Mostrando postagens com marcador Escola Sem Partido. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Escola Sem Partido. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Uma história sobre a "Escola sem Partido".

Extraído do Facebook. Este Blog desconhece o autor. Caso alguém saiba favor informar, para que possamos dar os devidos créditos.




- Bom dia, professor, aqui é Luíza, do Departamento de Desideologização de Material Didático da editora.
- Bom dia, Luíza. Em que posso ajudar?
- É sobre algumas modificações que precisamos que sejam feitas no seu livro.
- Mas eu sou professor de matemática, filha...
- Sim, mas tem uns problemas.
- Meu livro é para o ensino fundamental...
- Então. O seu caso é simples, o senhor vai ver.
- Fale...
- Logo no início, nos exercícios de adição. Tem o exercício 6 na página 23, "João não conseguia dormir então começou a contar os carneirinhos que, na sua imaginação, pulavam uma cerca".
- E qual o problema.
- O problema é que os carneirinhos pulando a cerca são uma crítica velada aos enclosements ingleses e uma referência à acumulação primitiva do capital. Propomos mudar para "franguinhos entrando no navio, que o pujante agronegócio brasileiro exporta para a Europa".
- Ninguém conta frangos para dormir.
- Justo, por causa da ideologia que sataniza o produtores rurais que põe comida na nossa mesa. Tem outro, mais para frente, na página 32, o exercício 7 diz que "Rita tinha 18 bananas e comeu 4". Bananas é uma referência ao Brasil como uma Banana Republic, não pode.
- Troca por laranjas.
- Aí seria uma crítica aos prestadores de serviço financeiros que ajudam os empresários a impedir que o governo tome seu dinheiro através dos impostos. Trocamos por abacaxis.
- Abacaxis? Ninguém come quatro abacaxis.
- Sim, também trocamos "comeu 4" por "vendeu 4 livremente realizando um justo lucro por seu esforço".
- As crianças de 8 anos vão entender isso?
- Vão entender se for explicado, se a ideologia deixar de ocultar delas como as relações comerciais fazem justiça a quem produz.
- Ah, tá. Mais alguma coisa?
- Tem mais umas coisinhas, eu mando por email. Mas o mais grave é a parte final do livro. Precisamos marcar uma reunião para rever os capítulos 7 e 8.
- Divisão?
- Isso. Divisão é um conceito marxista que não pode ser usado para doutrinar as criancinhas.
- Mas como as crianças vão aprender aritmética sem divisão?
- Nossos especialistas estão finalizando uma proposta. A ideia geral é mostrar que a divisão pode ser correta, desde que a operação reflita que, por exemplo, 100 reais divididos por 100 pessoas resulte em 99 reais para uma e o real restante dividido entre as outras 99.
- Mas isso acaba com a Matemática!
- Acaba com a Matemática Igualitária e Comunista que imperou até hoje, professor, e a substitui por uma matemática mais justa! Já temos até um projeto de lei para ser apresentado ao Congresso tornando obrigatório o ensino da Matemática Meritocrática!!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Frei Betto: Escola sem partido?



Publicado por Correido do Brasil  (http://www.correiodobrasil.com.br)

Uma das falácias da direita, no movimento Escola sem partido, é professar a ideologia de que ela não tem ideologia. E a de seus opositores deve ser rechaçada


Por Frei Betto – do Rio de Janeiro

Nada mais tendencioso do que o Movimento Escola Sem Partido. Basta dizer que um de seus propagadores é o ator de filmes pornô Alexandre Frota. O movimento acusa as escolas de abrir espaços a professores esquerdistas que doutrinam ideologicamente os alunos.
Uma das falácias da direita é professar a ideologia de que ela não tem ideologia. E a de seus opositores deve ser rechaçada. O que é ideologia? É o óculos que temos atrás dos olhos. Ao encarar a realidade, não vejo meus próprios óculos, mas são eles que me permitem enxergá-la. A ideologia é esse conjunto de ideias incutidas em nossa cabeça e que fundamentam nossos valores e motivam nossas atitudes.
Essas ideias não caem do céu. Derivam do contexto social e histórico no qual se vive. Esse contexto é forjado por tradições, valores familiares, princípios religiosos, meios de comunicação e cultura vigente.
Não há ninguém sem ideologia. Há quem se julgue como tal, assim como Eduardo Cunha se considera acima de qualquer suspeita. Como ninguém é juiz de si mesmo, até a minha avó de 102 anos tem ideologia. Basta perguntar-lhe o que acha da vida, da globalização, dos escravos, dos homossexuais etc. A resposta será a ideologia que rege sua visão de mundo.

Escola sem partido e sem rumo

A proposta da Escola Sem Partido é impedir que os professores eduquem seus alunos com consciência crítica. É trocar Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima, Paulo Freire, Darcy Ribeiro e Rubem Alves por Cesare Lombroso e Ugo Cerletto.
Ninguém defende uma escola partidária na qual, por exemplo, todos os professores comprovem ser simpatizantes ou filiados ao PT. Mesmo nessa hipótese haveria pluralidade, já que o PT é um saco de tendências ideológicas que reúne ardorosos defensores do agronegócio e esquerdistas que propõem a estatização de todas as instituições da sociedade.
Não faz sentido a escola se aliar a um partido político. Muito menos fingir que não existe disputa partidária, um dos pilares da democracia.
Em outubro, teremos eleições municipais. Deve a escola ignorá-las ou convidar representantes e candidatos de diferentes partidos para debater com os alunos? O que é mais educativo? Formar jovens alheios à política ou comprometidos com as lutas sociais por um mundo melhor?
Na verdade, muitos “sem partido” são partidários de ensinar que nascemos todos de Adão e Eva; homossexualidade é doença e pecado (e tem cura!); identidades de gênero é teoria promíscua; e o capitalismo é o melhor dos mundos.
Enfim, é a velha artimanha da direita: já que não convém mudar a realidade, pode-se acobertá-la com palavras. E que não se saiba que desigualdade social decorre da opressão sistêmica; a riqueza, do empobrecimento alheio; a homofobia, do machismo exacerbado; a leitura fundamentalista da Bíblia da miopia que lê o texto fora do contexto.
Recomenda-se aos professores de português e literatura da Escola Sem Partido omitirem que Adolfo Caminha publicou, em 1985, no Brasil, Bom crioulo, o primeiro romance gay da história da literatura ocidental; proibirem a leitura dos contos D. Benedita e Pílades e Orestes, de Machado de Assis; e evitar qualquer debate sobre os personagens de Dom Casmurro, pois alguns alunos podem deduzir que Bentinho estava mais apaixonado por Escobar do que por Capitu.
Frei Betto é escritor, autor do romance policial Hotel Brasil (Rocco), entre outros livros.

Fonte: http://www.correiodobrasil.com.br/frei-betto-escola-sem-partido/