valeriano José da Costa. Em 1889, com a proclamação da república, houve uma pressão na cidade para que o estabelecimento mudasse de nome, já que fazia referência ao finado império. E foi assim que naquele ano a Pharmacia Imperial dava lugar a Pharmacia Popular, nome que perdurou até o fim das atividades.
Com a morte de seu proprietário, em 1918, a farmácia mais uma vez mudaria de dono, adquirida pelo coronel Graça. Ele por sua vez passaria a propriedade a seu filho, Ernani Graça, que em breve seria eleito prefeito de Bananal por dois mandatos. Quando faleceu, a farmácia passaria para seu filho, Plínio Graça, que também seria por duas vezes prefeito da cidade. Graça seria o último dono da farmácia em funcionamento, vindo a falecer em 2011.
De local histórico a local fechado:
Símbolo não só da história de Bananal, mas de todo o Brasil, a farmácia popular não resistiu ao passamento de Plínio Graça. Mesmo estando absolutamente preservada e funcionando como um misto de museu e comércio, ela foi fechada no ano de 2011. Segundo moradores da cidade o acervo teria sido vendido para o exterior. Seja verdade ou não, a realidade é que uma parte importante da história brasileira morreu junto de seu último proprietário.
Mesmo ainda pertencendo a mesma família, mas sem seus itens históricos que compunham a velha farmácia, resta apenas o prédio como uma lembrança de um estabelecimento histórico e raro no Brasil. Se a culpa é do herdeiro que não manteve a tradição ou das autoridades que nada fizeram para ajudar esta jóia de Bananal, o tempo se encarregará de nos dizer.

Histórico:

1830 – Inauguração com Pharmacia Imperial
1860 - Coronel Valeriano José da Costa adquire a farmácia de seu antigo proprietário
1889 – O estabelecimento passa a chamar Pharmacia Popular
1918 – Coronel Graça compra a farmácia e a repassa a seu filho, Ernani Graça
1956 – Plínio Graça assume a farmácia
2011 – Em 30 de junho Plínio da Graça morre aos 87 anos.
2011 – Pouco depois do passamento de Plínio da Graça a farmácia é fechada e há rumores da venda de todo seu acervo". 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Breve história sobre a relação entre o carnaval e a saúde.

Domingo de carnaval. Encerrado o desfile das escolas de samba de São Paulo, confesso que a homenagem feita à cidade de Itanhaém, pela “Pérola Negra” me emocionou. A agremiação “Dragões da Real”, em seu primeiro desfile no grupo principal, também contagiou com sua homenagem às mães. Aí estava uma boa postagem para o Blog: quais homenagens já foram feitas, nos carnavais, para a área da saúde? Encontrei algumas informações referentes às escolas de samba do Rio de Janeiro.
Em 1952, a G.R.E.S. Império Serrano fez uma homenagem à medicina. O samba-enredo, composição de Mano Décio, Penteado e Fuleiro, dizia:
“O ilustre professor
Doutor Osvaldo Cruz
Grande pesquisador
Carlos Chagas, Miguel Couto
Vultos de glórias mil
Na Medicina do Brasil
Laureano, Caiado de Castro
Miguel Couto e outros mais
Ana Néri, corajosa enfermeira
A heroína brasileira.”
A Estação Primeira de Mangueira, em 1987, homenageou o poeta e farmacêutico Carlos Drummond de Andrade. O samba-enredo, que sagrou a escola campeã do carnaval naquele ano, com o título “O reino das palavras” dizia:
“Mangueira
De mãos dadas com a poesia
Traz para os braços do povo
Este poeta genial
Carlos Drummond de Andrade
Suas obras são palavras
De um reino de verdade
Itabira
Em seus versos ele tanto exaltou
Com amor
Eis aí a verde e rosa
Cantando em verso e prosa
O que ao poeta inspirou
É dom quixote ô
É zé pereira
É charlie chaplin
No embalo da mangueira
Olha as carrancas
Do rio são francisco
Rema rema remador
Primavera vem chegando
Inspirando o amor
O rio toma conta do sambista
Como o artista imaginou
Na ilusão dos meus sonhos, achei
O elefante que eu imaginei.”
 Um samba-enredo ficou famoso em 2011. A Imperatriz Leopoldinense, com o enredo "A Imperatriz adverte: sambar faz bem à saúde", buscou “contar no sambódromo carioca a evolução da arte de salvar vidas, desde o misticismo inicial até o mapeamento do DNA, passando por diversas civilizações”, conforme entrevista dada pelo diretor da escola Wagner Araújo, ao jornal “O Estado de São Paulo”. Já abordei neste humilde espaço a relação da Escola com um farmacêutico: (http://www.marcoaureliofarma.blogspot.com/2012/02/amaury-jorio-um-farmaceutico-no-samba.html). A letra do samba segue abaixo:
“Um ritual de magia...
Oh! Mãe África,
Do teu ventre nascia o poder de curar!
Despertam as antigas civilizações,
A cura pela fé nas orações!
Mistérios da vida, o homem a desvendar...
A mão da ciência ensina:
O mundo não pode parar!
Uma viagem no tempo... a me levar!
O valor do pensamento a me guiar!
O toque do artista no Renascimento,
Surge um novo jeito de pensar!
Luz - Semeando a ciência,
A razão na essência, o dever de cuidar!
Luz - A medida que avança,
Uma nova esperança que nos leva a sonhar!
Segredo - A "Chave da Vida",
Perfeição esculpida, iludindo o olhar...
Onde a medicina vai chegar?
No carnaval, uma injeção de alegria,
Dividida em doses de amor,
É a minha escola a me chamar, doutor!
Posso ouvir no som da bateria,
O remédio pra curar a minha dor!
Eu quero é sambar!
A cura do corpo e da alma no samba está!
Sou Imperatriz, sou raiz e não posso negar:
Se alguém me decifrar
É verde e branco meu DNA”.


Sei que existem muito mais histórias do que essas aqui contadas. Por isso, peço aos meus 2 ou 3 leitores que se souberem de outras, indiquem.

Fonte:

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A primeira Santa Casa do Brasil....

Desde que cheguei a Brasília tenho sentido saudades da cidade onde passei mais da metade de minha vida, cidade essa que me adotou e que adotei como minha, fruto do tratamento recebido. Alguns rirão com isso, mas nasci num Município próximo de  São Paulo, fui registrado em Tatuapé, na Zona Leste de capital paulista e parti, com 5 anos de idade,  para Niterói (onde me criei) no Rio de Janeiro. Voltei a SP, especificamente para Santos,  com 15 anos (1986), vivendo até 2009. Nesta cidade vivi a maior parte de minha vida, tendo tido uma breve passagem por Piracicaba, durante 6 mêses,  para o início de minha vida universitária.  Em  2010 partí para a Capital Federal.
Tal saudade me fez realizar essa postagem. Com base na minha área de atuação, a saúde, quis compartilhar uma informação que talvez  poucos saibam: Santos tem a primeira Santa Casa do Brasil. Sabia disso? Abaixo, divulgo informação (além da foto feita na década de 70 que ilustra essa postagem),  disponível no site: http://www.scms.org.br/noticia.asp?codigo=619 .

"O maior patrimônio da Santa Casa da Misericórdia de Santos é a sua história, que se confunde com a história da própria cidade. Fundado numa época em que Santos não era sequer uma vila e sim o povoado de Enguaguassu, o então Hospital de Todos os Santos deu origem ao nome da cidade. Por cinco séculos atendeu navegadores, colonos, nativos e escravos, foi destruído mais de uma vez e acompanhou o crescimento do porto, da cidade e do país.
Em 1542, auxiliado pelos prósperos moradores da região, Brás Cubas iniciou a construção do hospital, no sopé do Outeiro de Santa Catarina (onde hoje situa-se a Rua Visconde do Rio Branco), defronte ao edifício da Alfândega, que foi inaugurado em 1º novembro de 1543. Entre 1545 e 1547, o Capitão-Mor Braz Cubas elevou o povoado à categoria de vila com o nome de vila do Porto de Santos.
Em 1597, quando da morte de seu criador, a Vila do Porto de Santos entrou em decadência. Em decorrência, houve um progressivo empobrecimento da comunidade e da Irmandade, de maneira que o hospital chegou a fechar suas portas em 1654.
Em 3 de outubro de 1654, Dom Jeronymo de Athayde, Conde de Athouguia, Governador Geral do Estado do Brasil, fez provisão de recursos financeiros aos Irmãos da Misericórdia de Santos, atendendo petição destes para a construção de novos prédios. Desta forma, os Irmãos puderam concluir, em 1665, a edificação do segundo imóvel e de sua igreja, em lugar que ficou conhecido como Campo da Misericórdia, posteriormente denominado Largo da Misericórdia, Largo da Coroação e, por último, Praça Visconde de Mauá, junto ao prédio da Prefeitura. Com o tempo, o segundo prédio do hospital foi se degradando e a Irmandade se preparou para nova mudança.
Em 1760, a Irmandade da Misericórdia terminou a construção de sua nova igreja junto ao Morro de São Jerônimo, atual Monte Serrat. Chamada inicialmente de igreja de São Jerônimo, foi mais tarde consagrada a São Francisco de Paula, que deu nome à Avenida São Francisco. No período de 1804 a 1830, a Irmandade utilizou o Hospital Militar, onde hoje situa-se a Alfândega, para tratar de trabalhadores do porto com doenças infecciosas.
Em 1835 o Provedor, Capitão Antonio Martins dos Santos, iniciou a construção do terceiro prédio próprio da Santa Casa da Misericórdia de Santos, no sopé do Morro de São Jerônimo, junto à sua igreja de São Francisco de Paula. O médico Cláudio Luiz da Costa, eleito Provedor, inaugurou o hospital em 4 de setembro de 1836.
Em 10 de março de 1928, a propriedade foi atingida por um deslizamento de terras ocorrido na face leste do Monte, que soterrou a parte posterior do hospital e algumas casas próximas. Assim, teve inicio a construção do presente complexo na esplanada do bairro do Jabaquara, longe dos morros para evitar novo desastre. Em 10 de abril de 1928, a Mesa Administrativa da Irmandade, representada pelo Dr. João Carvalhal Filho, na presença de representantes da comunidade, do Bispo Diocesano Dom José Maria Parreira Lara, e do Governador Dr. Júlio Prestes, lançou a pedra fundamental do prédio atual.
Em 2 de julho de 1945, com a presença do Presidente Getulio Dornelles Vargas, realizou-se a solenidade de abertura do estabelecimento que, com capacidade para 1400 leitos, avultava-se como um dos maiores e mais bem equipados da época, no Brasil.
Dessa forma, em 2 de julho de 2006 o edifício comemorou seus 61 anos de existência."

domingo, 15 de janeiro de 2012

Vende-se uma Pharmacia.

Recebi essa matéria pelo twitter e gostaria de compartilhar. Foi publicada na Revista de História da Biblioteca Nacional (disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/vende-se-uma-pharmacia ).
Não deixe de acessar o site....as fotos são lindas. Parabéns ao Felipe Sáles que assina a matéria.


Vende-se uma Pharmacia

Mais antiga do Brasil com rico acervo histórico, Pharmacia Popular está ameaçada de desabamento em meio a impasse entre o poder público e o proprietário, que tenta vende-la

Felipe Sáles


"O “PH” ainda mantido no nome é apenas um detalhe que remete a verdadeiras raridades da farmacologia. Entre os mais de 4 mil itens do acervo da Pharmacia Popular, a mais antiga do Brasil, estão desde ânforas de cristal francês, relógios do século passado (ainda em funcionamento!) e até rótulos pintados com pó de ouro. Preciosidades na mira do forro de madeira do teto, que ameaça desabar em meio a um impasse entre o poder público e o herdeiro do imóvel.

Inaugurada em 1830 no município de Bananal, no extremo leste de São Paulo, a Pharmacia Popular funcionou plenamente até 2010. Grande parte da conservação se deve ao zelo de Plínio Graça, que herdou o negócio do seu pai, em 1956. Sem incentivo, fez muitas dívidas tentando preservar o prédio – que em 1997, serviu até de locação para as gravações da minissérie “Dona Flor e seus dois maridos”, da Rede Globo. A última tentativa de manter o espaço foi transformá-lo em museu, há dois anos, cobrando entrada de R$ 3.

A um jornal local, meses antes de morrer, Plínio contou que “o movimento na drogaria era fraco, porém eram constantes as visitas para conhecer o acervo histórico. Para manter as características originais, abrimos mão da modernização e isso influenciou o movimento”. Plínio disse ainda que encaminhara à prefeitura e ao governo estadual diversos pedidos de ajuda para conservar e manter o acervo, mas nunca foi atendido.

Missão assumida agora por seu filho, Roberto Graça, depois da morte de Plínio em junho do ano passado. Devido ao abalo nas estruturas de madeira que mantêm o forro do teto, Roberto decidiu fechar o museu e retomar os pedidos de ajuda junto ao poder público. “Já procurei o Iphan, o Conselho Federal de Farmácia, o Conselho Estadual de Farmácia, e tantos outros órgãos. Recentemente, tive um encontro com o secretário estadual de Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo, mas não recebi nenhuma resposta”.

Dono rejeita tombamento

A Secretaria Estadual de Cultura explicou que, por se tratar de um imóvel particular, a recuperação e restauro são de responsabilidade de seus proprietários. Porém, em alguns casos especiais – como obras realizadas em São Luiz de Paraitinga –, “foram disponibilizadas verbas para a reconstrução do núcleo tombado”. A secretaria encaminhou o processo para a consultoria jurídica do órgão a fim de conseguir autorização para restaurar.

O imóvel é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). Recentemente, técnicos da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico (UPPH) estiveram no local e sugeriram tombar também o acervo, o que, segundo a secretaria, facilitaria o investimento de recursos públicos. A iniciativa, porém, foi negada por Roberto – que não poderia nem reformar nem vender o imóvel, ideia que agora vem pensando em pôr em prática.

“Se eu deixar tombarem o acervo, não vou poder tirar nada do local, nem vender, nem fazer mais nada. Meu desejo é vender tudo, do jeito como está – prédio e objetos – para alguém que tenha condições de cuidar. Já me ofereceram muito, mas muito dinheiro por alguns itens avulsos. Mas não quero fazer isso, pois meu pai dedicou sua vida a cuidar da Pharmacia com muito carinho. Sou restaurador, e sei que isso iria descaracterizar tudo. Mas ironicamente, e infelizmente, não tenho condições de manter meu próprio acervo”.

Pharmacia também era o ‘senadinho’ da cidade

Na entrada do local, o visitante pisa em raros ladrilhos franceses até o balcão em pinho-de-riga. A máquina registradora norte-americana ainda é do século passado. Há, ainda, diversos aparelhos de manipulação, balanças, móveis, armários e um busto de Hipócrates, pai da medicina.

Sem contar canecas de porcelana chinesa, usadas para medir líquidos, e vidros com tinturas, óleos e pós que serviam para fabricar artesanalmente os medicamentos. No século XIX, como não havia remédios industrializados, os boticários eram responsáveis pela produção. Como também não havia muitos médicos, eles acabavam sendo responsáveis por analisar pacientes, fazer as receitas e, no laboratório – que funcionava nos fundos da loja –, fabricar os medicamentos.

Ao notar essa carência na Bananal de 1830, o francês Tourin Domingos Mosnier foi obrigado a mudar seus planos. Ele chegou à cidade e logo comprou uma fazendo, disposto a se tornar um barão do café, mas acabou voltando às origens de boticário. Assim nascia a Pharmacia Imperial, da qual foi dono durante 30 anos.

Após sua morte, o coronel Valeriano José da Costa assumiu o negócio. Nunca imaginaria que aquele balcão de atendimento movimentaria a cena política da cidade: enquanto aguardavam a confecção dos medicamentos, os fregueses discutiam os rumos da política local sentados nos bancos de madeira próximos à porta de entrada. O espaço acabou sendo chamado de “senadinho”, como é conhecido até hoje.

Acontece que, em 15 de novembro de 1889, o “senadinho” voltou-se contra Valeriano. Nesse dia surgia a República Velha, e republicanos bananenses concluíram que a Pharmacia Imperial deveria mudar de nome – por bem ou por mal. O popular, então, foi incorporado para anunciar aqueles velhos novos tempos.

Depois disso, o “senadinho” foi definitivamente incluído na história política da cidade. Com a morte de Valeriano, em 1918, a Pharmacia passou para as mãos do coronel Graça, que a doou ao seu filho mais velho, Ernani Graça, recém-formado em ciências farmacêuticas. Ernani tornou-se duas vezes prefeito da cidade, na década de 30, e as história se repetiu: com sua morte, o filho Plínio Graça assumiu a Pharmacia e também foi prefeito duas vezes. Agora está nas mãos de Roberto – e do poder público, afinal – manter a herança não só de duas gerações da família Graça, mas de um patrimônio brasileiro."